
Fiéis em Juazeiro do Norte celebram Padre Cícero na data que marca 91 anos da morte do sacerdote.
Kid Júnior/Sistema Verdes Mares
Há 91 anos, o Cariri cearense perdia Padre Cícero Romão Batista, um dos maiores nomes da devoção popular no Brasil. Quase um século depois, a fé dos romeiros segue viva em Juazeiro do Norte, uma das cidades mais católicas do país.
E essa devoção, passada de geração em geração, é vista pelas ruas da cidade em vários períodos do ano. Mas principalmente em épocas como essa, em que os romeiros recordam o falecimento de Padre Cícero. Milhares de pessoas visitam o túmulo do Servo de Deus.
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Erlon Marcos Silva, de 29 anos, é um desses fiéis. Ele veio com um grupo de trinta e oito romeiros de Itaíba, no Pernambuco, e de Ouro Branco, em Alagoas. Foram quase 500 quilômetros a pé até Juazeiro do Norte.
A fé em Padre Cícero não o deixou desistir. Inclusive, Erlon comemorou o aniversário durante o percurso, no dia 11 de julho. Eles saíram no dia 5 de julho e chegaram ao destino na quinta-feira (17).
“O cansaço é inevitável! Mas a fé é o pivô central para conseguir chegar até aqui. Em alguns momentos de sofrimento, com dores e exaustão, nos fortalecemos na fé em Deus e no servo de Deus, o Padre Cícero. E seguimos sempre em frente”, relata o servidor público.
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Fé dos avós para o neto
Fernando Silva, de 19 anos, conta que herdou a fé em Padre Cícero dos avós.
Darlene Barbosa/Sistema Verdes Mares
A romaria de 91 anos de falecimento do Servo de Deus Padre Cícero termina neste domingo (20) com missas durante todo o dia na Capela do Socorro e na Basílica de Nossa Senhora das Dores.
Esta última, o estudante Fernando da Silva, de 19 anos, visitou pela primeira vez em romaria. Alagoano, mas morador de São Paulo, ele conta sobre como herdou dos avós a devoção por Padre Cícero.
“Meus avós ouviam os conselhos do padre. Ele era praticamente um santo em vida. Aí vai passando de pai para filho. É muito interessante estar aqui neste momento de romaria. A magnitude do local, eu nunca imaginei que o povo tivesse tanta fé. Com certeza, vai ser a primeira vez de muitas que eu vou vir. Muito prazeroso conhecer a história do padre e as pessoas daqui são muito acolhedoras. Já visitei o Horto, a estátua, é muita emoção, são pessoas de muita fé. Vou voltar com a fé renovada”.
Fiéis seguem em romaria a Juazeiro do Norte pelos 91 anos da morte de Padre Cícero.
Para o padre Cícero José, reitor da Basílica de Nossa Senhora das Dores, a igreja percebe essa aproximação do público jovem com Padre Cícero.
“É perceptível que o próprio fluxo de romeiros vem aumentando. Hoje a gente vive um fluxo de romaria permanente. E entre esses romeiros, a presença das crianças, dos jovens. Ou seja, aquilo que é de Deus permanece. Aqueles que acompanharam seus pais, seus avós permanecem. Existe um jeito diferente do jovem de hoje expressar a fé. Ele não vem somente para a celebração da santa missa, mas visita outros lugares. O jovem tem seu jeito próprio de viver, assume a missão e já se torna responsável pelas caravanas de romeiros das suas cidades de origem”, diz o sacerdote.
Grupo Tropeiros da Fé seguiram a cavalo da cidade de Iati, em Pernambuco, até Juazeiro do Norte, no Ceará, em devoção a Padre Cícero.
Arquivo pessoal
Outro devoto de Padre Cícero, o técnico agrícola Tiago Camilo, tem 37 anos. Ele veio a cavalo com o grupo chamado Tropeiros da Fé, da cidade de Iati, num trajeto de quase 500 quilômetros de Pernambuco até Juazeiro do Norte.
“Eu desde criança ouvia meus avós falarem sobre o Padre Cícero, sobre as promessas de vir até aqui. E aí surgiu a curiosidade de vir a Juazeiro e a oportunidade de vir a cavalo, que é uma paixão minha também. Uniu a paixão pelo cavalo e a nossa fé. Padre Cícero mobilizou a gente até aqui. Viemos agradecer por tudo, pela nossa viagem, pela proteção dos nossos animais”.
Mudança no perfil dos romeiros
A professora Águida Mendes conta que é devota de Padre Cícero desde criança.
Darlene Barbosa/Sistema Verdes Mares
De acordo com o historiador Roberto Júnior, há uma mudança no perfil de romeiros que visitam Juazeiro do Norte.
“Nós temos novas correntes católicas, novas formas de abordagem. Uma parte da juventude se aproximando do catolicismo, embora seja um catolicismo mais romanizado, mas isso faz com que eles se aproximem da igreja e de figuras como o Padre Cícero. E que assim, eles busquem a cidade de Juazeiro do Norte”.
Também romeira, a professora Águida Mendes, de 27 anos, se emociona toda vez que fala sobre a fé em Padre Cícero. Devota desde criança, as visitas a Juazeiro do Norte são corriqueiras. Mas, dessa vez, com a fase diocesana do processo de beatificação finalizado e enviado a Roma, a alegria de saber que Padre Cícero pode se tornar santo em breve, traz um conforto a mais ao coração da devota.
“Isso deixa nosso coração quentinho. Desde muito cedo a gente conhece a história dele. Vai ser mais um santo do Nordeste. É muita emoção, muita gratidão poder estar aqui em mais romaria. Dizem que você só vem a Juazeiro se você for chamado por Padre Cícero. Recebemos mais um chamado e viemos agradecer pela família, pelas bençãos. Só temos mais agradecer, do que a pedir. Somos muito católicos.”
O escritor Gylmar Chaves lançou o livro “Padre Cícero criança”.
Arquivo pessoal
Para o escritor e pesquisador cearense Gylmar Chaves, que está lançando o livro “Padre Cícero Criança”, durante a romaria, a aproximação dos jovens com a religiosidade é muito importante.
“Acho que toda devoção deve começar desde criança, desde a barriga. E a história do Padre Cícero é muita chamativa, nos revela sobre espiritualidade, religiosidade. É sobre um santo que nasce no Nordeste e transmite esperança para os devotos. Eu pesquisei a historiografia da época e construí essa narrativa para crianças. Traz o despertar do Padre Cícero para se tornar religioso. A vida dele toda foi uma provação”, diz Gylmar Chaves.
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