Na manhã desta terça-feira (26), 42 famílias do acampamento Baixinha do Bom Jesus, em Planaltino (BA), foram surpreendidas com a chegada de viaturas da Polícia Militar (PM) para cumprir uma reintegração de posse. A ação contou com ameaças e participação de pistoleiros.
De acordo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um policial chegou ao local sem farda e ameaçou os acampados, afirmando que voltaria à noite para atear fogo nos barracos, em atitude de intimidação.
“Uma máquina chegou para derrubar os barracos, as famílias foram para cima… Eles [os agentes policiais] já vieram ameaçando, [dizendo] que de noite voltam, que vão botar fogo nos barracos, que vai atirar”, relata Abraão Brito, dirigente do MST na Bahia.
Brito afirma que a determinação judicial de reintegração foi dada somente “por boca”, ou seja, os policiais não apresentaram ordem impressa. “Tem muita gente armada dizendo que é da polícia, mas que a gente sabe que estão a trabalho do fazendeiro”, diz o dirigente.
A área ocupada pelos sem-terra é conhecida como Fazenda Paraíso, uma propriedade que já consta na prateleira de terras do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para assentar famílias que aguardam por terra para viver e trabalhar no campo.

Brito explica que as negociações para a regularização das famílias na terra teve início em 2016, no governo de Dilma Rousseff (PT), mas foram paralisadas na gestão de Michel Temer (MDB).
Com a chegada dos Sem-Terra, há quase dez anos, a área se tornou referência de produção agrícola em Planaltino, na Chapada Diamantina, com destaque para o aipim, comercializado em feiras e comércios da região.
No despejo, idosos, crianças e mulheres grávidas foram retirados dos barracos. Agora, as famílias temem que a violência se agrave. “A gente tem foto do policial à paisana, que ameaçou voltar à noite. Então a gente está aqui numa situação delicada, né?”, alerta Brito.
O Programa Terra da Gente, lançado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estabelece as chamadas prateleiras de terras, que mapeiam e organizam diversas formas de obter e destinar áreas para a reforma agrária.
Conforme o Incra, a meta do programa é beneficiar 295 mil famílias agricultoras até 2026. Desse total, 74 mil famílias serão assentadas em novas áreas, e 221 mil serão reconhecidas ou regularizadas em lotes de assentamentos já existentes.
Em 2024, a Bahia tinha mais de 12 mil famílias acampadas esperando pela titulação das terras.
O post Sem-terra são despejados de local onde vivem há dez anos na Bahia sob ameaças: ‘vão botar fogo nos barracos’ apareceu primeiro em Brasil de Fato.