
Quem é professora suspensa após declarar que ganha mais com vídeos no Privacy e OnlyFans
A professora Rosana dos Reis Abrante, de 43 anos, foi suspensa após declarar que ganha mais com vídeos em plataformas de conteúdo adulto como Privacy e OnlyFans do que em sala de aula. Estabilizada como professora, mãe de duas filhas e casada há 22 anos, Rosana disse que nunca se imaginou fazendo conteúdo adulto antes.
Rosana é professora de Biologia do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), em Santa Teresa. Ela leciona para alunos do 3º ano do ensino médio, técnico e em turmas do ensino superior. Além disso, é coordenadora da graduação de Ciências Biológicas da instituição.
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Nas plataformas de conteúdo adulto, Privacy e OnlyFans, a professora compartilha fotos sensuais desde 2023 para quase meio milhão de seguidores. Em média, hoje, ela recebe R$ 25 mil por mês com as publicações.
Carreira acadêmica
Rosana é doutora em Biologia Animal pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Ela começou a carreira acadêmica logo após sair da faculdade, quando fez a graduação em Ciências Biológicas.
Natural do Rio de Janeiro, Rosana se mudou para o Espírito Santo quando era criança para morar em Vitória. Ela ficou na capital até passar no concurso público para lecionar biologia no Ifes.
“Assim que eu acabei o doutorado, já fiz o concurso e fiquei substituta nesse campus, depois fui efetivada. Eu fiz o concurso para o campus de Alegre, fiquei em segundo lugar, e aí me chamaram para Santa Teresa”, contou.
A rotina da professora inclui as aulas, orientação de projetos de pesquisa científica e a coordenação do curso. “Eu gosto muito de ser professora. Essa outra parte é uma coisa que me despertou um lado de ser mais desejada, de me sentir sexy, e eu acabei me descobrindo”, afirmou.
A professora Rosana dos Reis Abrante, de 43 anos, produz fotos sensuais para plataformas online e é professora do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), em Santa Teresa
Arquivo Pessoal
Conteúdo adulto
A professora contou que a ideia surgiu quando viu uma reportagem sobre uma professora de fora do Brasil que ganhava dinheiro para produzir esse tipo de conteúdo.
“Eu pensei: ‘vou fazer isso’. Pesquisei antes se eu podia, porque se fosse em uma rede particular, pensei que seria demitida. Mas eu pesquisei que como funcionária pública eu poderia ganhar por direitos autorais. Existem exceções na lei. Não sou eu quem vendo, eu cedo os direitos para a plataforma, que vende”, explicou.
Apesar de ter começado a expor parte da rotina nessas plataformas, Rosana contou que não tinha costume de se arrumar.
“Eu nunca fui muito sexy, nem ousada, nem muito arrumada. O meu visual do dia a dia é tênis baixo, calça jeans, blusinha normal. Eu nunca usei muita maquiagem, jóias. Meu estilo sempre foi muito simples”, contou a professora.
Ela acredita que muitas vezes incorpora um personagem para filmar e fotografar. “Às vezes, eu só acordo e faço um vídeo. E, às vezes, eu incorporo um personagem. Uma coisa que eu nem sabia que tinha. As pessoas gostam muito de ver o dia a dia, me arrumando pra sair, para academia. Se você coloca roupa muito curta, não desperta tanta curiosidade”.
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A professora Rosana dos Reis Abrante, de 43 anos, produz fotos sensuais para plataformas online e é professora do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), em Santa Teresa
Arquivo Pessoal
A produção do conteúdo despertou na professora um lado mais sensual, que não conhecia. “A gente vai ficando velha, vai perdendo a autoconfiança e essa coisa toda de me sentir desejada me satisfaz, eu gosto. Eu faço personal trainner, procedimentos. E pretendo continuar, enquanto eu achar que isso não é errado”, completou.
Entenda a punição
O Ifes decidiu punir a professora por quebra do regime de dedicação exclusiva e por “deslealdade institucional”.
Uma das penalidades da professora foi a suspensão de 35 dias, sendo 18 deles relacionados à declaração dada pela profissional (de que ganha mais com conteúdo adulto do que em sala de aula).
Outra penalidade foi uma punição administrativa que tira parte da remuneração que era paga a ela a título de dedicação exclusiva — uma espécie de gratificação —, por entender que ela também trabalhava com as plataformas de conteúdo adulto.
Segundo Rosana, financeiramente, com a retirada de gratificação, passa a receber quase 50% a menos.
