
Há 10 anos, oficina forma novas drag queens em Porto Alegre
Há 10 anos, uma oficina de vivência artística em Porto Alegre ajuda pessoas a experimentar a linguagem drag e a criar sua persona de palco. Durante três meses, o Pimp My Drag, coordenado pela drag queen Cassandra Calabouço, conduz encontros práticos e acolhedores abertos a maiores de 18 anos.
🔍 A drag queen é uma artista performática que cria uma persona feminina estilizada com maquiagem, roupas e adereços para entretenimento e expressão artística. A atividade é aberta a qualquer pessoa, sem recorte por identidade de gênero ou orientação sexual.
“A arte é plural”, diz a coordenadora, que resume: “Arte drag é para quem quer. É para quem tem corpo”.
📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp
O processo envolve referências do universo pop e vivências pessoais. Ao longo dos encontros, o grupo constrói um espaço seguro para enfrentar medos, sendo a timidez a que mais aparece. “A arte não é terapia, mas pode ser terapêutica”, afirma Cassandra.
LEIA TAMBÉM:
‘Sei o que é precisar de referência e não encontrar’, diz drag queen do RS com quase 3 milhões de seguidores
Chappell Roan: a ‘drag queen’ lésbica e festeira que é a nova queridinha da música pop
De RuPaul a Pabllo Vittar: as drag queens ganham o pop, a TV e as gírias
Drag queens: a história da arte por trás de homens vestidos de mulher
Mestrando no Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da UFRGS, Nilton Gaffrée Júnior, quem dá vida à Cassandra, investiga a “dragificação de corpos a partir da dança”, segundo ele, a montagem “de dentro para fora”.
“Quando a gente está montado, não é só botar a roupa: o corpo se move diferente. Tem uma intencionalidade e uma presença cênica diferenciada”, diz.
A drag queen Cassandra Calabouço tem 25 anos de história
Divulgação/Baile de Perucas
Como funciona a vivência 🎭
O trabalho propõe experimentar linguagem e presença cênica. O discurso pode aparecer em fala, dublagem ou lip-sync. A figura drag opera “quase como uma máscara”: outro corpo, outro nome e outro modo de se mover.
“É visível quando a pessoa encontra a sua pessoa; vem um brilho no olho”, descreve.
Os ensaios são sem figurino, “de tênis e roupa confortável”.
Durante a Mostra Urgente de Artes Cênicas O Futuro é Agora, na Zona Cultural, em Porto Alegre, Cassandra conduziu uma aula aberta de três horas. No evento o foco foi apenas o corpo: sem peruca, maquiagem ou salto alto. Participantes criaram nomes drag e gestos representativos.
Cláudia Machado, de 57 anos, concluiu o curso e apresentou a persona Monalisa Baubo no “Baile de Perucas — A Revolução é Drag”
Divulgação/Baile de Perucas
Nasce Monalisa Baubo 👠
Em 2024, Cláudia Machado, de 57 anos, concluiu o curso e apresentou a persona Monalisa Baubo no “Baile de Perucas — A Revolução é Drag”. Ela descreve o processo como “uma libertação” e define a persona como “lasciva e divertida”. Cassandra atuou como “mãe drag”, orientando maquiagem, figurino e performance, em ambiente de acolhimento.
Outra inspiração para Cláudia foi o espetáculo “Onde está Cassandra?”, com a bailarina Aline Karpinski.
“Eu não sabia que existiam mulheres que se montavam”, relata. “Drag queen não é personagem, é uma persona, uma extensão do que eu sou”, diz.
Cláudia cita motivações para manter Monalisa viva: diversão, expressão artística, desconstrução de estereótipos de gênero, valorização do corpo gordo, empoderamento feminino e exploração de diferentes facetas da identidade. “A arte drag queen é para todas as pessoas”, afirma.
Para Cassandra, idade não define facilidade. “Pessoas mais maduras costumam se preocupar menos com julgamentos e se soltam mais”, comenta.
Há 10 anos, oficina forma novas drag queens em Porto Alegre
Divulgação/Baile de Perucas
VÍDEOS: Tudo sobre o RS