O ano de 2025 marca um ponto crítico para a segurança industrial. Sistemas OT que controlam linhas de produção, redes elétricas e operações logísticas estão sendo visados como nunca. A combinação explosiva de ransomware, roubo de credenciais, falhas na cadeia de fornecimento e vulnerabilidades em equipamentos legados coloca em risco não apenas dados, mas vidas humanas, ativos físicos e a reputação de empresas. A diferença entre uma operação resiliente e uma catástrofe operacional está na capacidade de prevenir, detectar e reagir rapidamente.
A digitalização industrial trouxe benefícios inegáveis como maior eficiência, controle em tempo real, manutenção preditiva, predições e integração de cadeias de produção globais. No entanto, ao conectar sistemas antes isolados a redes corporativas e à nuvem, também se abriu a porta para invasores.
Hoje, a linha que separa TI (Tecnologia da Informação) e TO (Tecnologia Operacional) é tênue. Com a convergência OT/IT, vulnerabilidades que antes ficavam restritas a computadores de escritório ou de automação antes isolados agora podem comprometer a operação de grandes equipamentos e processos como caldeiras, turbo geradores, linhas de montagem ou sistemas de transporte.
Em um cenário em que uma única linha de código maliciosa pode parar uma fábrica inteira, a cibersegurança industrial deixou de ser apenas um requisito técnico, é um imperativo estratégico.
ATAQUES CONTRA INFRAESTRUTURA INDUSTRIAL CRESCERAM CADA VEZ MAIS
- 2020 – 2021: crescimento de ransomware clássico, aproveitando o momento da pandemia e da quantidade de pessoas e sistemas conectados.
- 2022: primeiras ondas de ataques deliberados a sistemas OT, explorando vulnerabilidades conhecidas e falta de segmentação.
- 2023–2024: aumento de campanhas mistas (OT+IT), com destaque para criptografia e vazamento.
- 2025: escalada sem precedentes — ataques sem malware (fileless), exploração de IA generativa para phishing avançado e ataques coordenados a cadeias de fornecimento.
NÚMEROS QUE ASSUSTAM. UM COMPARATIVO ENTRE O 1º SEMESTRE 2024 E 1° SEMESTRE 2025
- +46% no volume de ataques de ransomware contra ambientes industriais.
- 472 tentativas de ransomware apenas no 1° quadrimestre/2025 (40% de todo o volume de 2024).
- 000% de aumento em infostealers como o W32.Worm.Ramnit, especializado em roubo de credenciais OT.
- 826 ameaças via USB detectadas no 1° quadrimestre/2025, incluindo 124 variantes inéditas.
- 79% dos incidentes de 2025 não envolvem malware tradicional — são ataques fileless, difíceis de detectar com antivírus convencionais.
- IA generativa usada por adversários para criar campanhas de engenharia social personalizadas e altamente convincentes.
VETORES DE ATAQUE MAIS EXPLORADOS
- Convergência OT/IT: expansão da superfície de ataque.
- Falta de visibilidade OT: sistemas e ativos sem inventário e monitoramento.
- IoT/IIoT e equipamentos legados: vulnerabilidades não corrigidas.
- Cadeia de fornecimento: softwares e hardwares comprometidos no fornecedor impactando múltiplos clientes.
- Erro humano: configurações inseguras e ausência de treinamento.
CASOS REAIS QUE ACENDERAM O ALERTA
- Ataque ao Colonial Pipeline (2021): paralisou o maior oleoduto dos EUA por ransomware, afetando 45% do abastecimento de combustível da Costa Leste.
- Clorox (2023): paralisação da produção, causado por um ataque com ransomware, levando à escassez de suprimentos, com custos de recuperação superiores a US$ 50 milhões.
- Divisão automotiva da ThyssenKrupp (2024): um ataque fileless interrompeu a produção por 4 dias, gerando perdas superiores a US$ 10 milhões.
- Marks & Spencer (2025): sofreu um ataque de ransomware que impactou os pedidos online por semanas e causou prejuízo estimado de US$ 350 milhões, com a retomada completa dos serviços ocorrendo apenas 4 meses após o ataque.
Esses incidentes mostram que a ameaça não é distante ou hipotética. Ela já está afetando operações críticas em diversos setores e regiões do mundo, causando prejuízos milionários, interrupções prolongadas e danos à reputação das empresas.
Diante desse cenário, torna-se indispensável adotar uma abordagem estruturada e alinhada às melhores práticas internacionais para prevenir, detectar e responder a incidentes. É nesse contexto que entra o roadmap para elevar a Cibersegurança Industrial, baseado na norma ISA/IEC 62443, que orienta organizações a fortalecerem sua resiliência cibernética de forma contínua e integrada.
