
Os preços do Café registram fortes altas em agosto, recuperando as perdas observadas em julho e voltando aos níveis de meados de junho, segundo levantamentos do Cepea.
De acordo com o Centro de Pesquisas, o movimento de valorização está ligado, principalmente, à menor produção da safra 2025/26 e ao rendimento do beneficiamento abaixo do esperado. O Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6, bebida dura para melhor, posto em São Paulo, iniciou a semana cotado a R$ 1.972,55 por saca de 60 kg, acumulando alta de R$ 160,68 (8,9%) na parcial de agosto até o dia 18. As cotações do arábica, inclusive, voltaram a superar a marca de R$ 2 mil por saca.
No caso do robusta, o Indicador CEPEA/ESALQ do tipo 6, peneira 13 acima, a retirar no Espírito Santo, apresenta avanço ainda mais expressivo: alta de R$ 202,95 por saca (19,7%) no mês, chegando a R$ 1.231,40 no dia 18.
No Espírito Santo, a colheita de café conilon já foi concluída. A expectativa inicial de safra recorde, no entanto, acabou esbarrando em fatores climáticos adversos entre janeiro e junho, somadas à dificuldade crescente em encontrar mão de obra disponível.
O primeiro trimestre de 2025 foi marcado por preços históricos no mercado do café conilon, com a saca de 60 quilos ultrapassando a barreira dos R$ 2 mil. O cenário trouxe otimismo ao campo e incentivou a expansão das áreas plantadas. No entanto, a realidade mudou rapidamente: durante a colheita, a cotação recuou para a faixa de R$ 1.000 por saca. Atualmente, o preço está em R$ 1.424,45, segundo dados do Cepea, refletindo a produção da safra 2025/26 e o rendimento do beneficiamento abaixo do esperado.
Nas lavouras capixabas, o clima foi um desafio constante ao longo do ano. Em janeiro, as altas temperaturas combinadas a chuvas irregulares prejudicaram a formação dos grãos em algumas regiões. Já no período da colheita, entre junho e julho, o excesso de chuvas e as baixas temperaturas dificultaram o andamento dos trabalhos no campo.
“Esse ano tivemos um inverno mais longo e mais frio que o normal. Isso interferiu diretamente no processo de secagem, aumentando o tempo necessário e o consumo de combustível. Essa troca térmica atrapalha a busca pelo ponto ideal de secagem e pode prejudicar a qualidade do café”, avaliou o superintendente geral da Cooabriel, Carlos Augusto Pandolfi.
Outro desafio recorrente citado por Pandolfi é a escassez de mão de obra. Segundo ele, esse foi um dos anos mais difíceis nesse quesito. “A mão de obra está cada vez mais escassa, e a colheita manual exige muito. Muitos produtores estão investindo em automação, com máquinas e tecnologias que otimizam o trabalho no campo. Mas, ainda assim, a mão de obra humana continua essencial e com custo alto.”
Clima, genética e logística afetaram o rendimento
O engenheiro agrônomo da Cooabriel, Thales Fontes, reforça que a colheita foi afetada tanto pelo clima quanto por outros fatores. O calor excessivo em janeiro impactou diretamente a formação dos grãos, reduzindo o peso de parte da produção.
Ele destaca ainda o impacto das chuvas no mês de junho, que dificultaram o escoamento da produção e atrasaram a colheita, especialmente em áreas declivosas e entre pequenos produtores. O café colhido e deixado na lavoura por mais tempo sofreu fermentações indesejadas, comprometendo a qualidade da bebida.
“A umidade acumulada nos sacos de café favorece uma fermentação ruim, que afeta diretamente o sabor final. Produtores que não conseguiram levar o café rapidamente ao secador por conta das chuvas ou da falta de mão de obra enfrentaram essa perda de qualidade”, alerta o agrônomo.
Impacto da Safra e Perspectivas Futuras
Apesar desses desafios, Thales avalia que a safra foi positiva em termos de volume e qualidade geral, melhor que a do ano passado, que enfrentou forte seca. O período chuvoso de 2024 favoreceu a florada e a pegada dos frutos, contribuindo para uma safra mais volumosa.
O cenário de preços elevados no início do ano já estimulou a abertura de novas áreas de cultivo, o que pode impactar a produção nos próximos anos. Thales Fontes observa que produtores de outras culturas migraram para o café, atraídos pela valorização do grão.
“O café conilon chegou a preços inimagináveis. Isso motivou produtores a ampliar áreas e buscar mudas com urgência. Tivemos viveiros que esgotaram seus estoques de mudas ainda no início do ano”, conta.
Para os especialistas, o futuro da cafeicultura capixaba passa, necessariamente, por mais investimento em tecnologia, automação e planejamento logístico, principalmente se o setor quiser manter produtividade com qualidade diante das oscilações do clima e da mão de obra.