Por que algumas pessoas se esquecem do que sonham e o que isso revela sobre a saúde mental

Por que algumas pessoas se esquecem do que sonham e o que isso revela sobre a saúde mental

Você já teve um sonho incrível durante a noite, cheio de detalhes e emoções, mas ao abrir os olhos, ele simplesmente evaporou? Ou talvez você seja daquelas pessoas que raramente se lembra de ter sonhado? Esse esquecimento é extremamente comum e revela processos fascinantes do nosso cérebro durante o sono. A ciência vem desvendando por que isso acontece e o que essa memória fugaz pode significar para nossa saúde mental.

A principal razão para esquecermos os sonhos reside na forma como nosso cérebro funciona durante o sono. Os sonhos mais vívidos ocorrem principalmente durante a fase REM (Movimento Rápido dos Olhos).

Nessa etapa, embora o cérebro esteja muito ativo, quase tão ativo quanto quando estamos acordados, algumas áreas cruciais para a formação de memórias de longo prazo estão menos ativas. Especificamente, o córtex pré-frontal, responsável pela lógica, atenção e consolidação de memórias, fica “desligado”. É como se o gravador interno estivesse funcionando, mas sem fita ou sem energia para salvar o conteúdo.

Por que algumas pessoas se esquecem do que sonham e o que isso revela sobre a saúde mental

Além disso, a química cerebral muda radicalmente. Durante o sono REM, os níveis do neurotransmissor norepinefrina (ou noradrenalina), associado à atenção e ao estresse, atingem seu ponto mais baixo. Acredita-se que a norepinefrina seja essencial para fixar memórias. Sem níveis adequados dela no momento do sonho, a informação simplesmente não é “etiquetada” como importante para ser guardada. Outro neurotransmissor, a acetilcolina, está alto durante o REM, promovendo a atividade cerebral onírica, mas sua interação com a baixa norepinefrina parece criar um ambiente pouco favorável para a memória.

O momento do despertar também é decisivo. Se você acorda naturalmente durante ou logo após um período REM, as chances de lembrar do sonho são muito maiores. Isso ocorre porque o conteúdo do sonho ainda está ativo na memória de curto prazo (de trabalho). Você pode então transferi-lo conscientemente para a memória de longo prazo. Agora, se você acorda fora do REM, digamos durante o sono profundo, o sonho já pode ter se dissipado há muito tempo. Despertadores bruscos também podem interromper esse processo de transferência.

Mas e a atenção? Ela é um fator chave. Mesmo ao acordar no meio de um sonho, se sua mente imediatamente salta para preocupações do dia, como a reunião de trabalho ou o café da manhã, o conteúdo do sonho é rapidamente sobreposto e perdido. É como tentar ouvir um sussurro em um show de rock. Focar no sonho por alguns segundos ao acordar aumenta significativamente a chance de retê-lo.

Agora, o que o esquecimento ou a lembrança frequente de sonhos pode dizer sobre a saúde mental? A relação é complexa e intrigante. Pesquisas mostram que pessoas que naturalmente se lembram de sonhos várias vezes por semana tendem a ter uma atividade cerebral mais reativa a estímulos. Elas podem acordar mais brevemente durante a noite, mesmo sem perceber, criando mais janelas de oportunidade para registrar o sonho. Essa maior reatividade cerebral pode estar ligada a características de personalidade como criatividade ou introspecção, mas também pode refletir uma maior sensibilidade emocional.

Em termos de transtornos específicos, alguns padrões são observados. Pessoas com depressão maior às vezes relatam uma diminuição na lembrança de sonhos ou uma sensação de sonhos menos vívidos. Isso pode estar relacionado a alterações na arquitetura do sono e na química cerebral, incluindo desregulação nos sistemas de neurotransmissores como a serotonina e a norepinefrina.

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Por outro lado, condições como ansiedade e estresse pós-traumático (TEPT) estão frequentemente associadas a uma maior recordação de sonhos, particularmente pesadelos intensos e recorrentes. O alto nível de ansiedade parece aumentar a frequência de despertares breves durante a noite, facilitando a memória dos sonhos, e também intensificar o conteúdo emocional negativo dos próprios sonhos.

Distúrbios do sono também entram na equação. A narcolepsia, caracterizada por ataques repentinos de sono e entrada rápida no sono REM, está fortemente associada a sonhos vívidos e fáceis de lembrar, incluindo sonhos que ocorrem até mesmo durante breves cochilos. Alterações na regulação dos ciclos sono-vigília afetam diretamente a experiência e a memória dos sonhos.

É vital entender que não lembrar de sonhos é absolutamente normal para a maioria das pessoas e não indica, por si só, nenhum problema de saúde mental. Da mesma forma, lembrar-se de muitos sonhos não é um diagnóstico. A variação individual é enorme e saudável. A questão se torna mais relevante quando há mudanças súbitas e significativas no padrão de recordação de sonhos de uma pessoa, especialmente se acompanhadas de outros sintomas.

Por exemplo, se alguém que sempre se lembrou de sonhos passa subitamente a nunca lembrar, ou vice-versa, e isso coincide com alterações de humor, energia ou ansiedade, pode ser um sinal a ser observado. O surgimento frequente de pesadelos angustiantes também merece atenção.

Se você deseja melhorar sua capacidade de lembrar dos sonhos, técnicas simples podem ajudar. Manter um diário de sonhos ou um gravador de voz ao lado da cama é o método mais eficaz.

Ao acordar, mesmo no meio da noite, tente permanecer imóvel e quieto por alguns momentos, revivendo mentalmente o sonho antes de qualquer movimento. Anote ou grave tudo o que vier à mente, mesmo que sejam apenas fragmentos, sensações ou imagens. Com o tempo, seu cérebro pode aprender a dar mais importância a essas memórias noturnas. Evitar álcool e alguns medicamentos antes de dormir também pode influenciar, já que eles suprimem o sono REM.

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