Nosso povo procurou por todos os meios negociar com a Espanha seu direito à autodeterminação e independência por meio de acordos de paz. A resposta do colonizador espanhol foi o massacre da manifestação pacífica de 17 de junho de 1970, liderada pelo líder Mohamed Basiri, que deixou dezenas de mortos, feridos e presos.
Diante da violenta resposta militar do colonialismo espanhol, o povo saaraui não teve outra escolha senão recorrer às armas. Em 10 de maio de 1973, os saarauis decidiram criar seu próprio movimento. Naquele dia, foi realizado o primeiro Congresso para criar a Frente Popular para a Libertação de Saguia ou Hamra e Rio de Oro (Frente Polisario). Decidiu-se desenvolver um programa popular focado na luta armada como caminho para alcançar a libertação do nosso povo. O seu primeiro lema foi “com a espingarda conquistaremos a liberdade”, dando origem à luta saaraui. Em 20 de maio de 1973, foi realizada a primeira operação militar contra o colonialismo espanhol. É por isso que nossa revolução tem a data de 20 de maio como marco histórico.
A Revolução de 20 de maio, cujo 52º aniversário celebramos neste mês, tornou-se uma centelha de esplendor. Um evento anual histórico e um bastião de sacrifício, sucesso e vitórias, tanto nacional quanto internacionalmente.
A Revolução Saaraui, que começou com um confronto com o colonialismo espanhol e sua traição, falhando em cumprir sua promessa aos saarauis, trouxe outros inimigos ao nosso país. Por isso, continuamos nossa luta até hoje contra a invasão militar do exército do Reino de Marrocos, armado até os dentes pelas potências ocidentais, protegido por um muro de 2.720 km e guardado por 8 milhões de minas terrestres. Nada disso impediu a Frente POLISARIO de continuar a lutar, armada, pela libertação da parte ocupada do seu território.
Os saarauis na zona ocupada, cercados pelo Muro da Vergonha, sofrem uma feroz repressão por parte da polícia e das forças de segurança marroquinas. Mais de 600 pessoas continuam desaparecidas, centenas estão presas, torturas estão sendo realizadas nas ruas e nas prisões, na frente de todos. O desemprego está nas alturas, entre outras calamidades que nosso povo está enfrentando nos territórios ocupados. Mas isso não conseguiu impedir a resistência dos saarauis e nem sua determinação e vontade de continuar a lutar e a confrontar diariamente com a polícia e o aparato repressivo marroquino.
Obtivemos sucessos importantes na luta contra a ocupação marroquina, a saber:
- A consolidação do Estado Saaraui como membro fundador da União Africana, com o reconhecimento de mais de 84 países e mais de 30 embaixadas;
- A organização política e jurídica de um Estado com sua Constituição e leis.
- A eliminação do analfabetismo, a criação de programas de bem-estar social e a garantia de saúde e educação para todos.
- Vencemos sentenças e acórdãos do Tribunal Internacional de Justiça, da ONU, dos Tribunais Africanos, do Tribunal Europeu de Justiça, bem como de centenas de resoluções que garantem o direito à autodeterminação e à independência.
Infelizmente, diante da fragilidade das Nações Unidas e da espera de mais de cinquenta anos, os saarauis foram forçados a pegar em armas novamente em 13 de novembro de 2020, devido à violação pelo Marrocos do acordo de cessar-fogo assinado entre ele e a Frente Polisário, endossado pelo Conselho de Segurança e pela União Africana.
No entanto, temos disposição para negociar, desde que nosso direito à autodeterminação e independência seja respeitado.
Portanto, acreditamos que a República Federativa do Brasil pode desempenhar um papel importante na busca pela paz no Norte da África e, assim, contribuir para a estabilidade da região. Diante do bloqueio do Marrocos à ONU e à União Africana na implementação do direito do povo saaraui à autodeterminação, que Marrocos assinou e aceitou em 1991, há apenas um caminho que ajudaria: o reconhecimento da República Árabe Saaraui Democrática.
Acreditamos que é dever e obrigação de todos os Estados que respeitam o direito internacional e a justiça conceder este reconhecimento diplomático ao Estado Saaraui.
Por fim, apelamos ao povo brasileiro e à comunidade internacional para que façam um esforço de solidariedade à causa e à luta saaraui.
*Ahmed Mulay Ali Hamadi é diplomata Saaraui
** A opinião contida neste texto não necessariamente representa a linha editorial do Brasil de Fato.