Orlando Caliman: o que o Espírito Santo poderia ganhar com uma abertura maior da economia brasileira?

A economia capixaba é uma das mais abertas externamente – senão a mais, dentre as demais economias estaduais. A corrente de comércio exterior, compreendendo a soma das exportações com importações, representou 65,7% de toda a riqueza nova produzida em 2024. No caso do Brasil, com uma economia considerada fechada, esse percentual foi de 28%.  Portanto, temos nesse caso uma economia aberta dentro de uma economia fechada. Confira a análise de Orlando Caliman, diretor econômico da Futura.

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* Por Orlando Caliman

Seria até natural supor-se que, numa condição de economia mais aberta, os potenciais impactos de um evento adverso como o do tarifaço, impetrado pelo presidente americano, seriam, em princípio, proporcionalmente mais elevadas do que a média geral. Porém, desde que adicionalmente contando também com uma exposição maior a um único ou poucos mercados. Que é onde se encaixa a economia capixaba.

Alguns analistas avaliam que o fato de a economia brasileira ser muito fechada pode até amenizar os impactos. No entanto, a torna ainda mais resistente às transformações tecnológicas em curso no mundo, distanciando-a das economias mais avançadas. No meu entender, pode até trazer vantagens de curto prazo. No entanto, sem nos tirar de uma trajetória que vem se mostrando deletéria e que não nos ajuda a sair da bolha da mesmice. De ausência de tração.

Tenho observado também analistas mais ousados que estão batendo na tecla da abertura econômica. Será que o Brasil numa economia mais aberta e adicionalmente na condição de maior integração e inserção em cadeias globais não teria a seu favor um leque maior de oportunidades de evadir-se ou aliviar-se do tarifaço antiliberal americano, que, sem dúvida faria enrubescer Milton Friedman, prêmio Nobel de economia e o pai do liberalismo econômico?

Se bem nos valermos da histórica econômica recente, praticamente nenhum país galgou patamares mais elevados de desenvolvimento sem abrir-se economicamente. O caso mais emblemático é o da Coreia do Sul, aplicando uma política de abertura bem seletiva inicialmente, mas que gradualmente foi liberando na medida de ganhos de competitividade sistêmicas e setoriais.

Nesse novo mundo de abertura, que logicamente não seria o de Trump, poderíamos imaginar como a economia capixaba poderia se beneficiar. No meu entender teria tudo a seu favor. Reforçaria a sua condição de “hub” não somente comercial, mas também de transformação e de agregação de valor. Ou seja, já teríamos as precondições essenciais e diferenciadas estabelecidas.

O choque do tarifaço pode nos trazer lições, até amargas, mas também nos apontar soluções mais seguras, transformadoras, viáveis e sustentáveis no longo prazo.

*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência

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