Israel anunciou ajuda humanitária de emergência ao Sudão do Sul nesta segunda-feira (18), em meio a notícias na imprensa internacional de que o governo de Benjamin Netanyahu negocia o envio de centenas de milhares de palestinos da Faixa de Gaza ao país devastado por guerras e doenças. Tal movimento de deportação violaria a lei internacional e resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Seguindo as instruções do ministro das Relações Exteriores, Gideon Saar, Israel proporcionará ajuda humanitária de emergência às populações vulneráveis do país. O Sudão do Sul enfrenta, atualmente, uma epidemia de cólera e sofre uma grave escassez de recursos. A ajuda incluirá suprimentos médicos, equipamentos de purificação de água, luvas e máscaras, kits de higiene especiais para a prevenção da cólera”, assim como “provisões de alimentos”, disse comunicado oficial de Tel Aviv.
O anúncio coincide com relatos da imprensa internacional de projeto orquestrado por Israel para transferir residentes da Faixa de Gaza ao país africano pobre e instável. A vice-ministra israelense das Relações Exteriores, Sharren Haskel, realizou uma visita oficial a Juba, capital do Sudão do Sul, na semana passada.
Apesar de oficialmente o governo do Sudão do Sul negar os planos, diplomatas da região ouvidos pelo jornal The New York Times confirmaram os planos de Israel. Em maio, o ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, disse que os habitantes de Gaza seriam, com sorte, em breve deslocados “para terceiros países”. Ele também afirmou no mês passado que Gaza é “uma parte inseparável da terra de Israel”.
O ministro do Gabinete de Segurança de Israel, Gila Gamliel, disse em uma entrevista televisionada que “1,7 milhão de palestinos deveriam deixar a Faixa de Gaza”. Outro ministro, Amichay Eliyahu, afirmou que Israel estava “expulsando a população” de Gaza, uma posição da qual o gabinete do primeiro-ministro se distanciou.
O governo Netanyahu tem instado os países — especialmente o Egito — a acolherem massas de refugiados de Gaza, mas sem sucesso. Algumas nações expressaram o medo de que Israel impeça os palestinos de retornarem, tornando-os refugiados permanentes — um medo compartilhado pelos próprios palestinos.
Na segunda-feira (18), o ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros, Badr Abdelatty, afirmou que o deslocamento em massa de palestinos é “uma linha vermelha que o Cairo não permitirá que seja cruzada”, colocando em risco a segurança nacional e a soberania do Egito. Em entrevista exclusiva à CNN Internacional na cidade de Al-Arish, Abdelatty afirmou que seu país está trabalhando por “diferentes canais, com um único objetivo: aliviar o fardo e o sofrimento do povo palestino”.
Ataques diários a campos de refugiados
Desde que anunciou planos para invadir o norte de Gaza e expulsar os palestinos novamente para o sul, Israel tem atacado abrigos para deslocados no bairro de Zeitoun, na Cidade de Gaza, de acordo com uma investigação da Al Jazeera. Desde 13 de agosto, Israel intensificou os bombardeios em Zeitoun, frequentemente atingindo diretamente os abrigos para deslocados.
O cerco e a violência contínua obrigaram milhares de palestinos a fechar suas tendas nos campos e fugir para o sul. O bombardeio indiscriminado de casas de civis e abrigos para deslocados faz parte de um amplo padrão de táticas de guerra israelenses que não fazem distinção entre civis e combatentes, o que evidenciaria o genocídio que ocorre na região, segundo especialistas da ONU.
Há cerca de 11 abrigos para deslocados em Zeitoun. Em cada um deles, vivem 4,5 mil palestinos sitiados e famintos. A maioria vive em apenas 3,2 km² (1,2 milhas quadradas), o que representa apenas 32% do tamanho de Zeitoun antes da guerra.
Na Faixa de Gaza, Tel Aviv cerca 2,4 milhões de palestinos, submetendo-os a um bloqueio humanitário total desde o início de março, que, segundo a ONU, ameaça a população de “fome generalizada”. O número total de mortes de palestinos em Gaza por causas relacionadas à fome induzida por Israel é de 263, sendo 112 crianças.
*Com The New York Times, Al Jazeera e AFP
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