
O setor de rochas ornamentais exportou, em 2024, cerca de 1,04 bilhões de dólares para mais de 80 países, dos quais 672 milhões para os Estados Unidos. Isso significa que o setor como um todo estaria potencialmente exposto para aquele mercado em 65%. Porém, especificamente para pedras processadas – pedras de cantaria na denominação oficial – essa exposição sobe para 77%. Ou seja, do total 868 milhões exportados pelo Espírito Santo, 671 milhões foram destinados àquele país. Confira a análise do diretor econômico da Futura, Orlando Caliman.
* Por Orlando Caliman
Como já expus em artigos anteriores, o setor de rochas ornamentais é considerado o mais completo, denso em capilaridade territorial e econômica, competitivo, complexo e internacionalizado dos clusters econômicos genuinamente capixabas. Esses atributos que lhe propiciam força e destaque – no entanto, o colocam frágil diante de uma situação de exposição a um único mercado.
Num ensaio de estimativa do que representa o setor para a economia capixaba vamos ver que este faturou, em grandes números, e diretamente algo em torno de 12 bilhões de reais entre mercado interno e externo, em 2024. Aproximadamente 6,2 bilhões referentes ao mercado interno e 5,8 bilhões ao mercado externo.
Mais que isso, para termos uma ideia mais clara da importância do setor temos que avaliar seus impactos para além da porteira, isto é, para além da sua produção em si, que acontecem em encadeamentos de efeitos para trás e para frente. Denominamos esses efeitos de multiplicadores a partir da demanda final.
Nesse trabalho recorro à matriz de insumo-produto do IJSN e cálculos desses multiplicadores pelo próprio instituto. No caso do setor de rochas, o multiplicador, que agrega os efeitos para trás e para a frente, no chamado modelo fechada, incluindo o efeito endógeno da renda, é estimado em 1,93
Classificado como setor chave em termos de poder de impactos, isso significa que para cada R$1,00 de demanda final do setor, gera-se outros R$ 1,93 em produção de outros setores. Teríamos assim um impacto adicional total de R$ 23,00 bilhões.
Esses números, mesmo que aproximados e não tão precisos, nos dão a dimensão do que poderia acontecer à economia capixaba caso o tarifaço de Trump de fato entrasse em vigor. Em resumo, subtrações de valores exportados – demanda final – provocariam reduções de produção do setor, e em cascata reduziriam – efeitos em cadeias – emprego, a renda, o PIB e a arrecadação de tributos.
Segundo informações mais recentes divulgadas pela Associação Brasileira de Rochas Naturais impactos negativos já estão sendo sentidos. Cerca de 1.200 containers já em ponto de embarque para os EUA foram suspensos. O equivalente a algo no torno de 42 milhões de dólares.
O desafio pela frente, sem dúvida, torna-se enorme. Mas, vale acreditar que se encontrarão saídas de curto prazo. Que são as mais urgentes. Fica, porém, o alerta para o longo prazo, que deve incluir necessariamente buscas por outros mercados para o setor.
*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência