O escritor e jornalista Flávio VM Costa afirma que o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do partido, tentou intimidá-lo ao divulgar seu número de celular. Costa é coautor da reportagem do ICL Notícias que denunciou o pagamento de propina ao parlamentar por chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores facções criminosas do Brasil.
“Ciro Nogueira não é conhecido por ser uma pessoa corajosa. Ele copiou a minha mensagem e a compartilhou no WhatsApp, com o meu número de telefone. Eu acho que ele agiu de má-fé”, denuncia, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. “A tentativa de intimidar o ICL não vai funcionar, mas eu lamento que o senador faça tamanha molecagem”, complementa.
Propina ligada a empresas de combustíveis
De acordo com o jornalista, uma testemunha, que teve o nome preservada na matéria do ICL por segurança, relatou ter presenciado o momento em que Roberto Augusto, conhecido como “Beto Louco”, afirmou que entregaria uma sacola de dinheiro a Nogueira. O depoimento foi dado tanto à reportagem quanto à Polícia Federal. Augusto é identificado como um dos principais líderes do esquema criminoso do PCC no setor de combustíveis, ao lado de Mohamad Hussein Mourad, o “Primo”.
“Essa fonte [denunciante], no ano passado, esteve presente em uma conversa com Beto Louco, e ele afirma que levaria uma sacola de dinheiro para o senador Ciro Nogueira”, conta. Segundo Costa, os chefes do esquema do PCC controlavam empresas do setor de combustíveis, alvo de processos na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP). A propina estaria ligada ao interesse em barrar sanções e influenciar projetos de lei em tramitação no Senado.
Fintechs e lavagem de dinheiro
Costa também destaca que a Operação Carbono Oculto, do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) com a Receita Federal, expôs a dimensão da infiltração do crime organizado na economia formal, como em fintechs da Faria Lima. “Não existe crime organizado sem a presença do crime organizado na economia legal. Talvez a novidade seria essa amplitude [do alcance da denúncia]. Nessa operação, foram descobertos 40 investimentos que talvez tivessem lavado o dinheiro pelo PCC”, aponta.
O jornalista explica ainda por que o setor de combustíveis é considerado estratégico para a lavagem de dinheiro. “Você pode ir no posto de gasolina e a bomba está lá, apontando um determinado valor. Mas, se você pagar em Pix, por exemplo, você vai pagar um valor menor. Isso facilita para você lavar dinheiro para o crime organizado”, indica.
Questionado sobre os interesses de Ciro Nogueira no setor, ele esclarece que o senador seria “uma espécie de representante do mercado financeiro no Congresso Nacional. Ele é um defensor dos interesses desses setores”.
Ataques à imprensa
Costa relaciona a tentativa de intimidação do presidente do PP a um padrão de perseguição da extrema direita contra jornalistas. “Esse tem sido um modus operandi da extrema direita. O que o Ciro Nogueira fez comigo é isso. Ele é um valentão. Não teve coragem de me dar entrevista. Mas optou por expor o meu número [de telefone]. É o método da extrema direita. Eles são, essencialmente, covardes”, declara.
O jornalista também critica a cobertura superficial da grande imprensa sobre o caso. “Há compromissos com os interesses do mercado financeiro. Eu acho que não há o interesse em que essa história seja devidamente aprofundada. Isso vai mexer com vários interesses de pessoas poderosas. Não só da área política brasileira, mas também da área econômica”, observa.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.
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