Como a Finlândia transformou a crise climática em oportunidade de liderança global

Bandeira da Finlândia
Foto: Canva

*Artigo escrito por Eliomar Bufon Lube, advogado empresarial, especialista em operações de M&A e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de ESG do Ibef-ES.

A Finlândia deu um passo ousado ao assumir, ainda em 2019, o compromisso de se tornar um país carbono neutro até 2035. A decisão não surgiu por acaso. Ela foi motivada por uma combinação de fatores climáticos, econômicos, políticos e sociais.

Como nação nórdica altamente dependente de seus ecossistemas naturais e fortemente afetada pelas mudanças climáticas — com invernos mais curtos, degelo acelerado e riscos à biodiversidade — o país reconheceu a urgência de agir.

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Além da responsabilidade ambiental, pesou também a oportunidade de reposicionar sua economia.

Ao adotar uma transição verde ambiciosa, a Finlândia visa liderar tecnologicamente no setor de energias limpas, criar empregos de alto valor agregado e reduzir sua dependência energética, especialmente de combustíveis fósseis russos, questão intensificada pela guerra na Ucrânia.

Inovação e regulação

A estratégia finlandesa para alcançar a neutralidade climática combina inovação e regulação.

O plano nacional inclui a eletrificação de setores intensivos em carbono, como transporte e indústria, e a ampliação do uso de fontes renováveis, com destaque para energia eólica offshore, geotermia e reaproveitamento de calor.

O país também prevê que, até 2030, sua capacidade de eletrólise de hidrogênio atinja 1.000 MW, favorecendo o uso de hidrogênio verde e eletrocombustíveis na matriz energética nacional (Carbon neutral Finland 2035 – national climate and energy strategy, publicada pelo Ministério de Assuntos Econômicos e Emprego da Finlândia).

Outra frente essencial é o fortalecimento dos sumidouros naturais de carbono. A Finlândia quer aumentar a capacidade líquida de remoção de CO₂ em pelo menos 3 Mt até 2035, por meio de reflorestamento, manejo florestal sustentável e recuperação de áreas degradadas.

O plano ainda incentiva a substituição de sistemas de aquecimento baseados na queima de combustíveis fósseis por tecnologias limpas e descentralizadas.

Política climática

A política climática finlandesa também se destaca pela preocupação com a justiça social e territorial. A transição energética deve ser inclusiva e equilibrada, com incentivos para comunidades locais, capacitação profissional e apoio a empresas na adoção de tecnologias limpas.

A promoção da inovação é outro pilar: o país investe em pesquisa aplicada e visa ampliar sua “pegada de carbono positiva” (carbon handprint), exportando soluções sustentáveis para outros mercados.

Com metas mensuráveis, governança interministerial e diálogo com a sociedade civil, a Finlândia não apenas antecipa compromissos internacionais, como os do Acordo de Paris e do Pacto Ecológico Europeu, mas também mostra que políticas ambientais bem estruturadas podem ser alavancas de competitividade e prosperidade.

O plano rumo à neutralidade em 2035 não é apenas ambiental: é uma visão estratégica de futuro.

Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.

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