
Vinícius Gritzbach
Reprodução/TV Globo
A investigação do Ministério Público (MP) sobre o esquema bilionário do Primeiro Comando da Capital (PCC) no setor de combustíveis revelou conexões do empresário e delator Vinícius Gritzbach — assassinado no Aeroporto Internacional de São Paulo no ano passado — com ao menos quatro alvos da megaoperação, deflagrada na última quinta-feira (28).
A organização criminosa atuava em toda a cadeia produtiva de combustíveis, começando no campo com as plantações de cana-de-açúcar, indo até o coração do mercado financeiro em São Paulo por meio das fintechs. A facção chegou a controlar 40 fundos de investimento, com patrimônio superior a R$ 30 bilhões.
Segundo a denúncia do MP, Gritzbach — conhecido pelas delações contra o PCC e a polícia — foi sócio de uma empresa com dois alvos da operação. Ele também foi ameaçado de morte por um dos integrantes da organização, considerado peça-chave no esquema de lavagem de dinheiro por meio dos postos de gasolina.
O g1 não localizou a defesa dos investigados até a última atualização da reportagem.
Veja abaixo a conexão de Gritzbach com os investigados:
Gritzbach e os Irmãos Salomão
A ligação mais direta de Vinícius Gritzbach se deu com os irmãos Caio Luiz Salomão e Eduardo Luiz Salomão. A denúncia do MP aponta que o delator do PCC era sócio deles na empresa “SP Investimentos e empreendimentos LTDA”.
Segundo informações da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), a empresa foi fundada em agosto de 2020, com capital de R$ 4 milhões, e sede na Anália Franco, na Zona Leste da capital paulista.
Em operação por menos de três meses, a empresa atuava na gestão de imóveis próprios, incluindo aluguel e venda, e prestação de serviços administrativos.
A investigação aponta que os irmãos Salomão têm “ligações notórias conexões” com Gritzbach e com José Carlos Gonçalves, conhecido como “Alemão”, uma das peças-chave no esquema bilionário.
Os irmãos Salomão eram proprietários de postos de gasolina usados para lavar dinheiro do PCC, que anteriormente estavam ligados ao “Alemão”.
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A Conexão com ‘Alemão’
Na denúncia, o “Alemão” é descrito como uma figura de peso no crime organizado, sendo “grande financiador de diversas ações do PCC”, incluindo o tráfico de drogas. Ele também teria contribuído financeiramente para o famoso assalto ao Banco Central em Fortaleza em 2005.
Gritzbach também tinha laços empresariais indiretos com “Alemão” por meio de filha dele. Yasmin Vitorino Gonçalves era acionista originária da empresa de Gritzbach com os irmãos Salomão, demonstrando uma interligação familiar e empresarial no esquema criminoso, segundo o MP.
“Alemão” também possui conexões com a Rede Boxter — rede de postos de gasolinha que está sendo investigada pelo Ministério Público paulista. A empresa foi citada nos pedidos de busca, apreensão e prisões enviados à Justiça.
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Ricardo Romano e a ameaça a Gritzbach
Apontado como “figura-chave” no esquema de lavagem de dinheiro, Ricardo Romano surge como outro ponto de conexão crucial nessa teia. A denúncia indica que ele teria sido o responsável por ameaçar Gritzbach. Detalhes da ameaça de morte não foram divulgados.
Segundo a denúncia do MP, Romano lavava dinheiro para o crime organizado por meio de suas redes de postos de gasolina e lojas de conveniência.
Na rede de negócios, Romano assumiu, por exemplo, quatro postos de combustíveis que antes pertenciam aos irmãos Salomão, demonstrando transferência direta dentro da organização criminosa.
A Receita Federal apontou diversas declarações fiscais falsas que ele confeccionou, especialmente a criação artificial de R$ 21,6 milhões em espécie como patrimônio em 2018, para justificar a aquisição de postos de combustíveis e transações tributárias.
Infográfico – Caminho do dinheiro no esquema do PCC
Arte/g1