A suspensão começou nesta terça-feira (19) e foi assinada pelo reitor da instituição, Jadir José Pela. Agora, a profissional pretende recorrer à Justiça comum para reverter a decisão.
No que se baseia o processo
O processo administrativo disciplinar (PAD) apontou que Rosana teria infligido a lei que obriga os servidores a serem leais à instituição e que ela teria causado constrangimento público à instituição.
“Ao afirmar, em entrevistas e comentários, que a remuneração obtida com a comercialização de conteúdo adulto supera, e muito, aquela percebida no exercício do cargo de professora da rede pública a servidora expôs o Ifes a uma situação de menosprezo em relação à atividade-fim desenvolvida por aquela autarquia. A imagem ficou comprometida ante a sociedade, principalmente ante aos alunos, que confiam que a educação pode ser o caminho para ascensão social e financeira”, diz um trecho do PAD.
Após a decisão final, ficou então decidido duas penalidades – uma sobre a declaração dela, classificada como deslealdade institucional (que rendeu a suspensão) e quebra dedicação exclusiva (por ter ganhos financeiros com as plataformas de condeúdo adulto, que tirou parte do salário da professora).
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Reprodução/Instagram
O que diz a professora
Rosana contestou as acusações e pediu o arquivamento do processo. Em sua defesa, afirmou que não fez críticas, denúncias falsas ou alusões negativas à instituição e nem usou o nome ou a imagem do Ifes em suas publicações ou entrevistas.
“A divulgação de ganhos foi feita apenas para esclarecer um fato da minha vida privada, sem intenção de prejudicar a instituição. Mencionar que meus ganhos com conteúdo adulto eram superiores ao salário de professora não configura deslealdade, mas sim uma constatação verídica e pessoal. Essa informação foi divulgada em perfil pessoal, sem vinculação institucional”, afirmou Rosana.
A defesa da professora também sustentou que não houve qualquer prova de que a conduta da servidora causou dano efetivo à imagem ou ao funcionamento do Ifes.
“Ela reiterou que não usou recursos públicos, não faltou ao trabalho e não vinculou sua atividade extra à instituição”, afirmou a defesa.
Sobre a dedicação exclusiva, ela disse que a produção de vídeos se enquadra como exceção legal, comparável a direitos autorais:
“A atividade que exerço (conteúdo adulto) está dentro das exceções permitidas pela lei. Trata-se de cessão de direitos autorais de obras audiovisuais próprias, algo análogo a escrever um livro e receber pelos direitos autorais”, disse a professora.
A defesa também anexou declarações de coordenadores e diretores do campus atestando sua assiduidade, pontualidade e qualidade no trabalho, além de apoio de alunos que ressaltaram seu profissionalismo. Entre elas, está uma declaração de Ednaldo Miranda de Oliveira, diretor-geral do campus do Ifes, em Santa Teresa, onde a professora atua.
“Até a presente data, não há quaisquer registros que desabonem sua conduta profissional ou comprometam sua atuação como docente neste campus”, disse o diretor.
O que disse a acusação
No relatório final, a comissão que analisou o caso concluiu que, ao dar entrevistas ressaltando que ganhava mais fora da sala de aula, a professora “depreciou a imagem da instituição”:
“A servidora foi considerada desleal ao Ifes por afirmar publicamente que sua remuneração com conteúdo adulto era muito superior ao salário de professora, depreciando a imagem da instituição. Essa postura ganhou grande repercussão na mídia, afetando a credibilidade do Ifes, especialmente perante os estudantes e suas famílias”.
Sobre a dedicação exclusiva, a comissão também destacou que Rosana foi advertida a parar, mas “manteve a atividade, não buscando orientação prévia da instituição”, o que justificaria a perda da gratificação especial.
Decisão do reitor e alternativa de multa
O reitor do Ifes, Jadir José Pela, concluiu que houve falta de lealdade institucional e descumprimento do regime de dedicação exclusiva. Apesar disso, a penalidade foi ajustada para multa, permitindo que Rosana continue dando aulas.
“Aplico à servidora a penalidade de suspensão por 35 dias, além da reposição ao erário dos valores recebidos indevidamente a título de gratificação por dedicação exclusiva. Contudo, para não interromper as atividades letivas e evitar prejuízo aos alunos, autorizo a conversão em multa”, disse o reitor na decisão.
