Escola no Benin resgata língua ancestral em sala de aula para combater herança colonial

Em uma pequena escola na comuna de Kloukname, no sudoeste do Benin, próximo à fronteira com o Togo, a rotina é marcada por uma celebração singular: o ensino da língua adja, do povo Aja. Esta edição do Bem Viver, programa do Brasil de Fato, traz o centro de ensino Saint Salomon, criado em 2014, que é uma exceção em um país onde o francês, herança colonial, é a língua oficial e pré-requisito para universidades e empregos, mas que é dominada por apenas 35% da população.

O Benin possui mais de 70 idiomas nacionais, uma diversidade que permanece à margem do sistema educacional formal. Nesse contexto, a iniciativa da Saint Salomon surge como um ato de resistência. “A língua é a cultura. Não se pode ser tradicional numa língua destruída. Tudo o que fazemos, fazemos na nossa língua e é assim que se faz”, afirma o estudante Ninivi, resumindo a missão do projeto.

A estudante Kohoke destaca a importância prática de aprender a língua materna: “É melhor falar a língua materna do que falar uma língua que não nos pertence”. Ela aponta um problema comum: “Se você estiver em um lugar com pessoas falando sua língua materna e não entender, isso é uma chatice. Porque nas nossas escolas, aprendemos apenas francês, só francês”.

O peso da história

A luta pela preservação do adja está intimamente ligada à história colonial. O povo Aja é considerado a cultura mãe do antigo Reino do Daomé, um poderoso estado da África Ocidental que existiu de 1600 até 1894, quando foi invadido e transformado em colônia pela França. A expansão colonial francesa na região foi acompanhada por uma política agressiva de apagamento das identidades locais, um legado que perdura.

Davito Roger, diretor da escola, não mede palavras ao criticar essa herança. “Hoje, há certos lares em que nossos irmãos falam francês, apenas francês, com seus filhos em casa. É como se só falando francês somos importantes. Quando não falamos francês, somos pequenos. É uma herança da colonização que muitos não compreenderam e mergulham de cabeça nela.”

Método bilíngue

Falado por cerca de 1,3 milhão de pessoas na África Ocidental, o adja pertence ao grupo de línguas Gbe, assim como o ewe e o fon. Na Saint Salomon, que atende 85 crianças entre 6 e 13 anos, o professor Alain Mathias emprega um modelo bilíngue, usando brincadeiras e dividindo o conteúdo do quadro entre francês e adja.

“Depois da quinta série, as crianças precisam ir para o colégio, onde se fala francês somente. Então, aqui, eu misturo as duas línguas para permitir que as crianças entendam o que realmente está acontecendo”, explica o professor. Seu método é prático: “Se uma criança fala ‘bonjour’ (bom dia em francês), eu faço o gesto com a mão e me expresso em adja para cumprimentá-la. E as coisas que mostro no quadro também traduzo automaticamente”.

Além do ensino, a escola desempenha um crucial trabalho de alfabetização na língua materna para crianças que não tiveram a oportunidade de aprendê-la em casa. “Você pode falar em casa com seus pais se tiver essa sorte. Mas se não ficou na casa dos seus pais, falar a língua materna é um pouco difícil”, relata Kohoke.

Um apelo por mudança

O diretor Davito Roger faz um apelo por uma mudança radical na política educacional do governo do presidente Patrice Talon, exigindo a inclusão do ensino das línguas maternas nas escolas primárias de todo o país.

“É uma forma de dominação. Eles sabem muito bem que a língua é indispensável. Os países que se desenvolveram, desenvolveram-se na sua língua. Portanto, se alguém não consegue falar a sua língua, está perdido”, argumenta Roger. “Se o Estado quisesse dar o bom exemplo, deveria começar por nos ajudar aqui, seguir o nosso exemplo e multiplicá-lo pelo país. Eles sabem disso, mas não querem.”

Enquanto o debate nacional segue, a pequena escola Saint Salomon continua sua missão, um passo de cada vez, garantindo que a língua e a cultura do povo Aja continuem vivas na voz e no futuro de suas crianças.

E tem mais…

O Programa Bem Viver traz também o Festival Povos Originários em Porto Alegre (RS), no qual a ancestralidade indígena se encontra com a energia da juventude por meio de cantos, ritmos e muita luta.

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Quando e onde assistir?

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Na TV Brasil (EBC), sexta-feira às 6h30.

Na TVE Bahia: sábado às 12h30, com reprise quinta-feira às 7h30, no canal 30 (7.1 no aparelho) do sinal digital. 

Na TVCom Maceió: sábado às 10h30, com reprise domingo às 10h, no canal 12 da NET. 

Na TV Floripa: sábado às 13h30, reprises ao longo da programação, no canal 12 da NET. 

Na TVU Recife: sábados às 12h30, com reprise terça-feira às 21h, no canal 40 UHF digital. 

Na UnBTV: sextas-feiras às 10h30 e 16h30, em Brasília no Canal 15 da NET. 

TV UFMA Maranhão: quinta-feira às 10h40, no canal aberto 16.1, Sky 316, TVN 16 e Claro 17. 

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No rádio, o programa Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 7h às 8h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil de Fato. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo. Além de ser transmitido pela Rádio Agência Brasil de Fato.

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