Os profissionais da enfermagem vivem uma escalada de violência que não pode mais ser tolerada. Quem está na linha de frente, oferecendo cuidado, atenção e alívio à população, tem sido alvo de agressões físicas, verbais e psicológicas. Em vez de reconhecimento, muitos encontram hostilidade. Em vez de respeito, enfrentam ameaças dentro do próprio ambiente de trabalho.
O Fantástico expôs recentemente uma realidade dura: cerca de 80% dos trabalhadores da saúde no Brasil afirmam já ter sofrido algum tipo de agressão no exercício da profissão. Os relatos vão de ofensas e empurrões a situações extremas, como ameaças armadas. No Rio de Janeiro, a categoria tem denunciado cada vez mais episódios desse tipo, revelando um cotidiano de tensão e medo.
Trata-se de um problema grave, que afeta diretamente a qualidade da assistência prestada. Um profissional que atua sob constante risco de violência adoece mais, acumula sofrimento psíquico e pode desenvolver quadros de ansiedade, depressão ou estresse pós-traumático. O impacto chega também à população, que perde em cuidado, eficiência e continuidade no atendimento.
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Como deputada estadual e enfermeira, não posso me calar diante dessa realidade. A violência contra a enfermagem não é um episódio isolado; é uma crise silenciosa que ameaça tanto a dignidade do trabalhador quanto a saúde pública. É urgente transformar indignação em política pública, e é isso que tenho buscado com meu mandato.
Apresentei o Projeto de Lei nº 5039/2025, que institui o Relatório Anual de Vitimização dos Profissionais de Saúde. Esse instrumento vai reunir dados, mapear padrões de agressão e dar visibilidade a uma violência que hoje é subnotificada. Sem diagnóstico preciso não há política eficaz. Com esse relatório, gestores e autoridades terão condições de adotar medidas concretas e responsabilizar quem deve garantir a segurança das equipes.
Mas não basta registrar. É preciso agir de imediato. Por isso, protocolei também o Projeto de Lei nº 5058/2025, que estabelece medidas de proteção diretas e efetivas. O texto prevê a criação de Comissões de Humanização em todas as unidades de saúde, para promover acolhimento e prevenir conflitos. Determina a capacitação das equipes em relacionamento interpessoal, a notificação obrigatória dos casos de violência no SINAN, o atendimento médico, psicológico e jurídico às vítimas, além de medidas de proteção como a mudança de setor ou turno, sem prejuízo salarial, e o afastamento do agressor.
Essas iniciativas representam mais do que palavras no papel. São respostas estruturadas para que enfermeiros, enfermeiras e técnicos de enfermagem não estejam sozinhos quando a violência acontece. É o Estado assumindo a responsabilidade de proteger quem protege.
A enfermagem não pede privilégios. O que exigimos é respeito, condições dignas de trabalho e segurança. Cada enfermeiro, enfermeira ou técnico de enfermagem que sofre violência carrega uma marca que ultrapassa a vida pessoal e atinge todo o sistema de saúde. Proteger esses trabalhadores é proteger o direito de toda a sociedade a um cuidado humano, qualificado e contínuo.
O Rio de Janeiro não pode naturalizar essa realidade. É hora de transformar cada denúncia em ação, cada caso de violência em gatilho para uma resposta firme. Os projetos de lei que apresentei caminham nesse sentido: levantar dados, criar políticas, acolher vítimas e impedir que o agressor siga impune.
Quando um profissional da enfermagem é agredido, não é apenas uma pessoa que sofre — é toda a rede de saúde que sangra. Porque sem a enfermagem, simplesmente não existe cuidado.
Defender a enfermagem é defender a vida. E o meu compromisso é seguir firme nessa luta, dentro e fora do parlamento. Porque quem dedica sua vida a salvar outras merece, no mínimo, voltar para casa em paz.
*Lilian Behring é deputada estadual (PCdoB-RJ), enfermeira e defensora da saúde pública e da dignidade profissional.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
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