
Ainda na madrugada deste domingo (6), especificamente às 3h da manhã, a alvorada anunciava o Bando Anunciador da Evandro Cardoso, do bairro Eucalipto/Tomba. Ao som das primeiras notas da fanfarra, a vizinhança já se agitava em frente ao ‘Bar de Jacaré’. Era o aviso: o Bando tá na rua! A partir daí, começou a contagem regressiva para cair na folia, porque às 6h os primeiros grupos começaram a passar pela Rua Conselheiro Franco, no circuito da festa. Nem mesmo a chuva fina impediu o povo de celebrar. A alegria estava garantida — com ou sem céu aberto.

Realizada desde o século XIX, a festa é uma das mais especiais do calendário cultural de Feira de Santana, criada para celebrar a padroeira da cidade, Nossa Senhora Sant’Ana. O Bando Anunciador é irreverência, é memória, é consciência social, é alegria do povo. É o povo na rua, é tradição que resiste ao tempo e às dificuldades. Festa feita de gente, para gente.

E que festa! Segundo os organizadores, são aproximadamente nove pessoas à frente da comissão que organiza o Bando Anunciador da Cardoso, que neste ano contou novamente com o reforço de peso. Uma orquestra vinda direto do Recôncavo baiano, da cidade de Muritiba. Ao todo, o bando teve um investimento em torno de R$ 10 mil.
Construção coletiva
“O Bando Anunciador nasceu de pessoas, fomos ao evento do Cuca, e depois decidimos: vamos fundar um bando? Vamos! Aí nasceu o Bando Eucalipto, em 2015. Depois virou o Bando Anunciador Cardoso”, contou um dos organizadores do bando, Robson Luiz, popularmente chamado de Neguinho, de 52 anos. “A concentração começa cedo, às 3h da manhã, com alvorada já anunciando que vamos sair. É pra anunciar que a festa vai começar.”

Para Neguinho, realizar um Bando próprio é uma forma de fortalecer os laços entre vizinhos, mobilizar a comunidade e reunir pessoas de diferentes bairros em torno da celebração.
“Essa festa na comunidade, na verdade, traz a união do nosso pessoal, de várias pessoas, porque vários bairros vêm sair conosco. Então, a positividade é aquela que a gente diz assim: estamos unidos e não vamos nos separar nunca”, acrescentou ao Acorda Cidade.

De longe, o som das orquestras já indicava que os bairros vizinhos estavam indo. Gente fantasiada, gente com cartaz, com crítica social, com irreverência. Como disse o saudoso Nêgo Bispo: “ Mesmo que queimem os símbolos, não queimam os significados, não queimam a ancestralidade.” E é exatamente essa ancestralidade que se vê pulsar em cada passo, em cada som, em cada clarim ecoando nas ruas do centro da cidade.

O Bando da Cardoso já é tradição no bairro do Eucalipto. Quem explica ao Acorda Cidade é a moradora Elisângela Santos, carinhosamente chamada de Binho. Tem os gastos com a banda, com o café da manhã reforçado, com a confecção das camisas e muito mais.

”É sempre um prazer participar dessa festa. A gente corre atrás o mês todo de patrocínio, o pessoal ajuda. A partir do dia 20 de maio, a gente já começa os contatos. Como já tem muitos anos, fica mais fácil, mas ainda falta apoio. O Cuca mesmo não ajuda a gente em nada. Se a gente tivesse esse inicial de lá, era bem mais fácil para a gente”, afirmou.

E mesmo com todas as dificuldades, a motivação não falta: “Eu sempre gosto das coisas culturais da cidade. E o Bando é onde eu mais me encaixo, é uma festa carnavalesca, de muita alegria. Eu gosto muito”, completou a organizadora.
Festa viva, presente e popular

A fanfarra que puxou o bando veio da cidade de Muritiba, uma das mais tradicionais do Recôncavo baiano. São 35 anos de experiência. O saxofonista Noilson Miranda, de 48 anos, falou com orgulho da missão.

“Já tocamos várias vezes no Bando Anunciador, aqui e em outros blocos, somos uma das orquestras mais cobiçadas, por ser umas das melhores da região recôncavo da Bahia. A gente faz parte dos cortejos do Senhor do Bonfim em Muritiba, que dura dez dias. E a nossa fanfarra é uma das melhores da região, ressaltando, não desfazendo de outras. A gente tá aqui pra levar alegria pro povo.”

Aos 58 anos, Neuracy Novaes participou do cortejo pela primeira vez no bairro. “É a primeira vez que eu estou participando do bairro, mas já fui várias vezes. Acho ótimo. É uma coisa diferente. Venham, gente, que vocês vão gostar”, incentivou.
Já Milton Bispo comemorou em dobro: completa 64 anos neste domingo (6), no meio da festa.

“A expectativa é a melhor possível. Um colega me incentivou, ele é presidente do bando. Já comi um bom mocofato com cuscuz, estou com o bucho forrado pra jogar duro. Calibrar as turbinas e vamos nessa que a vida é curta”, celebrou com o Acorda Cidade.
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Com informações da jornalista Jaqueline Ferreira do Acorda Cidade
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