Feito de garrafa pet e pedaços de plástico, biotijolo ergue espaços de cultura na periferia de Belém

Projeto comunitário no Jurunas utiliza garrafas PET para produzir biotijolos
Com criatividade e compromisso ambiental, uma iniciativa realizada no bairro do Jurunas, em Belém, tem transformado lixo em material de construção. Desenvolvido pelo Instituto Negritar em parceria com a Escola Viva em Movimento (EVEM), o projeto reaproveita resíduos sólidos para a confecção de biotijolos, que são blocos ecológicos utilizados em obras como muros e malocas.
Construir a partir do lixo
A técnica emprega cerca de 60% de resíduos plásticos, 30% de barro e 10% de capim para substituir o tijolo tradicional, reduzindo o impacto ambiental e dando novo significado ao descarte irregular de resíduos.
Silvana também colocou a proposta em prática em sua própria casa, construída com ecotijolos feitos de garrafas PET preenchidas com cerca de 300 mil sacolinhas plásticas. “Vi nisso uma forma de armazenar esses resíduos até que se encontre uma solução. As paredes ficaram muito resistentes. A ideia surgiu no meio do desespero, ao ver ilhas de lixo se espalhando”, lembra.
A residência, que não é a sede oficial do projeto, abriga hoje cerca de oito toneladas de materiais reaproveitados, incluindo mais de 8 mil garrafas de vidro e 400 ecotijolos.
Os biotijolos produzidos em oficinas abertas ao público já foram usados na construção do muro de uma maloca comunitária no espaço Ecoamazonas. A estrutura foi erguida com mais de 60 mil resíduos reutilizados e conta com a participação de estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA).
“Antes aqui estava abandonado, havia muito resíduo sólido. Em vez da gente tirar isso daqui e mandar pra outro lugar, a gente pensou: como é que a gente vai ressignificar?”, diz Joyce Cursino, fundadora da Ecoamazonas e uma das articuladoras da ação. “A gente quer ser uma inspiração, um modelo pra que outros espaços possam replicar essas ideias que estamos construindo aqui”, completa.
Campanha
Além da construção física, o projeto lança agora a campanha “Construa com a gente”, que convida qualquer pessoa a produzir seus próprios biotijolos em casa, utilizando garrafas PET limpas e secas, preenchidas com plásticos de uso único, como sacolas e copos descartáveis. Os blocos podem ser entregues em pontos de coleta espalhados pela cidade.
“Todo mundo pode fazer parte dessa construção coletiva. Acredito que a gente não pode zerar o lixo, mas pode ressignificar de uma forma inteligente”, reforça Joyce.
‘Reflorestar mentes’
Criada pela artista plástica Silvana Palha, a Escola Viva em Movimento atua há mais de 30 anos com arte sustentável em comunidades periféricas de Belém. A proposta, ela destaca, vai além do reaproveitamento.
“Não é só sobre reciclar. É sobre tirar dos rios, das ruas, da mata, algo que poderia virar poluição e transformar em algo útil e bonito”, diz Silvana. “A Escola Viva é um movimento, é compartilhar aprendizado sustentável e tentar amenizar o impacto ambiental dos resíduos no nosso meio.”
Além da bioconstrução, a EVEM promove oficinas de compostagem, hortas urbanas, criação de brinquedos e móveis sustentáveis, com o objetivo de, nas palavras de Silvana, “reflorestar mentes”.
VÍDEOS: veja todas as notícias do Pará
Leia as últimas notícias do estado no g1 Pará
Adicionar aos favoritos o Link permanente.