Nesta terça-feira (19), centenas de manifestantes se reuniram em frente à Embaixada dos Estados Unidos em Brasília para denunciar o genocídio contra o povo palestino e reivindicar também o rompimento das relações diplomáticas e comerciais do governo brasileiro com Israel.
Com concentração na Praça Portugal, a mobilização foi organizada por diversas entidades do movimento social, incluindo sindicatos, organizações estudantis, grupos acadêmicos, coletivos de solidariedade internacionalista e movimentos populares. De acordo com os organizadores, o objetivo do protesto foi denunciar a cumplicidade dos Estados Unidos com as ações militares israelenses.
Sayid Tenório, vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal), foi enfático ao declarar que “todos os crimes que Israel está praticando na Faixa de Gaza e na Cisjordânia contam com o apoio, com o financiamento e com a proteção dos Estados Unidos nos organismos internacionais”.
Desde outubro de 2023, os bombardeios e operações militares de Israel em Gaza deixaram mais de 200 mil mortos. Desse total, cerca de 62 mil são mortes oficialmente registradas, com nome, sobrenome e registro, enquanto o restante representa vítimas indiretas da guerra, como explicou Tenório: “Israel está utilizando a fome como arma de guerra. Há mais de seis meses que não entra comida, nem medicamentos, nem água potável em Gaza. Crianças estão morrendo de inanição”.

Os manifestantes também direcionaram críticas ao governo brasileiro, exigindo uma postura mais firme e concreta em relação ao conflito. O protesto teve como uma de suas pautas centrais a exigência do rompimento imediato das relações diplomáticas e comerciais com Israel, além da responsabilização internacional pelo que classificam como crimes de guerra.
“É inaceitável que continue esse nível de crueldade, com crianças morrendo de fome e sede, e que a comunidade internacional continue silenciosa. Israel precisa ser responsabilizado e os Estados Unidos também”, destacou Pedro César Batista, integrante do Comitê de Solidariedade à Palestina e da Internacional Antifascista.
Ao fim do ato, bonecos representando o presidente norte-americano Donald Trump e o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu, foram queimados em frente à embaixada. A ação, simbólica, foi interrompida pela chegada do Corpo de Bombeiros, mas as chamas já haviam se extinguido. Segundo os manifestantes, o gesto representou “a indignação dos povos oprimidos contra as lideranças responsáveis pelo massacre em Gaza”.

A Faixa de Gaza, território palestino sob bloqueio terrestre, marítimo e aéreo imposto por Israel desde 2007, enfrenta uma das piores crises humanitárias do século. Desde o início da ofensiva militar intensificada em outubro de 2023, hospitais foram destruídos, escolas bombardeadas e áreas residenciais inteiras arrasadas. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 80% da população de Gaza foi deslocada e vive hoje em condições precárias.
O sistema de saúde está colapsado e os comboios de ajuda humanitária têm sido sistematicamente impedidos de entrar na região. “Diariamente, estão são divulgadas notícias estarrecedoras de crianças e pessoas idosas mortas pela fome”, denunciou Sayid Tenório.
Palestina e Saara Ocidental
Durante o protesto, também foi colocado em pauta a situação do Saara Ocidental, território ocupado pelo Marrocos desde a retirada colonial espanhola. Maria José Maninha, presidente da Associação de Solidariedade ao Povo Saarauí, destacou as semelhanças entre os dois conflitos: “Assim como em Gaza, o povo saarauí também sofre com a limpeza étnica, com a ocupação territorial e com o apoio de potências internacionais como os EUA e Israel”.
Segundo Maninha, “os drones utilizados pelo Marrocos são israelenses, os aviões são norte-americanos. Assim como o povo palestino é empurrado ao extermínio, o povo sarauí é empurrado ao deserto”.
As críticas ao papel dos Estados Unidos vão além do apoio militar atual. Manifestantes lembraram o apoio histórico dado por Washington à criação e consolidação do Estado de Israel, especialmente desde 1948, quando a ONU aprovou a partilha da Palestina. Na ocasião, o Brasil teve papel central na aprovação da divisão do território, presidindo a sessão da Assembleia Geral da ONU.
“A Palestina foi fragmentada com o aval das grandes potências. Desde então, Israel segue ocupando terras, avançando sobre Gaza e a Cisjordânia, com total apoio dos EUA. O que vemos hoje é o desfecho trágico de décadas de colonização e limpeza étnica”, afirmou Maria Antônia, do Comitê Anti-imperialista General Abreu e Lima.
Os manifestantes também denunciaram o que consideram como silenciamento e distorção das narrativas nos grandes veículos de comunicação. Segundo os organizadores, a mídia comercial brasileira tende a retratar o conflito como uma “guerra entre dois lados iguais”, quando, na realidade, trata-se de um massacre de uma população civil desarmada.
“Não se trata de uma guerra, e sim de um genocídio com o objetivo de exterminar um povo originário. O noticiário das TVs mente quando coloca Israel como vítima”, afirmou Sayid Tenório.
Desde o início da nova escalada de violência em Gaza, o governo brasileiro tem manifestado preocupação com a situação humanitária e, no âmbito da ONU, defendeu o cessar-fogo e o reconhecimento do Estado da Palestina. No entanto, os manifestantes afirmam que essas posições são insuficientes diante da gravidade da crise.
“É hora de o Brasil romper relações com Israel, suspender acordos militares e se posicionar claramente ao lado do povo palestino. Solidariedade não pode ser só discurso”, afirmou Pedro César Batista do comitê de solidariedade a Palestina.
“Do rio ao mar”
A palavra de ordem “Palestina livre do rio ao mar” frequentemente utilizada nos protestos representa a defesa do direito de retorno dos refugiados palestinos e o fim da ocupação israelense em todo o território histórico da Palestina.
“A luta é pela terra, pela vida, pela dignidade. O povo palestino quer de volta o que é seu. E não vamos aceitar a narrativa de dois Estados que só perpetua o apartheid. Gaza é resistência, é símbolo de luta contra o imperialismo”, afirmou Maria Antônia.
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O post Protesto em frente à embaixada dos EUA denuncia uso da fome como tática de guerra em Gaza apareceu primeiro em Brasil de Fato.