O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou um aumento de um dos auxílios econômicos no país pagos pelo governo para a população. O chamado Auxílio de Guerra Econômica passará de US$ 90 para US$ 120. O auxílio alimentação seguirá em US$ 40 e, juntos, formarão uma renda básica de US$ 160 (R$ 908).
A medida, divulgada pelo mandatário nesta quarta-feira (30), véspera do Dia do Trabalhador, veio acompanhada de um aumento das aposentadorias, que subiram de US$ 45 para US$ 50. Em discurso, Maduro também disse que criaria um auxílio de proteção familiar, mas não deu detalhes do plano.
“Fizemos nossos esforços e estamos prontos para aumentar a renda mínima, indexada, para US$ 160 para os trabalhadores. Aumentaremos as aposentadorias para US$ 50, também indexadas, para mais de 5 milhões de aposentados. E darei continuidade à criação de um título unificado para a proteção das famílias trabalhadoras dentro do Sistema Pátria”, afirmou.
Maduro disse que o ajuste dos auxílios faz parte de um “plano de recuperação progressiva”. Segundo o governo, a meta é proteger o poder de compra dos venezuelanos. Na avaliação do presidente, esse é um “aumento valioso” dentro de um contexto de crescimento das sanções dos Estados Unidos contra a economia venezuelana, que atingem especialmente o mercado petroleiro.
“É um ajuste valioso porque essas últimas sanções contra a petrolífera, contra os investimentos em petróleo, tinham como objetivo tirar todo o nosso dinheiro, toda a nossa renda. Posso dizer aos imperialistas e à direita fascista criminosa: vocês falharam”, disse.
Os aumentos, no entanto, não reajustam o salário mínimo no país, que deve seguir em 130 bolívares, aproximadamente US$ 1,6 dólares segundo a última cotação da moeda estadunidense. O valor não sofre alterações há três anos. O último reajuste foi em abril de 2022, quando o valor total correspondia a US$ 30, mas as constantes disparadas no preço do dólar desvalorizaram a moeda nacional.
Maduro garantiu que o aumento das “receitas mínimas” (o conjunto de salário mínimo mais benefícios) está atrelado ao crescimento da economia venezuelana, no que ele chama de “indexação”. Em relação ao ano passado, o aumento em dólares foi de 23%. No entanto, a moeda local, o bolívar, perdeu valor frente ao dólar neste período. Em maio de 2024, a moeda estadunidense valia 36 bolívares. Em 1º de maio de 2025, o dólar custa 87 bolívares na cotação oficial.
‘Resistir é estabilizar’
No Dia Internacional do Trabalhador, chavistas marcharam em apoio ao governo nesta quinta-feira em Caracas. Hector Calderón é trabalhador da Companhia Venezuelana de Cimentos. De acordo com ele, o ideal seria um aumento dos salários mínimos, mas entende que agora isso não é possível, já que o bloqueio econômico dos EUA limita a capacidade do governo de pagar os benefícios que estão vinculados aos salários.

“Eu gostaria que tivesse um aumento nos salários, mas é o possível agora. Resistir é estabilizar. Esperamos esse aumento nos salários. A tendência era estabilizar esse ano, mas com Donald Trump a pressão aumenta e a insegurança é ainda maior”, disse ao Brasil de Fato.
Analistas ouvidos pelo Brasil de Fato entendem que é imprescindível aumentar os auxílios, mas que esses valores ainda seriam insuficientes. “Se não aumentasse os auxílios a situação ficaria muito complicada porque a inflação está subindo muito. Na minha avaliação, isso difere de uma política chavista, já que a ideia do [ex-presidente Hugo] Chávez era que o salário mínimo cobrisse a cesta básica. Isso não é o que está acontecendo, pelo contrário, aumentaram os auxilios, mas não o salário”, disse o economista Arles Gomes.
Marcha e migração
Apesar de ser realizada no Dia Internacional do Trabalhador e da Trabalhadora, a marcha em Caracas teve também como mote o pedido de libertação de Maikelys Antonella Espinoza Bernal, uma criança de dois anos de idade que foi separada dos pais nos Estados Unidos. Segundo o governo Maduro, os pais da criança são cidadãos venezuelanos, viviam nos EUA e foram deportados no plano de expulsões massivas de Donald Trump, acusados de fazer parte do grupo criminoso Trem de Aragua.
Pedro Sassone é vice-ministro para atenção ao migrante e participou da marcha. Para ele, há uma vinculação direta entre o caso da criança e a questão do trabalhador na Venezuela, já que a migração do país foi “induzida” pela pressão econômica dos EUA.
“Viemos prestar solidariedade aos trabalhadores porque esse é um dia de luta. Os direitos dos venezuelanos e dos povos ao redor do mundo são resultado da mobilização e da organização. E isso também está vinculado ao caso de Mikelys. Porque a situação dela e dos seus pais, além de ser uma violação dos direitos humanos, é também resultado da migração, que foi um fenômeno induzido pela pressão econômica dos EUA. Se o governo perde a capacidade de investir e de subir os salários, cria uma crise econômica que leva a essa migração”, disse ao Brasil de Fato.