Planalto alega surpresa com magnitude das mudanças no IOF, e recuo foi decidido em reunião da qual Haddad participou à distância

Reação negativa do mercado e temor de desgaste político levaram núcleo do governo a frear medida anunciada pela Fazenda, relembrando o caso Pix. Haddad sobre medidas econômicas do governo: ‘Na direção correta’
A revogação, em tempo recorde, do aumento do IOF sobre investimentos de fundos nacionais no exterior escancarou, mais uma vez, a dificuldade do governo em administrar sua comunicação econômica e a tensão permanente entre o que a Fazenda quer e o que o Planalto tolera.
A medida, anunciada como forma de compensar frustrações na arrecadação — aquela mesma prevista no pacote fiscal que muitos diziam ser otimista demais — acabou durando menos de 24 horas. A reação do mercado foi imediata e negativa.
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Quando essa reação foi notada pelo governo, ministros palacianos — Rui Costa (Casa Civil), Gleisi Hoffmann (PT) e Sidônio Palmeira (Comunicação) — chamaram uma reunião de emergência no Planalto. O titular da Fazenda, Fernando Haddad, não estava presente, mas participou à distância.
Nela, técnicos da área econômica ainda argumentaram que a mudança no IOF era uma demanda da Fazenda e estava combinado com o Planalto, tanto é que seria feita por meio de decreto assinado pelo presidente Lula (PT). Não nessa magnitude, ouviram em resposta.
A área política do governo argumentou, ainda, que mexer na tributação com o decreto iria criar insatisfação com o Congresso, e que o caso lembrava muito o que aconteceu quando a Receita decidiu mudar a fiscalização do PIX, em janeiro de 2025.
O consenso: era preciso estancar o desgaste. Não pegou bem a forma, não pegou bem o conteúdo e, sobretudo, não pegou bem o timing. A decisão de recuar veio à noite, antes que o mercado reabrisse no dia seguinte. Um movimento para tentar conter o dano.
Bateção de cabeça também na Fazenda
Além do choque com o Planalto, a Fazenda teve de lidar, ainda com a bateção de cabeça interna.
O secretário-executivo da pasta e número 2 de Haddad, Dario Durigan, afirmou que as mudanças anunciadas na quinta-feira (22) haviam sido combinadas com o Banco Central.
Acontece que o Banco Central deve, por lei, ser autônomo em relação ao governo.
A afirmação fez com que Haddad tivesse de vir a público dizer que nenhuma das medidas foi negociada com a autoridade monetária.
“Eu converso com o [Gabriel] Galípolo [presidente do BC] frequentemente e eu disse a ele que nós íamos tomar medidas em relação à despesa, em relação à receita, mas conforme eu respondi, a minúcia do decreto não passa pelo Banco Central”, afirmou Haddad nesta sexta (23).
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