
*Por Davi Setim, aluno da Escola Americana de Vitória
Quase tão mais essencial do que existir, é também o reconhecer-se. Isso não é novidade. Basta observar a rotina de uma pessoa qualquer, já nas manhãs, para perceber que a nossa sociedade adora espelhos. A boa — ou má — notícia é quando entendemos que eles não são o suficiente.
Há uma semana, tive a oportunidade de participar do programa EAV Professional Experience. Promovido pela Escola Americana de Vitória, o programa é uma daquelas criações que, como o espelho, dão o meio para que nos reconheçamos.
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Trata-se, mais objetivamente, de uma imersão profissional e supervisionada no mundo do trabalho. No meu caso, vivi essa imersão na Rede Vitória de Comunicações, mais precisamente na redação do portal Folha Vitória.
Antes do programa, eu tinha uma vaga ideia do que queria para mim. E, só agora, posso compreender que era vago aquilo que queria. Eu dizia gostar de escrever — o que me faz querer seguir pelo caminho de cursar Letras —, mas não sabia como isso poderia se aplicar num ambiente profissional e corporativo.
O curso de Letras, para quem o olha com atenção, não é uma trilha com um único destino. Ele se abre em diversas ramificações: ensino, pesquisa, revisão, tradução, jornalismo, curadoria cultural, literária e muito mais.
Essa multiplicidade é, ao mesmo tempo, empolgante e desafiadora. Porque, se por um lado nos dá liberdade, por outro nos exige responsabilidade em escolher — e escolher bem.
Durante a experiência, senti que me aproximei de uma resposta.
Ao viver de dentro o que antes era apenas ideia, percebi que há um lugar para mim nesse universo. E ter descoberto isso agora, no Ensino Médio, é de um privilégio que não tem como explicar. Já que tantos só conhecem a vida profissional em si, lá no final da graduação.
Aprendi o que era uma pauta, um mote, a escrever matéria com foco, precisão e clareza. Mas, sobretudo, aprendi que o trabalho com a palavra não é solitário. Cada matéria é construída a partir de vozes, escutas, edições, cortes — e isso me ensinou que escrever, profissionalmente, é também saber colaborar, adaptar, ouvir.
E mesmo que meu foco estivesse na escrita, não fiquei limitado a ela. Visitei os diferentes andares da Rede Vitória: vi de perto a complexidade da produção televisiva, o papel estratégico da equipe de publicidade, a criatividade dos setores de mídia social, a estrutura técnica da área de IT.
Essa circulação me deu uma dimensão concreta do que é o trabalho em equipe e da engrenagem que move a comunicação. Hoje, ao sintonizar num canal, ao ler um jornal na internet, ao escutar a rádio no carro, vou me lembrar dos dias em que estive nos estúdios da Rede Vitória.
Como explicá-los? Devo dizer que não é uma tarefa fácil. Cada andar é um universo inteiro conversando com outro. Quando tudo foi me apresentado no primeiro dia, cheguei próximo de nausear. É como uma locomotiva a vapor, que a gente não sabe como funciona sem a caldeira explodir.
Não quero assustar ninguém. Foi uma experiência maravilhosa. Os personagens que eu conheci na redação e nos estúdios ficarão comigo para sempre. Eles me ajudaram a me encontrar na amplitude do que escolherei como formação acadêmica, profissional e, inclusive, de vida.
O que vivi na redação do Folha Vitória era a vida em si mesma. Nos corredores e passagens da EAV, é comum encontrar frases de grandes personalidades e pensadores. Entre elas, num dos cantos da escola, há uma do filósofo-pedagogo, John Dewey, que diz o seguinte: “Education is not preparation for life; education is life itself”.
Talvez, para ter a vida, e não apenas vivê-la, seja necessário que nos lembremos dela a cada instante. Uma pessoa pode viver cegamente teleguiada, sem querer saber aonde ir e, assim, todo caminho lhe terá serventia.
Não me parece mau, só não me parece a vida plena. Lembrar que a temos é o ato que nos permite sermos e sabermos que somos. Reconhecermo-nos por feito.