Violência, bullying e evasão escolar: alunos de escola municipal recebem palestra psicoeducativa no bairro Gabriela

Violência, bullying e evasão escolar: alunos de escola municipal recebem palestra no bairro Gabriela em Feira de Santana
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Alunos da Escola Municipal Professora Eli Queiroz de Oliveira, localizada no bairro Gabriela, em Feira de Santana receberam nesta terça-feira (19) os membros da Comissão da Criança e do Adolescente da OAB, para uma palestra sobre bullying e violência na escola.

A palestra foi voltada para estudantes entre 9 e 12 anos que estão cursando o quarto e o quinto ano. A professora de Língua Portuguesa, Eliana Nascimento, explicou que ações como essa surgem da necessidade de dialogar com os estudantes sobre os temas que afetam diretamente a vida deles.

“O que motivou foi a necessidade de se fazer presente esse tema na escola. As crianças acham que apelidos, brincadeiras de mau gosto, não significam nada. A gente sabe que bullying é crime e futuramente podem ter vários fatores, a depressão, a desistência da escola e a violência na escola.”

Trabalhando há cerca de nove anos no local, a educadora reconhece o ambiente escolar como agente atuante também no combate às drogas que muitas vezes abre a porta da violência para a vida dos jovens.

“A gente trabalha em um bairro que é muito violento, temos alunos envolvidos com tráfico, perdemos alunos para o tráfico. A importância de trazer esse tema de violência para a escola é isso, essa necessidade de conscientizar esses alunos.”

Violência, bullying e evasão escolar: alunos de escola municipal recebem palestra no bairro Gabriela em Feira de Santana
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Bullying é um termo em inglês sem tradução direta, aplicado para se referir a práticas agressivas praticadas com a intenção de humilhar, discriminar ou intimidar alguém. A prática virou pauta para inúmeras discussões sobre suas consequências principalmente por ser comum entre os jovens no ambiente escolar. Em 2024 foi sancionada no Brasil a lei que tipifica o bullying e o cyberbullying como crime. A expectativa é que todos os ambientes que o jovem tenha acesso possam fortalecer um pouco a conscientização a fim de formar uma rede de proteção.

“É um trabalho de formiguinha. A gente vai fazer esse trabalho com eles, e espera que eles façam esse trabalho também lá na comunidade, com os outros colegas. Chegar em casa, falar com a mãe, falar com o pai. E a gente sabe que não é só na escola esse tema. Esse tema a gente tem que trabalhar na comunidade, na praça, na rua, na escola, campo de futebol. Todos os lugares as crianças podem sofrer isso”, pontua a professora.

Ronda Escolar

A ação é realizada também em parceria com a Ronda Escolar Portal do Sertão da Polícia Militar, atualmente sob o comando do Capitão Leandro Victor Araújo Santos. O Capitão explica que a PM, através da Ronda Escolar já desenvolve um trabalho de conscientização junto às comunidades escolares de Feira de Santana. Ele replica que o bullying não é apenas uma forma de violência para quem pratica, mas também uma forma de reproduzir e perpetuar o comportamento violento. 

“O bullying, assim como outros tipos de violência, consegue minar a harmonia dentro desses espaços impactando diretamente na saúde emocional de quem sofre, também no rendimento acadêmico e destacando diretamente a influência na evasão escolar. Outro mal que a gente pode destacar, já comprovado por várias pesquisas, é a incidência de episódios de depressão, ansiedade e de baixa autoestima em estudantes que sofrem ou que já sofreram bullying. E essa prática se desenvolve de várias maneiras, seja através de agressões físicas, verbais e psicológicas repetidas.”

O Capitão reforça que a Ronda Escolar Portal do Sertão trabalha em parceria com os demais órgãos no combate, mediação e prevenção das violências.

