Trump ameaça acesso de brasileiros a remédios, diz ONG

Trump ameaça acesso de brasileiros a remédios, diz ONG

Uma investigação comercial aberta pelos Estados Unidos contra o Brasil trouxe à tona uma disputa complexa que vai muito além de números e tarifas. O cerne do conflito está no acesso a medicamentos e na soberania de um país para definir suas próprias políticas de saúde pública.

O escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos, conhecido como USTR, iniciou um processo de apuração. O motivo são alegações de que o Brasil estaria implementando políticas que discriminam ou restringem ilegalmente o comércio americano. O foco principal recai sobre as regras de propriedade intelectual, especificamente no setor farmacêutico.

A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras se posicionou de maneira veemente contra a investigação. Para o MSF, a medida representa uma pressão direta das grandes empresas farmacêuticas multinacionais. O objetivo delas, segundo a organização, seria forçar o Brasil a adotar regras muito mais rígidas do que as exigidas por acordos internacionais.

O sistema de patentes sob análise

Um dos principais pontos de crítica do governo americano é o tempo que o Instituto Nacional da Propriedade Industrial leva para analisar e conceder patentes. Eles argumentam que a demora impacta negativamente o período de vigência da proteção patentária para as empresas.

O MSF rebate essa crítica, defendendo que a política brasileira é rigorosa e está em total conformidade com as obrigações internacionais. O Brasil possui um sistema de busca e exame substantivo. Isso significa que todos os pedidos de patente são minuciosamente examinados antes de serem aprovados, para garantir que cumpram todos os critérios legais.

Esse rigor é essencial para evitar a concessão de patentes de baixa qualidade. Patentes frágeis ou muito amplas restringem a concorrência e limitam o acesso da população a tecnologias e medicamentos essenciais. Um exame detalhado é uma ferramenta de saúde pública.

A questão dos genéricos e a acusação de falsificação

Outra frente de batalha é a acusação de que o Brasil seria leniente com a entrada de produtos falsificados no seu mercado. Essa narrativa preocupa profundamente os defensores do acesso a medicamentos.

O MSF alerta que regras antifalsificação excessivamente amplas e vagas são perigosas. Elas aumentam o risco de que medicamentos genéricos perfeitamente legítimos sejam apreendidos indevidamente por autoridades alfandegárias. Esse tipo de incidente pode causar atrasos catastróficos para pessoas que dependem de remédios que salvam vidas.

Além dos atrasos, a detenção e a potencial destruição de medicamentos erroneamente classificados como falsificados criam um efeito inibidor. Quem comercializa genéricos pode passar a enxergar o Brasil como um mercado de risco, o que reduz a oferta e pode elevar os preços. A pressão dos EUA, portanto, ameaça diretamente a política brasileira de genéricos, um programa de sucesso que garantiu acesso a medicamentos mais baratos para milhões.

A polêmica sobre os dados de testes

Os Estados Unidos também criticam uma suposta falta de proteção no Brasil contra a exploração comercial desleal e a divulgação não autorizada de dados de testes ou informações confidenciais submetidas para registro de novos produtos.

Novamente, o MSF esclarece que a lei brasileira já adota medidas adequadas contra o uso e a divulgação indevidos desses dados. A entidade aponta que o que a lei não contempla é a chamada exclusividade de dados, uma exigência histórica do USTR que vai muito além do que é requerido por acordos internacionais.

A exclusividade de dados é um mecanismo que impede que empresas genéricas utilizem informações de testes já realizados para registrar versões mais acessíveis de um medicamento, mesmo quando a patente original já expirou. Isso cria um novo monopólio artificial, aumenta significativamente os custos de desenvolvimento dos genéricos e, consequentemente, mantém os preços altos por mais tempo.

O papel do Brasil na saúde global

O MSF destacou na sua carta que, nas últimas décadas, o Brasil assumiu um papel de liderança em fóruns internacionais de saúde. O país foi um dos grandes impulsionadores da Declaração de Doha em 2001, um marco que reafirmou o direito dos países de priorizar a saúde pública em detrimento de interesses comerciais rigidíssimos.

Essa declaração foi um avanço crucial, pois deixou claro que os acordos de propriedade intelectual devem ser interpretados de forma a apoiar o acesso a medicamentos para todos. A investigação atual do USTR é vista como uma tentativa de minar essa liderança e forçar o Brasil a recuar em suas políticas.

A pressão comercial americana não se limita ao Brasil. Países como Índia, China, Malásia e Chile também estão no alvo por manterem sistemas que equilibram a proteção intelectual com as necessidades de sua população. O resultado dessas disputas terá um impacto profundo na capacidade de nações em desenvolvimento fornecerem cuidados em saúde acessíveis e salvadores. O desfecho definirá se o comércio internacional vai priorizar lucros ou pessoas.

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