
Na fila da comida, quem vive nas ruas do Rio conta histórias e sonha com recomeços
Na fila para conseguir comida nas ruas do Rio, uma população em situação de rua que só cresce no município esconde histórias trágicas e sonhos de recomeço, em meio à luta de viver sem ter um teto.
O RJ2 conversou com cidadãos que tentam ter uma vida com trabalho e um lugar para dormir.
É o caso de Fávio Silva da Cuz, de 47 anos, perdeu uma chance quando conseguiu emprego num restaurante, mas faltava endereço fixo.
“Acabei perdendo um emprego porque não tinha um lugar pra poder passar a noite. Minha vontade é de voltar ao trabalho e ficar na beira do fogão de novo. Choro todo dia por causa disso. Quero só uma oportunidade, mais nada.”
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Josué Cunha da Silva, 33 anos, que mora há 3 nas ruas do Rio, definiu o que mais falta para conseguir deixar as ruas do Centro da cidade.
“O que falta é uma atenção maior desses órgãos governamentais, oportunidade de trabalho, cursos”, disse Josué, que já trabalhou como barbeiro bilíngue e, em inglês, mostrou otimismo para voltar a um emprego em uma barbearia e ainda acrescentou que fala espanhol: “Yes, i will came back to work with the barb shop, I speak two languages, english and spanish”.
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‘Sonho sempre vem para quem sonhar’
Sabrina sonha com uma carreira de artista
Reprodução/TV Globo
Os talentos se revelam. A drag queen Sabrina, nome artístico de Rodrigo, saiu do Paraná há um ano. Atualmente, quer ser vista como artista.
“Eu quero muito fazer novela, fazer teatro, cantar, dançar, eu escrevo também, poesia, música. Sonho sempre vem para quem sonhar”, diz ela.
Atualmente, ela dorme na casa mantida pela Ordem Franciscana da Igreja Católica.
Moradores de rua fazem fila para receber comida no centro do Rio
Samuel, que também estava na mesma fila de comida, tira um caderno amassado e rasgado do bolso e começa a ler em inglês.
“Esse caderninho é meu diário, fragmento da minha vida, são pensamentos que eu tenho. Aqui está escrito: Tem pessoas que vão tentar fazer você cair, mas seja forte e corajoso”, contou ele, que sonha em voltar a construir uma família e ser um cidadão comum enquanto dorme em um pedaço de papelão, debaixo de uma marquise no centro do Rio.
Dados da população de rua
Segundo o último censo de 2022, feito pela prefeitura, são 7,8 mil vivendo nas ruas do Rio. No entanto, um levantamento feito em todas as capitais do Brasil, feito pela UFMG, registrou quase o triplo disso: mais de 22,5 mil.
As 35 unidades de atendimento do Rio, por outro lado, têm apenas 3 mil vagas. Esse foi um dos motivos para o Ministério Público Federal propor uma ação Civil pública contra o município.
Claudio santos, coordenador do Fórum da Defesa dos Direitos da População em Situação de Rua , reforçou que a prefeitura precisa criar um comitê de órgãos do governo e da sociedade civil para monitorar as políticas públicas. A previsão é de uma lei municipal de 2018, que não saiu do papel.
“Uma das nossas reivindicações tem sido a constituição do comitê intersetorial de acompanhamento da política municipal para a população em situação de rua, que é uma lei municipal, lei 6.350 de 2018 que instituiu esse comitê para que acompanhasse as políticas municipais, mas ouvindo essa população, fazendo com que a população em situação de rua dialogue com o poder público.”
Pessoas em situação de rua tenta se proteger do frio em noite gelada no Rio
Stephanie Rodrigues/g1