A colheita de café arábica de 2025 no Espírito Santo confirma as previsões de uma safra menor, típica do ciclo de baixa bienalidade, mas especialistas e produtores destacam que a qualidade dos grãos está superior neste ano. A expectativa é de uma produção estadual de cerca de 3,2 milhões de sacas, volume 18% inferior ao registrado em 2024, quando foram colhidas aproximadamente 4 milhões de sacas.
Segundo Fabiano Tristão, coordenador de Cafeicultura do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), além do ciclo natural de bienalidade — quando, após um ano de alta produção, a planta tende a produzir menos —, fatores climáticos agravaram a redução da safra.
“Esse número poderia ser melhor se não fosse o episódio climático de fevereiro, com altas temperaturas e baixa precipitação em boa parte dos municípios produtores. Isso impactou a fase de granação dos frutos, diminuindo o rendimento da lavoura”, explicou Tristão.
Apesar da queda na produtividade, a qualidade dos grãos colhidos até o momento é considerada boa. “Os produtores capixabas evoluíram muito no manejo da lavoura, nutrição e, principalmente, nas técnicas de colheita e pós-colheita, buscando cafés de excelência”, destacou o pesquisador.
A colheita já alcançou cerca de 20% da área plantada e deve se estender até o fim de agosto ou início de setembro, dependendo da região. Em áreas de altitude mais elevada, acima de mil metros, a colheita pode se prolongar até outubro ou novembro, mas representam uma parcela pouco significativa da produção total.
Outro fator que mantém os cafeicultores motivados, segundo Tristão, é a remuneração atual. “Os preços estão em patamares bons, o que tem estimulado os produtores, mesmo com a safra menor.”
Produtor aposta na qualidade com novas variedades
No Sítio Forquilha do Rio, localizado em uma região de altitude entre 1.200 e 1.400 metros, no Caparaó, o cenário se repete: safra menor e grãos melhores. O produtor Tiago de Souza Alves estima que a produção na propriedade será 40% inferior em relação ao ano passado, quando ele registrou uma safra recorde.
“Devido ao clima seco em 2024, com cerca de cinco meses sem chuvas, nossa produção foi afetada. Mas mesmo com menor volume, a qualidade deve ser superior. A lavoura está com mais disponibilidade de nutrientes para cada fruto, e a maturação, este ano, está mais lenta, favorecendo o desenvolvimento”, explicou Tiago.
Ele também destaca que, neste ciclo, as chuvas retornaram em outubro do ano passado e têm se mantido constantes, o que contribui para uma maturação mais uniforme e saudável dos grãos.
“A colheita vai atrasar alguns dias este ano, por conta das temperaturas mais baixas, o que também é um bom sinal para a qualidade. Nossa expectativa é de uma safra menor, mas com qualidade superior à do ano passado”, afirmou o produtor.
Tiago e sua família apostam na diversificação de variedades para agregar valor ao produto. Entre as cultivares plantadas recentemente, estão o Gueixa, conhecida mundialmente pela qualidade superior, além do 785 Amarelo e do Castilho.
“O nosso foco é a produção de cafés especiais. Trabalhamos com agricultura familiar e oferecemos nossa marca de café torrado diretamente aos consumidores, por meio do nosso site e cafeteria. Esse compromisso com a qualidade já nos trouxe destaque em concursos e confirma que estamos no caminho certo”, completou.
Expectativa
Apesar das incertezas causadas pelas chuvas durante o período de colheita, que podem impactar o processo de secagem e pós-colheita, os especialistas se mostram otimistas com a qualidade da safra. O Espírito Santo é o segundo maior produtor de café do Brasil e lidera na produção nacional de café conilon, mas também possui uma expressiva e qualificada produção de café arábica, especialmente em áreas de montanha.
“Se tivermos condições climáticas favoráveis daqui para frente, a tendência é mantermos esse padrão de qualidade que está se mostrando muito bom até agora”, finalizou Fabiano Tristão.