“A Polícia Militar desenvolve um trabalho de conscientização diariamente utilizando de métodos de comunicação e aproximação desses alunos, como palestras, rodas de conversa, círculos de construção de paz, buscando levar de forma efetiva a informação dos malefícios da prática do bullying e também conscientizar os alunos da importância de evitar e denunciar esse mal. Para tanto, trabalhamos de forma irmanada a rede de proteção à criança e o adolescente.”

Rede de proteção à criança e adolescente

A discussão e cuidado profissional é importante, pois práticas que podem parecer inofensivas, frequentemente até consideradas brincadeiras, muitas vezes causam impactos negativos na vida de alguém.

A advogada Fernanda Marques Dantas, que preside a Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente da OAB Subseção de Feira de Santana, informou que a palestra é ministrada pensando também nas formas em que o bullying pode acontecer, à exemplo do cyberbullying, modalidade em que o constrangimento acontece na internet.

“Hoje, com o acesso que essas crianças e adolescentes têm às redes sociais, isso se intensifica. É uma geração que as crianças em seus quartos ficam muito antenados em internet e tem acesso a tudo. E sem a supervisão dos seus responsáveis, isso aí traz um dano muito grande.”

Violência, bullying e evasão escolar: alunos de escola municipal recebem palestra no bairro Gabriela em Feira de Santana
Advogada Fernanda Dantas – Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

A advogada esclarece que o trabalho com os jovens é realizado através da psicoeducação, onde busca-se trazer orientações comportamentais que incentive o aluno a não praticar e a denunciar quando estiver diante de uma situação de bullying.

“Você não pode simplesmente trazer o tema de maneira técnica, como a gente tem em relação ao direito, mas de uma forma que eles entendam, compreendam e passem a replicar esses conhecimentos que eles adquirem nessas ações e evitar mesmo a ocorrência do bullying”, disse ao Acorda Cidade.

Fernanda alerta também que outras leis vêm amparando este trabalho de combate à uma realidade que se perpetua por muito tempo.

“Hoje em dia, não só com crianças e adolescentes, a saúde mental se tornou calamidade pública. Nós temos uma lei específica, que é a presença dos profissionais de saúde mental dentro das escolas, psicólogos no contexto escolar, bem como assistente social, psicopedagogo, para que seja feito um trabalho em conjunto.”

Incentivo à empatia

A advogada Givânia Queiroz, também atua na Comissão da Criança e Adolescente, na Comissão de Diversidade de Gênero e na Comissão da Pessoa com Deficiência.

Ela relata que os casos de bullying contra pessoas que portam alguma deficiência costumam estar atrelados ao pensamento de incapacidade, que é deturpado.

“Tem aquela falsa impressão de que a pessoa que comporta alguma deficiência é incapaz, e é uma inverdade, porque todo ser humano está apto a exercer aquilo que ele quiser fazer. E a sociedade deve estar aqui para apoiar, para incentivar. Todo mundo tem que respeitar o próximo, se fala muita empatia, a gente tem que ser empático.”

Violência, bullying e evasão escolar: alunos de escola municipal recebem palestra no bairro Gabriela em Feira de Santana
Advogada Givânia Queiroz – Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Givânia pontua que muitas vezes os jovens mantêm comportamentos que não consideram bullying, mas na prática quando recebem a orientação um reconhece no outro a prática.

“Às vezes, quando a gente fala de uma forma genérica, as pessoas pensam assim, ‘não, mas eu não faço isso’. Mas hoje nós percebemos que o tema bullying, quando foi abordado, as crianças apontavam uma para a outra e faziam assim: ‘você faz isso’. Então elas podem fazer sem saber que estão fazendo coisas erradas.”

A especialista também relata que apesar de vagaroso, é possível notar um avanço no que diz respeito às discussões sobre o tema.

“O avanço acontece muito lentamente, mas se você for olhar antes, 10 anos atrás, você vai ver que as coisas vão começando a melhorar porque a mídia toma uma dimensão maior. Assuntos que antes não eram abordados, hoje são mais abordados.” 

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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