Fim da escala 6×1 e isenção do IR são lutas centrais dos trabalhadores, apontam entidades na Bahia

Neste 1º de maio, Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores, movimentos populares e entidades sindicais vão às ruas em todo o Brasil em defesa de melhores salários e condições dignas de trabalho. Na Bahia, as mobilizações também estão aliadas com atividades culturais e de prestação de serviços, como em Salvador e Feira de Santana. A questão tributária e o fim da escala de trabalho 6×1 estão entre as principais pautas defendidas pelas organizações, que também se mobilizam para realizar um plebiscito popular em torno destes temas.

As mobilizações em defesa dos direitos trabalhistas tiveram início já no começo da semana, com a plenária e marcha organizada pelas centrais sindicais nessa terça-feira (29) em Brasília (DF). Na atividade, que contou com a presença de diversos representantes de sindicatos baianos, uma pauta de reivindicações da classe trabalhadora foi entregue aos presidentes dos três Poderes. Leninha Valente, presidenta estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT-BA), destaca que a redução da taxa de juros e a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil são algumas das demandas prioritárias para este período.

“A isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil é fundamental para o crescimento do nosso país. Vai possibilitar mais comida na mesa, vai possibilitar uma economia para o trabalhador e isso vai, com certeza, fazer com que o nosso país possa se desenvolver mais ainda”, explica.

A dirigente também aponta o fim da escala 6×1 como uma pauta central e que vai impactar na qualidade de vida dos trabalhadores e no aumento dos postos de trabalho.

“A gente quer, de fato, reduzir a carga horária sem reduzir salário para que as pessoas possam ter vida mais digna, ter uma vida melhor com a sua família, com um pouco de repouso, cuidado à saúde, e que outros trabalhadores possam, com isso, ter oportunidade de um posto de trabalho”, destaca Valente.

Precarização do trabalho

Dentre os atuais desafios apontados pelas organizações sindicais estão a precarização e o aumento da informalidade. Leninha Valente ressalta que a pejotização e a uberização do mundo do trabalho têm dificultado a organização dos trabalhadores, muitos dos quais sequer se enxergam como parte desta categoria.

“A pessoa só tem um carro, às vezes até alugado, e o fato dele definir o horário que quer trabalhar e o horário que pode parar, ele se acha empresário. Quando, na verdade, ele está sendo explorado por uma das maiores multinacionais hoje. Então [essas empresas] lucram às custas dos trabalhadores, e esse trabalhador não tem consciência ainda de que ele está sendo explorado”, destaca a presidenta. “Da mesma forma, a pejotização. É uma tarefa árdua para a gente fazer esse processo de conscientização da necessidade de organização deles enquanto categoria”, completa.

Juventude negra é a maior afetada pela precarização do trabalho, aponta Dieese / Levante Popular da Juventude

José Brito, mais conhecido como Zé Lindo, coordenação nacional do Levante Popular da Juventude, aponta que a juventude negra tem sido um dos principais setores da população afetados por esses problemas.

“Com o aumento da informalidade e a perda de direitos, muitos jovens, especialmente negros, acabam caindo em empregos que exploram sem nenhuma garantia de direitos ou proteção salarial. Não existe um sindicato, algo que assegure seus direitos. Aí a gente tem a falta de estabilidade no trabalho, a gente tem um desrespeito aos direitos dos trabalhadores”, salienta.

Segundo o boletim Para pensar o futuro: Juventude negra e o mercado de trabalho na Bahia, divulgado em setembro de 2024 pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), de 2013 a 2023 os jovens negros registraram maiores taxas de desocupação e subocupação do que os jovens não negros. Em 2023, por exemplo, os jovens negros com ensino fundamental incompleto e ensino médio incompleto registraram as maiores participações no total de informais, com 34,0%, seguidos daqueles com ensino fundamental completo, que participaram com 24,0% do total de informais.

“Para essa juventude, a luta por melhores condições de vida é uma demanda urgente. Então o Levante vem buscando um diálogo massivo com a população para romper essas barreiras com meios de organizar e mobilizar. A gente está aí, nas ruas, levantando bandeiras de igualdade e de justiça social para que a gente tenha melhores condições de trabalho e de vida”, destaca Zé Lindo.

Plebiscito Popular

Como parte da estratégia de mobilização dos trabalhadores, as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, que reúnem um amplo conjunto de partidos de esquerda, movimentos sociais e entidades sindicais, estão organizando um Plebiscito Popular para saber se a população é favorável ou não à criação de um imposto sobre grandes fortunas e à redução da jornada de trabalho. Até a votação, que será realizada em setembro, as organizações irão construir uma série de iniciativas com o intuito de ampliar o diálogo com a sociedade sobre esses temas.

“O Plebiscito Popular nos coloca em movimento, nos coloca em diálogo permanente com as pessoas. Ele vem com essa ferramenta, que é uma ferramenta, inclusive, de trabalho social, de trabalho popular, de educação popular”, destaca Zé Lindo.

Na Bahia, o lançamento do Plebiscito será realizado no dia 17 de maio, às 10h, na Praça da Piedade, em Salvador. A ideia é organizar atividades e comitês populares em todo o estado, para, em setembro, colher milhões de assinaturas da consulta pública e levá-las a Brasília, junto às demais do país. A expectativa, segundo o dirigente, é ampliar a capacidade política dos trabalhadores e movimentos populares para pautar mudanças na vida do povo.

“A gente espera que, no final desse processo, a gente tenha construção de força social também para fortalecer as lutas para os próximos períodos. Para, quem sabe, a revolução brasileira que a gente tanto joga no horizonte seja também fruto desse levantar da classe trabalhadora em prol de si. Em prol da classe trabalhadora.”

Em Salvador, as atividades do Dia do Trabalhador tiveram início às 6h com a 2ª Corrida do Trabalhador e da Trabalhadora, realizada no Farol da Barra. A programação no local segue ao longo do dia com serviços como emissão de ID Jovem, vacinação, atividades para crianças e atendimento a mulheres em situação de violência. A partir das 17h, também será realizado um ato das centrais sindicais com shows de Edson Gomes e Juliana Ribeiro.

Já em Feira de Santana, segunda maior cidade do estado, o Bloco da Trabalhadora e do Trabalhador vai às ruas nesta sexta-feira (2), a partir das 16h, com concentração no Centro de Cultura Amélio Amorim. A atividade se insere na programação da Micareta da cidade e terá como atração principal a banda Araketu.

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