O valor da multa imposta pela reitoria seria de 50% do valor do salário durante o período dos 35 dias da pena. O g1 questionou a professora — que também exerce a função de coordenadora do curso — se pretendia pagar a multa.
“É muita responsabilidade (somar as funções de professora e coordenadora) para ganhar metade do salário. Optei pela suspensão sem salário”, disse ela.
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Reprodução/Instagram
Relembre
A professora de Biologia Rosana dos Reis, 43 anos, teria sido denunciada por pais de alunos por fazer fotos e vídeos sensuais nas redes sociais em junho de 2023.
Um ano após a polêmica, em 2024, ela disse ao g1 que o ganho mensal com a produção de fotos e vídeos em plataformas de conteúdos adultos era quase o dobro do que recebe por dar aulas.
“Por mês, eu consigo R$ 20 mil somente no Privacy, que é uma plataforma brasileira. Eu não tenho tempo de me dedicar a novos conteúdos e interagir com as pessoas, então faço apenas dois vídeos por mês, com cerca de sete minutos cada um deles”, disse a professora.
Ainda de acordo com Rosana, ela nunca teve problema com os estudantes em sala de aula devido ao fato de ter esses perfis. Ela também disse que mantém uma postura estritamente profissional com os alunos.
“Nunca ouvi uma gracinha. Todos meus alunos são sempre muito respeitosos e educados. Pelas costas, o que eles falam, não sei. Na época da denúncia, eles me defenderam muito, inclusive”, comentou.
Nota do Ifes na íntegra:
“O Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) explica que a penalidade aplicada à servidora se refere à quebra do seu contrato de dedicação exclusiva (DE) com a instituição. A dedicação exclusiva é uma gratificação paga ao professor ou professora que não exerça nenhuma outra atividade remunerada fora da instituição. É também opcional, ou seja, o docente poderia optar por não recebê-la.
Ao aderir ao regime de dedicação exclusiva, o servidor reconhece e concorda com as responsabilidades e restrições inerentes a essa modalidade. Ele ainda assume o compromisso de dedicar-se integralmente à instituição pública, garantindo que sua conduta esteja sempre alinhada com as exigências do regime de DE. As regras do regime, que proíbem o exercício de qualquer outra atividade remunerada, são de conhecimento público entre todos os servidores que optam por essa gratificação.
O processo administrativo no Ifes foi instaurado como um desdobramento da apuração da situação envolvendo a servidora, denunciada à Comissão de Ética dos Servidores Públicos. Após a tramitação do caso pela comissão, os documentos foram encaminhados para a Corregedoria, que viu indícios de quebra de DE e prosseguiu com a apuração.
Ao longo do processo, foi apurado que a servidora exerceu atividade profissional paralela e recebeu valores de outras fontes ao mesmo tempo em que continuava a receber os vencimentos pelo Ifes, incluindo a gratificação por DE. Ressalta-se que hoje profissões como digital influencer, youtuber, criador de conteúdo adulto e outras surgiram como novas formas de trabalho e geração de renda. É essencial reconhecer essas atividades, mas também avaliar se professores em regime de dedicação exclusiva estão cumprindo as obrigações desse vínculo.
Receber uma remuneração diferenciada exige dedicação integral à instituição pública, cabendo à Administração verificar se o exercício de atividades externas configura quebra do regime, assegurando o cumprimento do compromisso assumido.
A penalidade aplicada à servidora foi a suspensão por 35 dias, com a opção de conversão em multa. Ou seja, em vez de ficar 35 dias suspensa sem remuneração, ela poderá continuar em atividade com a retenção de 50% de sua remuneração referente a esses 35 dias. Foi ainda determinada a devolução dos valores recebidos indevidamente relativos à gratificação por dedicação exclusiva durante o período em que ela manteve atividade paralela remunerada.”
Após o envio da nota, o g1 questionou a respeito da acusação de desrespeito à lealdade da instituição e como ficam as aulas durante a ausência dela com a suspensão. A instituição respondeu que a Comissão do PAD entendeu que houve uma quebra de lealdade conforme o conceito da Lei 8.112 devido às declarações feitas pela servidora acerca de remuneração da instituição frente às remunerações de plataformas de conteúdo adulto.
Disse ainda que, assim, a penalidade aplicada levou também isso em consideração. Os ajustes para oferta das aulas serão feitos pela coordenação do campus nos próximos dias.
*Com informações de Felipe Sena.
Professora do ES que faz ensaio sensual no OnlyFans é denunciada por pais de alunos do Instituto Federal
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