A visita da ministra das Mulheres, Márcia Lopes, ao Rio Grande do Sul na última sexta-feira (11) incluiu um almoço com mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de cozinhas solidárias na sede da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), em Eldorado do Sul. A área foi totalmente alagada durante as enchentes de maio de 2024.

Também participaram da atividade as deputadas federais Maria do Rosário (PT), Fernanda Melchionna (Psol) e Reginete Bispo (PT). Além da procuradora de Eldorado do Sul, Fabiane Tatini, representando a prefeita, o deputado estadual Adão Pretto Filho (PT) e do presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto.

O propósito do encontro foi conhecer o espaço e dialogar com as lideranças, além de receber as pautas de reivindicações. As participantes destacaram o papel central das mulheres na produção de alimentos, na organização popular e na resistência diária nas comunidades.

A pauta da proteção contra as enchentes
Um dos temas mais prementes foi a crítica situação dos assentamentos diante das enchentes no município de Eldorado do Sul. Apesar da existência de um plano municipal para a construção de um dique com recursos federais já determinados, o governo do estado excluiu três assentamentos do perímetro de proteção, incluindo o local onde estavam reunidas. “Isso significa que a construção do dique, ao invés de proteger, tende a piorar a situação das nossas famílias, concentrando a água em nossas áreas”, destacou a vice-presidente da Cootap, Seleni de Lima, a Teca.

Segundo ela, há mais de um ano famílias aguardam reassentamento para locais mais seguros, mas não houve retorno do governo do estado. “Toda chuva que cai causa desespero e insegurança diária, pois as famílias continuam perdendo suas produções repetidamente.”
A exclusão do perímetro do dique é vista pelas mulheres como uma violência sofrida por serem mulheres e por serem sem-terra, representando uma negação de seus direitos. O projeto para incluir os assentamentos no plano do dique já está pronto, mas um novo projeto demoraria muito.
Mulheres como pilar da produção e da resistência coletiva
As participantes ressaltaram o protagonismo das mulheres na produção de alimentos e na organização comunitária. A agricultura camponesa, historicamente depreciada, é vista como um caminho para a emancipação humana, resgatando a cultura e mostrando a função social da terra.
“As mulheres do MST, em parceria com as cozinhas solidárias da Região Metropolitana de Porto Alegre, são fundamentais para garantir alimento em mais de 50 cozinhas. A afirmação de que ‘se o campo não planta, a cidade não janta’ reforça essa parceria”, destacou a liderança do Levante Popular da Juventude Mariana Dambros, que entregou a pauta em nome das cozinhas solidárias.

“As cozinhas solidárias, majoritariamente lideradas por mulheres, muitas delas negras e beneficiárias do Bolsa Família, tornaram-se espaços de convivência, acolhimento e organização política”, destacou. Dambros também reforçou que as cozinhas combatem a fome e produzem alimentos feitos com carinho e amor, alimentando novas gerações não apenas em momentos de catástrofe, mas no dia a dia. “As mulheres são o ‘coração da comunidade’, e a cozinha o ‘coração’ da revolução, por isso dizemos que ‘sem a cozinha não há revolução’.”
Dambros destacou que apesar da importância vital do trabalho voluntário nas cozinhas, há uma necessidade urgente de complementação de renda para as mulheres que estão na linha de frente, buscando que o trabalho seja reconhecido e remunerado como uma política pública.
Ministra afirma seu compromisso com as pautas sociais

A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, declarou seu compromisso com as demandas apresentadas pelas mulheres do campo e da periferia, enraizado em sua própria trajetória e reconhecimento da importância da luta feminina nos movimentos sociais.
Ela relembrou sua experiência com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no seu estado de origem, o Paraná. Segundo ela, quando foi a vereadora mais votada em 2000, o seu gabinete era o único a ter uma bandeira do MST, enfrentando a criminalização e a desconfiança da época. “Isso inclusive era motivo de visitação”, brincou.
Ela destaca como as mulheres sempre tiveram uma presença “muito, muito forte” no meio rural e na produção de alimentos. Recordou também sua experiência no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, onde coordenou o Fome Zero por 5 anos, e sempre buscou associar a produção às mulheres do campo.
A ministra manifestou sua “alegria de estar aqui, do meu respeito, da minha admiração pela luta de vocês”. E se emocionou ao afirmar que “a gente não pode se conformar com a pobreza, com a fome, com a miséria, com a desigualdade. O Brasil não precisa ser desigual. O Brasil só é desigual porque tem luta de classes, porque tem uma elite que se lixa pra população”.
Lopes garantiu que as mulheres podem contar com seu ministério. “Contem com o Ministério das Mulheres, contem com os ministérios, e tudo que eu puder fazer, de dialogar com eles, vamos fazer”. E enfatizou que “quem é de luta não se cansa” e que “as mulheres fazem a diferença”. Se despediu, mencionando a possibilidade de voltar para a Conferência Estadual de Mulheres.
Reivindicações e expectativas de Políticas Públicas

As lideranças do MST destacaram que as mulheres do campo e as assentadas foram historicamente preteridas em direitos, como o acesso à aposentadoria e a inclusão nos documentos da terra em pé de igualdade com os homens, algo que só começou a mudar a partir de 2013.
A pauta apresentada à ministra enfatiza que a produção e a geração de renda são formas fundamentais de combate à violência contra a mulher, pois uma mulher com renda e políticas públicas para seu trabalho tem mais condições de enfrentar as violências.
Foi feito também um apelo por apoio da prefeitura de Eldorado do Sul e das deputadas, afirmando que as mulheres dos assentamentos afetados continuarão batendo nos gabinetes para apresentar suas pautas. A expectativa é que o Ministério das Mulheres incida diretamente ou articule com outros ministérios para ajudar nessas demandas.
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