Hamas condena ocupação total de Gaza aprovada por Israel: ‘Mais um crime de guerra’

Reunido na noite desta quinta-feira (7), o Gabinete de Segurança de Israel aprovou o plano para ocupar militarmente a Cidade de Gaza, o primeiro passo segundo a mídia israelense para uma estratégia de ocupação total da região. A medida prevê o envio de tropas terrestres para 25% do território que ainda não estão sob controle direto de Israel.

“As Forças de Defesa de Israel (IDF) se prepararão para assumir o controle da Cidade de Gaza, ao mesmo tempo em que fornecem ajuda humanitária à população civil fora das zonas de combate”, diz o comunicado o oficial emitido nesta sexta-feira (8) pelo gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, na plataforma X.

Israel endossou cinco condições para um cessar-fogo: o desarmamento do Hamas, o retorno de todos os reféns, a desmilitarização de Gaza, o controle de segurança israelense e uma administração civil pós-guerra excluindo o Hamas e a Autoridade Palestina.

O Hamas se manifestou nesta sexta-feira (8): “a aprovação do gabinete sionista dos planos de ocupar a Cidade de Gaza e evacuar seus moradores constitui um novo crime de guerra que o Exército de ocupação pretende cometer contra a cidade. Alertamos a ocupação criminosa que esta aventura criminosa lhe custará caro e não será uma jornada fácil”.

Com a decisão, cerca de 1 milhão de palestinos serão obrigados a deslocarem para áreas de evacuação no sul do enclave. A proposta de ocupação total — e a consequente evacuação forçada até o dia 7 de outubro — gerou duras críticas de países, organismos internacionais e, também, políticos, militares e familiares dos reféns israelenses. Acompanhe a repercussão:

Alemanha, China, Turquia, Reino Unido

Em reação à medida, a Alemanha afirmou que irá suspender as exportações militares que poderiam ser usadas em Gaza. O chanceler do país Friedrich Merz, disse ser um direito de Israel desarmar o Hamas e buscar a libertação dos reféns israelenses, mas salientou: “o governo alemão acredita que a ação militar ainda mais dura na Faixa de Gaza decidida pelo gabinete israelense na noite passada torna cada vez mais difícil ver como esses objetivos podem ser alcançados”.

A China foi uma das primeiras potências a condenar o plano, expressando “sérias preocupações” e pedindo que Israel “cesse imediatamente suas ações perigosas”. Em comunicado à AFP, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês declarou que “Gaza pertence ao povo palestino e é uma parte inseparável do território palestino. O único caminho para aliviar a crise humanitária é por meio de um cessar-fogo imediato e da retomada das negociações.”

A Turquia classificou o plano como “um duro golpe para a paz e a segurança” e exigindo que a comunidade internacional atue imediatamente para impedir a implementação da medida, que “visa deslocar à força os palestinos de suas próprias terras”, informa a Al Jazeera.

No Reino Unido, destaca The Guardian, o primeiro-ministro Keir Starmer alertou que a medida “trará mais derramamento de sangue”. Ele defendeu um cessar-fogo, ampliação da ajuda humanitária e a libertação de todos os reféns, ressaltando que o Hamas não pode ter papel no futuro de Gaza. Já o líder liberal-democrata do país, Ed Davey, apontou que os planos de Netanyahu apontam para uma “limpeza étnica” e exigiu que o Reino Unido interrompa imediatamente todas as exportações de armas para Israel e imponha sanções ao premiê israelense.

Escócia, Finlândia, Holanda, Espanha

Na Escócia, o primeiro-ministro John Swinney afirmou que a decisão israelense “é completa e totalmente inaceitável” e apelou para uma mobilização da comunidade internacional a favor de um cessar-fogo.

A ministra das Relações Exteriores da Finlândia, Elina Valtonen, também se declarou “extremamente preocupada” com a fome iminente e reforçou o pedido por uma trégua imediata e pela libertação dos reféns.

