Família brasileira pede ajuda para resgatar jovem que viajou à Rússia para lutar na guerra contra a Ucrânia


Jovem de Bauru vai lutar pela Rússia e família pede socorro para trazê-lo de volta
O bauruense Victor de Sousa, de 24 anos, embarcou voluntariamente para a Rússia no dia 21 de junho de 2025. Ele assinou um contrato de um ano com o Ministério da Defesa da Federação Russa para atuar como soldado no país na guerra contra a Ucrânia.
No entanto, após experiências no front e perdas de companheiros de batalhão, a família dele passou a pedir ajuda ao governo brasileiro nas redes sociais para o jovem retornar ao Brasil.
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Segundo familiares, o plano começou meses antes, quando Victor expressou o desejo de trabalhar como militar no exterior para conseguir estabilidade financeira. A ideia era ficar um período curto fora, enviar dinheiro para a família e, depois, voltar para casa.
“Ele foi com uma proposta de trabalho de um amigo que mora na Rússia, dizendo que teria ganhos altos. Vendeu os pertences, comprou a passagem, que foi mais de R$ 5 mil, e se alistou. A motivação dele era essa: ganhar dinheiro e voltar”, contou a irmã, Loys Bruna, ao g1.
Jovem de Bauru vai lutar pela Rússia e família pede socorro para trazê-lo de volta
Reproduçaõ/Instagram
Contrato fraudulento
Bruna afirmou que, assim como outros estrangeiros, o irmão se sente enganado. Segundo ela, jovens de várias nacionalidades têm sido aliciados na internet com promessas de altos salários para lutar pela Rússia na guerra contra a Ucrânia:
“Foi totalmente ao contrário do prometido. Ele está se sentindo muito enganado, porque todos os imigrantes que estavam com ele faleceram no domingo (24)”, relatou.
Victor não tinha formação militar. Ao chegar à Rússia, após conexão no Catar, ele foi abrigado em uma igreja até o dia do alistamento. Segundo a família, recebeu apenas duas semanas de treinamento antes de ser enviado diretamente à linha de frente em uma tropa de assalto.
A família afirma que o contrato assinado por Victor foi escrito totalmente em russo, o que dificultou a compreensão. Por meio de tradução, eles descobriram divergências, como a indicação de que o jovem seria de Rondônia e, não, de Bauru.
“Ele assinou um contrato fraudulento. O que foi prometido era salário, assistência médica, mas nada disso aconteceu. Ele nem documentação militar tem”, disse Bruna.
Em seu último post, o jovem lamentou a morte de um amigo
Reprodução/Instagram
‘Escudo’ na linha de frente
De acordo com a irmã, Victor contou que, em teoria, deveria atuar em zonas mais seguras, mas, na prática, foi colocado no batalhão de assalto logo na primeira semana. Ela afirma que estrangeiros são usados como “escudo” na linha de frente.
“O que dá para entender é que eles pegam os imigrantes e jogam mesmo para a frente da batalha para morrerem. Sem experiência, sem treinamento adequado e com pouca proteção.”
Bruna relatou ainda que o irmão foi ferido na perna por estilhaços e precisou cuidar sozinho dos machucados: “Ele falou: ‘Estou com muita dor, mas, se eu ficar parado, vou morrer, porque pode vir drone ou artilharia’. Ele contou também que estrangeiros feridos foram deixados para morrer.”
Foto postada pelo rapaz durante o conflito na Ucrânia
Reprodução/Instagram
‘Todos os meus amigos morreram’
Em um relato publicado nas redes sociais na segunda-feira (25), Victor descreveu o sofrimento vivido no front. Ele contou que um colega chinês perdeu as duas pernas em combate e pediu para ser morto:
“Este era Baby, um chinês amigo. Durante nosso primeiro assalto, eu vi ele perder as duas pernas e implorar para que eu o matasse. Não o fiz, mas também não pude salvá-lo, porque existiam muitos drones kamikaze na área. Sobrevivi por Deus e não desejo que ninguém passe por isso.”
A última mensagem de Victor à família foi enviada na terça-feira (26). Ele disse estar entre Luhansk e Donetsk, sem receber salário e sem documentação militar:
“Me enganaram, nem me pagaram nada. Disseram que eu não iria para assalto. Nem treinamento direito tive. Estou na 7ª brigada de infantaria motorizada, 4º batalhão. Todos os meus amigos morreram.”
Bruna afirmou que a família está esgotada e teme pela vida do jovem: “A gente está desesperado, pedindo, orando e pedindo ajuda e vendo de que jeito a gente consegue trazer ele de volta. Eu falei com ele hoje [quarta-feira (27), 6h, e ele tinha perguntado se eu tinha conseguido pedir ajuda”.
Em seu Instagram, Victor divulga momentos da guerra
Reprodução/Instagram
Contato com Itamaraty e Embaixada
A família disse que busca a ajuda do Itamaraty e da Embaixada do Brasil na Rússia. Em e-mail encaminhado ao g1, o Ministério das Relações Exteriores informou que acompanha o caso e reforçou o alerta para que brasileiros não aceitem propostas desse tipo.
Já a Embaixada do Brasil em Moscou lamentou a situação e solicitou documentos que possam ajudar na identificação de Victor:
“Lamentamos a situação em que a família se encontra. De forma a possibilitar eventuais informações, é necessário que nos sejam fornecidos cópias de documentos de identificação da pessoa desaparecida e outras informações que facilitem sua busca e identificação.”
O g1 tentou contato diretamente com o Itamaraty e a Embaixada da Rússia no Brasil, mas não obteve respostas até a última atualização desta reportagem.
Victor e sua família celebrando aniversário ainda no Brasil
Reprodução/Instagram
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