No final da tarde desta quinta-feira (17), um grupo de responsáveis por alunos do Instituto de Educação General Flores da Cunha protestou por mais segurança e apoio da direção na tradicional Gincana das Cores. Na última sexta-feira (11), um aluno foi agredido durante uma partida de futebol que fazia parte da gincana. Ele sofreu uma lesão grave e precisou ser submetido a cirurgia de emergência, mas passa bem.
O caso chama atenção para outras demandas da comunidade escolar que, de acordo com os pais, vêm sendo ignoradas tanto pela direção escolar quanto pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc), que estariam sendo omissas. Falta de segurança na escola, alimentação escolar insuficiente e espaço inadequado para refeições, além da perda da biblioteca e de espaços de laboratórios e atividades artísticas, estão entre as reclamações.
Os responsáveis também citam a ausência de acessibilidade e de Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (PPCI) no anexo Diná Neri, onde estudam crianças até o 5º ano. O Instituto foi reinaugurado há pouco mais de um ano, com o custo de R$ 23,4 milhões.
Avô do aluno agredido, João Carlos Silva dos Santos relata que, até o momento, a família não recebeu apoio da direção ou da Seduc. “A gente não quer prejudicar ninguém, só quer que a escola tome uma atitude de responsabilidade. Que a comissão da gincana não tenha só adolescentes, mas também um responsável da escola. A maioria dos adolescentes não tem responsabilidade, então não adianta culpar eles”, afirma.
A família do estudante entrou com uma representação na promotoria de Infância e Juventude do Estado e com uma denúncia no Conselho Tutelar da Região. Os responsáveis também buscam indenização material e moral pelo ocorrido, alegando que o aluno foi vítima de negligência durante a gincana.
A comissão organizadora da gincana divulgou uma nota informando que todas as atividades foram previamente planejadas com cuidados de segurança, supervisionadas pela equipe pedagógica e realizadas em ambiente seguro. O restante das atividades esportivas foram suspensas após o ocorrido. “A Gincana das Cores 2025 continuará com as atividades culturais, artísticas e intelectuais, nos dias 17, 18 e 19 de julho”, diz o comunicado.
Já os responsáveis por estudantes do Instituto afirmam que a agressão durante a gincana reflete uma política de silenciamento e distanciamento em relação ao corpo discente e aos familiares. Segundo uma nota divulgada por um grupo de pais, a direção não oferece espaços de debate e de construção coletiva.
“A comunidade, tanto familiar quanto os alunos, não tem voz dentro da escola. Se um aluno fala para a mãe o que está acontecendo, a equipe diretiva ou até mesmo os professores ficam amedrontando para eles não falarem”, diz Bárbara Correa, mãe de aluna. “Minha filha sofreu bullying, e eu soube de relatos de outros alunos. A diretora, todas as vezes que a gente foi conversar com ela, estava sempre ocupada. Nós não somos contra a gincana, somos contra a gincana não ser assistida por profissionais da saúde. Fora outras situações que acontecem: as crianças estão desassistidas emocionalmente, às vezes chegam [em casa] morrendo de fome”, acrescenta.
De acordo com a responsável, os pais temem represálias aos filhos por parte da equipe diretiva.
Outra mãe usou uma rede social para falar da situação no Instituto. “A escola não cumpre nem mesmo o calendário oficial da Seduc, não tendo realizado a reunião do Conselho Escolar, que deveria ocorrer no fim de abril. As reuniões que ocorrem (quando ocorrem) são expositivas, com slides mostrando a estrutura da escola e divulgando regras básicas (que bem poderiam ser enviadas por e-mail ou divulgadas no mural), reservando pouco ou nenhum tempo para a manifestação dos participantes. Ou seja, é uma comunidade cheia de questões e com nenhum mecanismo de escuta ativa nem instâncias organizadas de participação e de tomada de decisões”, escreveu.
A deputada Sofia Cavedon (PT), vice-presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, afirma que recebeu uma série de demandas de mães de alunos há mais de um mês. “Desde lá, solicito e reitero o pedido de reunião com a Secretária da Educação. Sempre postergada. O documento das mães foi encaminhado por mim à secretária e à Defensoria Pública. O episódio que ocorreu na gincana é evidência da falta de apoio à gestão da escola. Tudo isso está informado à Secretária Estadual de Educação, que não age”, destaca.
A parlamentar lembra que parte do prédio da escola está sendo usado pela Seduc, o que segundo ela é inaceitável. “A escola tem mais de 1.400 estudantes, parte deles em turno integral, que necessitam de espaço e de recursos humanos”, diz.
Em nota, a Seduc informa que está acompanhando o caso junto à 1ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), de Porto Alegre. A pasta afirma ainda que o Núcleo de Cuidado e Bem-Estar Escolar atua na escola e que será aberta uma apuração interna para averiguação dos fatos.
Questionada, a direção do Instituto enviou o seguinte comunicado:
Gostaria de salientar que, no CEFP General Flores da Cunha, há muitos professores e funcionários, mais 100 profissionais, e de alunos mais de 1.000. Participamos da alegria das vivências sociais e do crescimento dos nossos estudantes, assim como também participamos do resultado da desestrutura familiar refletida nas atitudes de alguns jovens. A instituição, recém-restaurada, está se adaptando a essa nova realidade, com novos estudantes de diferentes contextos e expectativas. Há bullying em grande parte da sociedade, e aqui não seria diferente. Entretanto, o Instituto de Educação trabalha com projetos a fim de evitar que se alastre pela escola. Palestras com a Patrulha Escolar, com professores de Psicologia das Universidades, com formandos da Psicologia, pessoas que nos auxiliam no processo de amadurecimento de nossos estudantes.
A Gincana das Cores é um conjunto de atividades esportiva-cultural-artística que integra os estudantes nos diferentes turnos e turmas. Por ser um evento tradicional, e muito esperado, a agitação e a motivação são elementos muito presentes nesses dias. Não houve agressão em nenhum momento, pois uma das regras é a não-violência.
O que pode acontecer nos jogos, principalmente no futebol, pois envolve contato físico e movimentos bruscos, são machucados, lesões como entorses e até mesmo fraturas. Situações que são atendidas imediatamente pela equipe diretiva e professores, fazendo os devidos encaminhamentos como: chamar o SAMU, os pais e/ou responsáveis.
O CEFP General Flores da Cunha realiza reuniões com os responsáveis em horários diversos para contemplar a realidade escolar, pois fazer reuniões e não ter quórum é improdutivo. Em todos os momentos, houve a escuta ativa, até mesmo para a continuidade da Gincana das Cores após um incidente. Foi feita uma reunião de pais, alunos e equipe diretiva que terminou depois das 21h, por exemplo.
Quanto à Seduc, o canal de comunicação entre a mantenedora e a escola não há problemas, pois houve sempre receptividade e escuta das necessidades pelas quais a escola está passando.
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