Cidade de SC abriga cratera rara formada por queda de asteroide há mais de 80 milhões de anos


Cratera fica no município de Vargeão; a zona urbana da pequena cidade está na borda da formação geológica.
Vargeão, pequena cidade de 3,6 mil moradores no Oeste de Santa Catarina, está em cima de cratera rara e histórica formada pelo impacto de um asteroide que caiu na região há mais de 80 milhões de anos. Com 12 quilômetros de diâmetro, a formação geológica revela o passado da região no período em que os dinossauros ainda habitavam o planeta.
☄️ Pesquisador do tema e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Álvaro Penteado Crósta explica que a rocha espacial tinha 550 metros de diâmetro quando atingiu o solo da cidade. Segundo ele, o impacto foi o equivalente a 500 mil bombas nucleares como a que devastou Hiroshima.
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🔎 A queda da gigantesca rocha foi comprovada após estudos que começaram há 47 anos. As análises ao longo do tempo foram publicadas em artigos e colocaram o “O Domo de Vargeão” – como a cratera é chamada – na lista da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (Sigep), órgão vinculado ao Governo Federal.
Crósta é um dos geólogos que analisaram o local nos últimos anos. Para ele, a pesquisa na região é de extrema importância, já que no Brasil são conhecidas apenas nove crateras de impacto, todas estudadas pelo grupo da Unicamp.
“Crateras são raras aqui na Terra. Elas existem, na Lua, em Marte, mas aqui elas não sobreviveram aos processos geológicos, à erosão, sedimentação, movimento das placas tectônicas. As cerca de 200 que existem são sítios de interesse geológico que representam um pedacinho da evolução da história do nosso planeta”, defende o professor.
Cachoeiras, um mirante e o Areal, uma formação de argila que aflorou com o choque do asteroide, fazem parte do cenário da região
Prefeitura/Reprodução
📍Como é a cidade
Conhecida no estado como a “cidade do meteoro”, Vargeão está no Alto Vale do Rio Irani, na região Oeste de Santa Catarina. Com uma área de 166,685 km², a economia da cidade é baseada na agricultura, pecuária, comércio e indústria.
Localizado a cerca de 71 km de Chapecó e 482 km de Florianópolis, Vargeão é um destino de interesse científico global. O município abriga um museu com coleção de rochas e pesquisas sobre a cratera, além de pontos de turismo de natureza. Em 3 de julho, a região recebeu os geólogos italianos Gabrielle Giulli e Valeria de Santis, que vieram estudar crateras de impacto e rochas semelhantes às encontradas na Lua.
“Sua relevância geológica atrai olhares de todo o mundo, especialmente por suas formações rochosas que se assemelham àquelas coletadas nas missões lunares da NASA. Esse paralelo desperta o interesse direto de cientistas que buscam compreender a origem e composição de materiais extraterrestres”, detalha a prefeitura.
A cratera histórica está localizada no interior da cidade, onde os visitantes conseguem encontrar as bordas da formação geológica. No centro do Domo, é possível encontrar o Areal, uma superfície de argila e areia que foi trazida à superfície após o impacto do asteroide, revelando camadas que estavam a mais de 700 metros de profundidade.
🏗️ 🧐 Na região há ainda um mirante que está em fase de reforma para oferecer uma experiência melhor aos turistas que visitam a cratera.
Cratera de Vargeão
Ben Ami Scopinho/Arte NSC
Informações sobre a cratera:
➡️ Queda ocorreu entre 80 e 100 milhões de anos;
➡️ Asteroide tinha cerca de 550 metros de diâmetro;
➡️ Cerca de 12 quilômetros de diâmetro e a um desnível de até 150 metros (veja no mapa abaixo);
➡️ Mapeada pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (Sigep);
Geólogo Álvaro Penteado Crósta e pesquisadores italianos em visita à cidade para estudos sobre o Domo do Vargeão
Prefeitura de Vargão/Divulgação
O que existia na região?
🦖 🌋 Crósta explica que o impacto do asteroide ocorreu no período histórico chamado de Cretáceo, entre 66 e 145 milhões de anos atrás, quando dinossauros e grandes répteis habitavam a Terra. Nessa época, porém, Vargeão era deserta.
“Não temos a idade precisa, mas estimo em cerca de 80 a 100 milhões de anos atrás. E o local onde ele [asteroide] caiu, havia derrame de lavas vulcânicas, que formam a rocha onde a cratera se formou em um ambiente desértico de dunas de areia”, explica.
Fotos mostram cidade com cratera rara formada há milhões de anos
🤔 Para saber
➡️ O termo “Domo” é usado na geologia para descrever estruturas circulares na crosta terrestre. O nome ‘Domo de Vargeão’ foi dado à estrutura antes de sua origem por impacto ser descoberta e acabou sendo mantido.
➡️ Segundo a prefeitura, os 12 quilômetros da cratera fazem parte do município de Vargeão. O centro da cidade, onde há mais moradores, está localizado na borda da cratera.
🌎 Domo de Vargeão
A primeira vez em que os pesquisadores identificaram que a cratera no solo poderia ser consequência de um corpo celeste foi em 1978, quando análises do solo foram feitas por radares. Foi nessa época que o local foi denominado “Domo de Vargeão”. Na década de 80, pesquisadores notaram formações e brechas nas rochas compatíveis com os de impacto de corpos celestes.
Em 1900, o professor Álvaro Penteado Crósta, da Unicamp, voltou-se ao astroblema, que é o nome dado às que se foram pelo impacto do corpo celeste. Desde então, visita à cidade levando pesquisadores de todo o mundo para conhecer e região e popularizar a história.
“O que nos indica que ali ocorreu o impacto é a transformação nas rochas do local. É uma rocha vulcânica chamada basalto. Embaixo dela tem outra rocha sedimentar que são arenitos e todas elas têm deformações de alta pressão e temperatura, que são característica dos processos de impacto”, detalha o professor ao g1.
Crósta explica que a maioria das deformações são microscópicas, devido ao tempo. No entanto, Vargeão possui locais em que os especialistas conseguem observar a olho nu (imagem mais acima). Segundo ele, essas deformações acontecem em crateras de impacto no mundo todo.

Arte/g1
Pedra revela passado geológico de cratera rara no Oeste de Santa Catarina
Prefeitura de Vargeão/Divulgação
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