O time de economistas da Allianz Research, divisão de pesquisa macroeconômica da Allianz Trade, publicou estudo nesta quinta-feira, 07, no qual revela que o Brasil e as economias emergentes enfrentarão uma necessidade de investimento substancial em infraestrutura na próxima década, ao mesmo tempo em que a alocação de capital privado para o setor tem crescido exponencialmente.
O estudo 3.5% to 2035: Bridging the global infrastructure gap (3,5% até 2035: Preenchendo a lacuna global de infraestrutura) estima que a economia global precisará investir anualmente cerca de 3,5% do PIB (US$ 4,2 trilhões) até 2035 para modernizar a infraestrutura social, de transporte, energia e digital, impulsionada por megatendências como urbanização, interrupções na cadeia de suprimentos e digitalização via Inteligência Artificial.
Cenário brasileiro
Segundo Luca Moneta, Economista Sênior para Mercados Emergentes da Allianz Trade e um dos autores do relatório, o setor de construção civil do Brasil deve crescer +2,5% em 2025, com o ritmo se acelerando para um crescimento anual de +4% de 2026 a 2029, impulsionado pela crescente demanda em energia, logística e habitação.
Mesmo assim, os autores apontam que o Brasil se destaca com uma das maiores lacunas de investimento em infraestrutura, representando 2,1% do PIB de 2020, um valor significativamente acima da média global de 0,6%, o que corrobora a necessidade de um investimento significativo, alinhado com outras grandes economias emergentes como a África do Sul e o México. A América Latina, como um todo, exemplifica a dinâmica de uma região com necessidades distintas de infraestrutura impulsionadas pela reorientação, “friendshoring” e diversificação comercial, mas que precisa navegar por níveis de risco elevados.
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A fragilidade financeira no setor privado também está emergindo como uma preocupação sistêmica, o que reduz o crescimento do emprego no setor, apesar de as taxas de utilização da capacidade de produção já estarem acima das médias históricas (veja a figura abaixo).
Figura 1: Indicadores de ciclo no setor de infraestrutura no Brasil (>50 em ascensão, <50 em queda)

“Com as condições financeiras previstas para se estabilizarem moderadamente até o final do ano e as medidas de consolidação fiscal visando a redução de gastos discricionários, a capacidade do Brasil de sustentar seu ímpeto em infraestrutura dependerá cada vez mais da mobilização de capital privado. As bases estão prontas, mas manter o ritmo exigirá clareza regulatória contínua, mecanismos de compartilhamento de risco e disciplina na execução dos projetos”, afirma Moneta.
América Latina
O relatório também mostra que o investimento anual necessário para a América Latina e o Caribe (LAC) atingir as Metas de Desenvolvimento Sustentável até 2030 seria de aproximadamente US$ 2,2 trilhões, o que representa 3,1% do PIB anualmente para a região.
“A América Latina está em um momento crucial, com um potencial de crescimento significativo impulsionado pela infraestrutura, mas também com profundas restrições fiscais e políticas que são difíceis de superar”, afirma Luca Moneta. Ele acrescenta que “a necessidade de investimento é substancial, e embora os governos na região apresentem taxas de investimento público mais baixas, de cerca de 2,1% do PIB, o capital privado está emergindo como a espinha dorsal para preencher essa lacuna”.
Investimento privado
O relatório destaca justamente que o capital privado tem se tornado fundamental para o avanço do financiamento de infraestrutura, com ativos sob gestão não listados saltando de menos de US$ 25 bilhões em 2005 para mais de US$ 1,5 trilhão em 2024. Na América Latina, o transporte é o setor que mais atraiu financiamento de projetos em 2024, com US$ 15,6 bilhões, seguido por energias renováveis (US$ 12,6 bilhões) e petróleo e gás (US$ 10,6 bilhões).
Apesar dos desafios como incerteza regulatória, cancelamentos de projetos e instabilidade política, o relatório enfatiza que investimentos em infraestrutura bem gerenciados geram retornos econômicos significativos. Para cada milhão de dólares alocado em infraestrutura, podem ser criados 36.000 empregos e um aumento de 1,5 vez no PIB ao longo de cinco anos pode ser previsto.
Para os investidores interessados na região, a Allianz Research ressalta a importância de uma governança robusta e transparência nos contratos. Projetos bem estruturados, apoiados por bancos multilaterais de desenvolvimento ou seguros contra riscos políticos, podem servir como um escudo contra a potencial volatilidade das mudanças políticas e os custos exorbitantes associados à arbitragem.
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