Escala 6×1 afasta mão de obra e setor de supermercados recorre a egressos do Exército

Os supermercados, que impõem jornada 6×1 aos trabalhadores, enfrentam dificuldade para encontrar mão de obra que aceite as condições da escala com apenas um dia de folga na semana. O país tem 357 mil vagas abertas no setor, segundo Associação Brasileira de Supermercados (Abras).  

Considerado porta de entrada no mercado de trabalho, os postos em supermercados não são atrativos para quem busca jornadas mais flexíveis e salários iniciais mais altos. A falta de trabalhadores expõe uma mudança, sobretudo dos mais jovens, por melhores condições de trabalho e equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

A associação reconhece que esses fatores dificultam a contratação nas redes de supermercados. Diante da crise de mão de obra, o setor tem recorrido a egressos do Exército para suprir a demanda em uma iniciativa piloto desde o último ano. 

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Segundo a Folha de S.Paulo, a Abras realiza encontro com jovens para tentar recrutá-los ao final do serviço militar obrigatório e já recebeu inscrição de egressos. O próximo passo é o lançamento de uma plataforma para reunir informações sobre as empresas com postos abertos. A iniciativa poderá ser ampliada para a Marinha e a Aeronáutica. 

Uma parceria da Associação dos Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj) com o Corpo de Fuzileiros Navais já funciona nesse sentido, desde o final do ano passado. De acordo com a Folha de S.Paulo, mais de 500 egressos da Marinha foram qualificados para vagas em redes de supermercados e já atuam nesse mercado de trabalho.

Oito de dez ocupações que respondem por quase 70% da força de trabalho empregada no setor de supermercados enfrentam escassez de mão de obra, aponta um levantamento feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). São operadores de caixa, estoquista, fiscal, açougueiro, balconista, vendedor, atendente, entre outros.

Uma denúncia do Brasil de Fato expôs que os trabalhadores do supermercado Zaffari, do Rio Grande do Sul, eram obrigados a cumprir jornada de até dez dias consecutivos, horas extras obrigatórias em todos os finais de semana, sem compensação salarial. As violações aconteciam em diferentes unidades da 12ª maior rede de hipermercados do Brasil.

Um salário e meio

O deputado federal Tarcísio Motta (Psol) relacionou a crise de mão de obra nos supermercados com a escala abusiva de trabalho e os baixos salários. “Com ofertas de trabalho que obrigam os trabalhadores a cumprirem jornadas de seis dias na semana com salários próximos ao mínimo, é fácil compreender porque ninguém quer estas vagas. Dia primeiro de maio todos nas ruas para pressionarmos pelo fim da escala 6×1”, escreveu nas redes sociais. 

Uma pesquisa do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro (SECRJ) em parceria com o Observatório do Estado Social Brasileiro mostra que trabalhadores que cumprem a escala 6×1 recebem até um salário mínimo e meio.

No Rio, o levantamento entrevistou 910 empregados de supermercados em diferentes funções, dos quais 72% recebem até R$ 2.120,00. A maioria relatou impactos negativos na vida pessoal e familiar devido à jornada de trabalho. Mais de 93% é favorável ao fim da escala 6×1.

“O estudo apresenta um panorama do sofrimento de quem trabalha seis dias por semana, mais de oito horas por dia, numa escala que não permite equilibrar trabalho e vida privada. Não é à toa que 92,8% dos trabalhadores do comércio – setor que mais aplica a escala – defendem a redução da jornada sem corte de salário”, afirma o presidente do SECRJ, Márcio Ayer.

Os setores mais atingidos por essa jornada são os de comércio e serviços, com destaque para supermercados, atacarejos e mercados, onde a precarização é mais evidente. As ocupações mais afetadas incluem operador de caixa, vendedor, telemarketing, além de cargos como estoquista, atendente, professor e auxiliar administrativo.

Confira a pesquisa completa em gráfico neste link.

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