
*Artigo escrito por Cássia Coppo, turismóloga e CEO da Coppo Consultoria e Projetos – InpEV
Quando se fala em sustentabilidade no Brasil, o turismo e a cultura costumam aparecer como setores que “se preocupam com o meio ambiente”. Mas será que estão realmente fazendo a lição de casa? É comum ver discursos bonitos em eventos e campanhas, enquanto, na prática, os resíduos continuam sendo descartados de forma irresponsável e práticas predatórias seguem em alta.
É hora de olharmos para o campo, sim, o agronegócio, e aprendermos com quem já faz. O Sistema Campo Limpo, coordenado pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), é um exemplo real de como a logística reversa pode funcionar com eficiência e impacto.
Desde a sua criação, o sistema já recolheu mais de 800 mil toneladas de embalagens vazias de defensivos agrícolas que poderiam ter poluído rios, solos e áreas naturais inteiras. E mais: grande parte dessas embalagens foi reciclada e voltou ao mercado como matéria-prima.
Enquanto isso, em muitos destinos turísticos, o visitante ainda não tem sequer uma lixeira para separar o lixo. Em grandes festivais culturais, toneladas de resíduos vão direto para aterros, sem qualquer processo de triagem ou reaproveitamento. Há algo errado nessa equação.
A sustentabilidade precisa deixar de ser um enfeite para se tornar estrutura. O turismo e a cultura têm um papel enorme na formação de mentalidades e comportamentos. Eventos, centros culturais, roteiros turísticos, todos têm o poder de ensinar e transformar. Mas para isso, é preciso mais do que discursos: é preciso prática, compromisso, e, sim, responsabilidade.
O que o Sistema Campo Limpo mostra é que não basta empurrar o problema para o consumidor ou para o poder público.
A responsabilidade é compartilhada: indústria, distribuidores, produtores rurais e consumidores fazem parte de um mesmo sistema. Essa lógica pode, e deve, ser aplicada ao turismo e à cultura.
O Brasil tem exemplos positivos e soluções inteligentes. Se o agronegócio já mostra que é possível dar destino correto a toneladas de resíduos, o que impede outros setores de seguir o mesmo caminho?
Sustentabilidade não é acessório. É dever. E o turismo e a cultura têm muito a aprender com o campo.