ROADMAP PARA ELEVAR A CIBERSEGURANÇA INDUSTRIAL (NORMA ISA/IEC 62.443)
1 – Governança e gestão de risco
- ISA/IEC 62443-2-1: estabelecer e manter um Cybersecurity Management System (CSMS) integrado à gestão de riscos operacionais e de segurança física.
- Integrar riscos cibernéticos à matriz de riscos operacionais e avaliar a criticidade de cada ativo OT.
- Assegurar compromisso da alta liderança por meio de políticas formais, patrocínio executivo e alocação de recursos para segurança.
2 – Visibilidade e monitoramento
- ISA/IEC 62443-3-3: implementar inventário automatizado e atualizado de todos os ativos de IACS (Industrial Automation and Control Systems).
- Implantar monitoramento contínuo e passivo para detecção de anomalias, respeitando a disponibilidade e integridade do processo industrial.
- Definir níveis de segurança (SL) para cada zona e conduto monitorado.
3 – Segmentação e controle de acesso
- ISA/IEC 62443-3-2: criar zonas e condutos para segmentar redes IT e OT, utilizando firewalls industriais e dispositivos de controle de fronteira.
- Aplicar microsegmentação para isolar sistemas críticos e evitar movimentação lateral.
- Adotar o princípio de menor privilégio e autenticação forte para todos os acessos, com base em funções e necessidades operacionais.
4 – Resposta a incidentes
- ISA/IEC 62443-2-1: desenvolver e manter um plano de resposta a incidentes para OT, com playbooks específicos por tipo de ataque.
- Criar ou terceirizar um OT-SOC especializado em monitoramento e resposta em tempo real.
- Realizar exercícios e testes periódicos de recuperação e continuidade de operações.
5 – Proteção de identidades
- ISA/IEC 62443-3-3 SR 1.1 a 1.4: utilizar autenticação multifator (MFA) para acessos remotos e críticos.
- Implementar gerenciadores de credenciais seguras (vaults) para contas privilegiadas, com rotação periódica de senhas.
- Controlar e registrar todas as sessões administrativas para fins de auditoria.
6 – Gestão de patches e hardening
- ISA/IEC 62443-3-3 SR 6.2: criar um processo formal de avaliação e aplicação de patches, com priorização baseada em risco e impacto.
- ISA/IEC 62443-4-2: aplicar hardening de dispositivos e desativar serviços não utilizados.
- Implementar controles compensatórios quando patching não for viável, como segmentação extra ou listas de controle de acesso restritivas.
7 – Segurança na cadeia de fornecimento
- ISA/IEC 62443-2-4: incluir requisitos de segurança cibernética em contratos com fornecedores, incluindo auditorias e conformidade.
- Validar e testar atualizações e componentes de terceiros antes da implantação, garantindo integridade e autenticidade.
- Estabelecer processos de verificação de integridade de software e firmware
8 – Cultura e treinamento
- ISA/IEC 62443-2-1: desenvolver um programa de treinamento contínuo em cibersegurança para operadores, engenheiros e equipes de manutenção.
- Realizar exercícios com executivos e gestores para testar tomada de decisão sob ataque.
- Criar campanhas de conscientização específicas para riscos de engenharia social e phishing no contexto industrial.
A consolidação da cultura de segurança é o elo que conecta todos os demais elementos do roadmap. Sem pessoas capacitadas, treinadas e conscientes, até as melhores tecnologias e processos perdem força. A cultura organizacional voltada para a resiliência cibernética garante que as medidas de governança, segmentação, monitoramento e resposta sejam executadas de forma coerente e contínua, reduzindo a probabilidade de falhas humanas e aumentando a eficácia da defesa.
A aplicação estruturada do roadmap alinhado à norma ISA/IEC 62443 integrando governança, visibilidade, segmentação, resposta a incidentes, proteção de identidades, gestão de patches, segurança na cadeia de fornecimento e, principalmente, cultura e treinamento oferece às organizações um caminho sólido para elevar sua cibersegurança.
Na prática, a verdadeira barreira contra ataques não é um único firewall ou software, mas a soma de processos robustos, tecnologias adequadas e pessoas preparadas para agir com rapidez e precisão. É essa tríade que transforma a indústria de um alvo vulnerável para um ambiente resiliente, seguro e pronto para enfrentar os desafios do presente e do futuro.
Como sua empresa tem se preparado para esta ameaça?
O post Indústria sob ataque: a urgência da cibersegurança industrial apareceu primeiro em Portal Celulose.