‘Não podemos aceitar que empresas cheguem no país para escravizar’, diz liderança do breque dos entregadores no 1º de Maio

Nesta quarta-feira (1º), data em que se celebra o Dia dos Trabalhadores, entregadores por aplicativo participaram do ato convocado pelo movimento Vida Além do Trabalho (VAT), na capital paulista. A manifestação teve início na praça Oswaldo Cruz e seguiu pela avenida Paulista, com foco na luta pelo fim da escala 6×1.

A presença dos entregadores no ato se deu em apoio à pauta do VAT. Segundo lideranças ouvidas pelo Brasil de Fato, a jornada semanal imposta a trabalhadoras e trabalhadores no regime 6×1 tem semelhanças diretas com a rotina dos entregadores, que chegam a trabalhar até 16 horas por dia para garantir o sustento. Para a categoria, o modelo atual é um dos símbolos da “servidão moderna” promovida pelas empresas de plataforma.

Durante o ato, no alto de um carro de som na Avenida Paulista, Diego Araújo, uma das lideranças do Comando Nacional do Breque – grupo que reúne representantes de 60 cidades –, fez um pronunciamento crítico ao reajuste recentemente anunciado pelo iFood.

A empresa anunciou nesta semana que vai aumentar em R$ 0,50 o valor por entrega de bicicleta e R$ 1 no caso das motos. “Isso não é um reajuste, isso são migalhas”, afirmou o entregador.

Araújo também denunciou o tempo excessivo que os trabalhadores passam nas ruas. “Todas as empresas de aplicativo continuam com essa exploração, deixando com que os entregadores venham trabalhar 12, 13, 14, até 16 horas nas ruas de São Paulo.” Para ele, o discurso inicial das plataformas — de que atuariam apenas como intermediárias — deu lugar a uma concentração de poder sem precedentes: “Hoje eles têm o maior monopólio do mundo e nós não podemos aceitar dessas empresas chegarem no nosso país e escravizarem a nossa população”.

Nova paralisação se aproxima diante de impasse com empresas

A manifestação desta quarta-feira acontece exatamente um mês após o maior breque nacional de entregadores por aplicativo, realizado em 70 cidades do país. No centro das reivindicações, estão o pagamento de R$ 10 como taxa mínima por corrida e o aumento do valor por quilômetro rodado. O reajuste anunciado pelo iFood representa cerca de um quarto do que é demandado pelos trabalhadores.

É também nesta quinta (1º) que uma plenária virtual deve definir a data do próximo breque. 

A resposta das empresas ao movimento tem sido insuficiente, segundo as lideranças. O Comando Nacional do Breque, que reúne representantes de 60 cidades, classificou como “patético” o reajuste anunciado e deu prazo até 1º de maio para que o iFood abrisse mesa de negociação. Caso contrário, uma nova greve nacional será convocada até o início de junho.

Além do iFood, a empresa 99 também anunciou que deve retomar o serviço de entrega de comida por aplicativo — o 99Food — nos próximos meses, com um investimento de R$ 1 bilhão. A notícia acendeu o alerta entre entregadores, que temem a ampliação da lógica de precarização com mais um grande player no mercado.

Entre os principais pontos de pauta estão ainda o limite de três quilômetros para entregas feitas de bicicleta e o pagamento integral mesmo quando pedidos são agrupados. A reivindicação é por uma regulamentação que garanta direitos mínimos, como remuneração justa, transparência nos critérios de distribuição de corridas e condições dignas de trabalho.

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