
Demora na eleição do Papa sinalizará a polarização entre as correntes reformista e tradicionalista. Capela Sistina preparada para o conclave, em maio de 2025
Vatican Media/Handout via Reuters
Tudo pronto para os 133 cardeais eleitores ingressarem na Capela Sistina e só saírem de lá depois que o novo chefe da Igreja Católica for escolhido. O que faz esse conclave parecer atípico, antes do confinamento, é a falta de consenso sobre o sucessor do Papa Francisco dentro das duas alas predominantes — a reformista e a tradicionalista — além do fato de 80% dos eleitores serem novatos no processo, oriundos de dioceses distantes.
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Nesse panorama, a duração desta congregação de cardeais será determinante para denotar o quanto a Igreja sai unida ou dividida para o próximo Pontificado. Quanto mais o conclave se arrastar, maior será a impressão de que a Igreja está fragmentada: a demora sinalizará ao rebanho de 1,4 bilhão de fiéis que a polarização entre as correntes no Vaticano é também um reflexo do que ocorre na geopolítica mundial.
Como definiu o veterano vaticanista Marco Politi, este é o conclave mais espetacular dos últimos 50 anos. “Há um forte sentimento de fratura na Igreja. Esse será o seu principal desafio”, atesta.
A primeira votação, a única desta quarta-feira, dificilmente resultará na escolha final do Papa, mas serve como teste aos eleitores e aos candidatos. A partir do segundo dia, serão realizadas duas votações de manhã e duas à tarde. A expectativa de especialistas é de que se não houver um eleito no terceiro dia — ou seja, não for alcançada a maioria de dois terços dos votos — ficará clara a divisão.
Os dois últimos conclaves, em 2005 e 2013, duraram dois dias. Bento XVI foi eleito no quarto escrutínio e Francisco, no quinto. Muitos cardeais reunidos agora em Roma expressaram cautela sobre um desfecho rápido. Se no sábado não houver consenso, a reunião será interrompida por um dia para uma pausa de oração e fica comprovada a fragmentação do colégio eleitoral. A partir daí, poderão surgir surpresas.
De acordo com o que emergiu das reuniões informais entre cardeais nos dias que antecederam o conclave, nomes como o do italiano Pietro Parolin, segundo no comando do Vaticano, do filipino Luis Antonio Tagle, do francês Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha, o italiano Pierbattista Pizzaballa, patriarca de Jerusalém, são citados como fortes, mas ainda sem reunir o número necessário de 89 votos.
Por isso mesmo, para combater o favoritismo, houve uma espécie de fritura aos que se destacaram na lista de papáveis. Circulou o boato de que Parolin teve um pico de pressão e desmaiou, desmentido pelo Vaticano. Um vídeo de 2019 mostrando o cardeal Tagle num karaokê cantando “Imagine”, de John Lennon, viralizou e causou polêmica, com destaque para os versos “Imagine um mundo sem religiões” e “imagine que não exista paraíso, nenhum inferno sobre nós, acima apenas o céu”.
Se os dois candidatos favoritos não conseguirem aglutinar mais votos durante as votações, o processo estanca e os eleitores migram na direção de novos nomes. Nos últimos dias, as especulações deram protagonismo ao italiano Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha, ao maltês Mario Grech, que liderou o Sínodo, e ao americano Robert Prevost, prefeito do Dicastério dos Bispos — todos ligados a Francisco.
A frente conservadora é mais dispersa, com várias lideranças respeitadas, mas sem consenso em torno de um candidato. Nela figuram o húngaro Péter Erdo, o sueco Anders Arborelius e o congolês Fridolin Ambongo.
A dispersão geográfica —os eleitores vêm de 70 países e sete continentes — faz com que a maioria dos cardeais se reconheça apenas pelos crachás de identificação. Francisco imprimiu a sua marca neste conclave, que começa num clima globalizado e um tanto confuso, sob rigorosas normas de sigilo e confinamento, mas de muita negociação.