Conheça Dona Neguinha: mãe que teve dois partos em casa, catou latinhas e papelão para criar 7 filhos

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Dona Neguinha | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Neste Dia das Mães, conheça a emocionante e inspiradora história de uma mulher que carrega no peito o símbolo de coragem e amor. Dona Luciana de Jesus Santos, conhecida como Dona Neguinha, de 50 anos, é mãe solo de sete filhos, enfrentou a maternidade pela primeira vez aos 17 anos, praticamente sozinha, contando com o apoio da sua mãe quando ela ainda era viva. Alheia aos privilégios, Luciana contou ao Acorda Cidade que se considera analfabeta, já catou latinhas e papelão para ajudar na criação de seus filhos.

Dona Neguinha enfrentou longas jornadas de trabalho exaustivas para manter os filhos ao seu lado. Entre suas dores, a maior de todas foi perder a mãe, sua grande referência e principal apoio. Moradora do Condomínio Iguatemi 3, no bairro Mangabeira, Dona Neguinha é natural do bairro Jardim Cruzeiro e passou por experiências marcantes, como ter dois de seus filhos em casa.

“Eu tive o meu segundo filho, Júnior, e o meu último filho, Thiago, em casa. Com Júnior, eu estava sozinha. Ele nasceu de sete meses, minha mãe tinha saído para trabalhar e eu comecei a sentir cólicas. Quando deitei na cama, ele nasceu. Já Thiago, de 13 anos, eu decidi ter em casa, não queria ir para o hospital. Estavam comigo minha sobrinha e minha filha mais nova, minha sobrinha me deu a mão pra apertar na hora da dor”, relembrou.

Na imagem Thiago, o filho mais novo de dona Neguinha | Foto: Arquivo Pessoal
Na imagem Thiago, o filho mais novo de dona Neguinha | Foto: Arquivo Pessoal

Dona Neguinha é mãe de quatro homens e três mulheres. A filha mais velha tem 32 anos, é casada e já é mãe. Júnior também está casado e tem dois filhos. Atualmente, Dona Neguinha vive com três dos filhos: Eduardo, Maria Eduarda e Thiago.

A Luta e a superação de Dona Neguinha

Mesmo com todos os desafios, ela sempre se recusou a entregar os filhos para outras pessoas criarem.

“Eu saía do Jardim Cruzeiro a pé para trabalhar numa empresa na estrada para Salvador. Saía de casa às 5h da manhã para conseguir chegar às 7h. Limpava, e voltava só à noite. Foi difícil, porque nunca quis abrir mão deles, mesmo quando parentes pediam para criar”, contou.

Três filhas de dona Neguinha ao lado de seu netinho Isaías | Foto:  Arquivo Pessoal
Três filhas de dona Neguinha ao lado de seu netinho Isaías | Foto: Arquivo Pessoal

A maternidade foi enfrentada na raça. Dona Luciana catava latinhas em festas, recolhia papelão, buscava livros velhos em escolas para revender, fazia faxinas, cuidava de idosos, tudo para colocar comida em casa.

“Eu fiz de tudo um pouco. Até hoje trabalho como posso, limpo casa, quintal, tomo conta de menino. Só não roubo, mas de tudo faço”, diz com firmeza.

Ela revelou ainda que não recebe nenhum tipo de ajuda dos pais das crianças. “Tive três companheiros, são os pais dos meus filhos, mas hoje nenhum ajuda. Eu que me viro.”

Segundo neto de dona Neguinha, Isaías, de 4 anos - Foto - arquivo Pessoal
Segundo neto de dona Neguinha, Isaías, de 4 anos | Foto: Arquivo Pessoal

Desafios e dores

Além disso, Dona Neguinha pontuou que enfrenta o desafio de criar Thiago, o filho caçula, que tem Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e está sem acompanhamento psicológico há dois anos. “Ele faz acompanhamento no Assis, mas está sem psicólogo lá. A gente não conseguiu mais”, lamentou.

Dona Neguinha também carrega uma dor profunda: a perda da mãe há 6 anos, sua maior referência.

Filhos e sobrinhos de primeiro e segundo grau que dona Neguinha ajudou a criar | Foto: Arquivo Pessoal
Filhos e sobrinhos de primeiro e segundo grau que dona Neguinha ajudou a criar | Foto: Arquivo Pessoal

“Quando eu perdi minha mãe, perdi tudo. Agora voltei a fazer acompanhamento psicológico em uma clínica na Getúlio Vargas, mas a dor ainda é grande”, compartilhou emocionada.

Orgulho e mensagem de esperança

Mesmo sendo analfabeta, ela tem orgulho dos filhos. Duas filhas estudam na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e uma cursou faculdade particular.

Dona Neguinha no centro ao lado das três filhas e seu genro - foto -arquivo pessoal
Dona Neguinha no centro ao lado das três filhas, o filho Thiago e seu genro | Foto: Arquivo Pessoal

“Eu só sei assinar meu nome. Não consegui acompanhar os estudos deles. Mas meus filhos e meus irmãos me ajudam, principalmente com o Thiago, que precisa de atenção com as atividades da escola”, contou.

Neto mais velho de dona Neguinha, Bernardo, de 7 anos - Foto - arquivo pessoal
Neto mais velho de dona Neguinha, Bernardo, de 7 anos | Foto: Arquivo pessoal

Com emoção, ela deixa uma mensagem especial a todas as mães, especialmente as que, como ela, enfrentam a vida sozinhas.

“Quero deixar um abraço grande a todas as mães, especialmente às mães solos. Só a gente sabe o que a gente passa quando chega a noite. Mas Deus não nos abandona. Tenham fé que a vida melhora”, frisou.

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