O ministro das Relações Exteriores da Holanda, Caspar Veldkamp, afirmou em comunicado no X que “o plano do governo de Netanyahu de intensificar as operações israelenses em Gaza é um movimento errado. A situação humanitária [de Gaza] é catastrófica e exige melhorias imediatas. Esta decisão não contribui de forma alguma para isso e também não ajudará a levar os reféns para casa”.

A Espanha também condenou a decisão. “Condenamos firmemente a decisão do governo israelense de escalar a ocupação militar de Gaza. Isso só causará mais destruição e sofrimento”, afirmou o ministro das Relações Exteriores espanhol José Manuel Albares. “Um cessar-fogo permanente, a entrada imediata e maciça de ajuda humanitária e a libertação de todos os reféns são urgentemente necessários”, acrescentou.

Nações Unidas e entidades

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, pediu o fim imediato do plano israelense. “É contrário à decisão do Tribunal Internacional de Justiça, à solução de dois Estados e ao direito dos palestinos à autodeterminação”, afirmou em comunicado na plataforma X.

Türk afirmou que a ocupação total da Faixa de Gaza não apenas é ilegal, como agrava ainda mais o sofrimento da população civil. A ONU e outras entidades de ajuda humanitária vêm sendo impedidas de operar na região, agravando a escassez de alimentos, água potável e medicamentos.

A ActionAid UK qualificou o plano como uma “escalada horrível”. “A decisão viola flagrantemente o direito internacional humanitário. As palavras de condenação já não bastam — é hora de medidas reais, como o fim das exportações de armas e a imposição de sanções ao governo israelense”, declarou a co-diretora executiva da entidade Hannah Bond, aponta o jornal britânico.

Oposição interna

Vozes contrárias à medida também se levantaram dentro de Israel. O chefe do Estado-Maior, tenente-general Eyal Zamir, já havia alertado que a ocupação total da Faixa de Gaza mergulharia o país em um “buraco negro” de insurgência prolongada, encargos humanitários e riscos ampliados para os cerca de 20 reféns israelenses ainda vivos em poder do Hamas. Para Zamir, a proposta comprometerá os esforços de resgate e empurrará Israel para um impasse militar e moral, informa a Al Jazeera.

O ex-vice-chefe das Forças Armadas Yair Golan, atual líder do partido Democratas, afirmou que a decisão “é um desastre para gerações. Nossos filhos e netos ainda estarão patrulhando os becos de Gaza, e tudo isso por sobrevivência política e visões messiânicas”, declarou à Rádio do Exército. Golan afirmou que Netanyahu é “fraco, facilmente pressionado e incapaz de tomar decisões que conciliem os alertas do nível profissional com as obsessões ideológicas de seu governo”.

O líder da oposição, Yair Lapid, por sua vez, chamou o plano de “desastre que levará a muitos outros desastres”, incluindo a morte dos reféns e de soldados, além de causar “falência diplomática” e custos bilionários para a sociedade israelense.

O Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas acusou o governo Netanyahu de “condenar à morte” os reféns vivos em Gaza. “O governo abandonou os reféns e agiu contra o interesse nacional com uma negligência moral e de segurança imperdoável”, diz a nota divulgada pelo grupo, em apelo para que a decisão seja revertida. Nesta quinta-feira (07/08), dezenas de familiares protestaram em frente ao local da reunião do gabinete de segurança, em Jerusalém, enquanto manifestações de rua acontecem em várias cidades do país.

Gaza

Já o Movimento Mujahideen Palestino, em declaração no Telegram, ressaltou que a decisão israelense de ocupar a Cidade de Gaza “reafirma que o governo israelense estava obstruindo o processo de negociação de cessar-fogo e confirma sua falta de preocupação com as vidas de seus prisioneiros” mantidos no enclave. “Gaza permanecerá livre e inquebrável”, acrescentou.

Mais de 60 mil palestinos morreram e 90% da população foi deslocada de suas residências ao menos uma vez desde o início dos ataques de Israel. Grande parte da infraestrutura de saúde está destruída e a ajuda humanitária em quantidade necessária para suprir a fome que se alastra na região permanece bloqueada.

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