Liberdade de Expressão: o preço da palavra em tempos de silêncio

Em um mundo cada vez mais conectado, onde a troca de ideias deveria ser o pilar do progresso, a liberdade de expressão encontra-se cercada por novos desafios. 

Paradoxalmente, enquanto clamamos por esse direito, surgem tentativas de confiná-lo dentro de “limites seguros para a democracia”. Essa tendência nos leva a uma pergunta inquietante: quem decide o que podemos – e o que não podemos – dizer?

Fazendo uma regressão histórica, verifica-se que a expressão humana percorreu um longo caminho, desde as pinturas rupestres até os bytes velozes da internet, passando de seres que se comunicavam de forma arcaica, a seres conectados em tempo real, de modo que, atualmente, nossas vidas são marcadas por opiniões, curtidas e postagens incessantes, a ponto de questionarmos se a vida é aquilo que publicamos ou aquilo que decidimos ocultar. 

Contudo, em meio a essa conexão desenfreada, algo sutil e perigoso está acontecendo: a liberdade plena de se manifestar está sendo gradualmente reduzida. Seja pelo politicamente correto, com sua cultura woke, ou pela implacável patrulha do cancelamento, estamos testemunhando uma nova forma de censura. Ela nem sempre é explícita, mas é igualmente eficaz. 

Assim, surge uma questão inevitável: estamos vivendo a plenitude da liberdade de expressão ou fomos conduzidos, sem perceber, à sombra de uma nova forma de censura?

Os defensores dessas limitações esquecem-se de que, em uma sociedade próspera, a liberdade de expressão deve ser definida por quem fala, não por quem escuta. Quando permitimos que o direito de se expressar seja condicionado ao desconforto ou à discordância de outros, o que deveria ser um princípio inalienável se transforma em palavras mortas nos textos constitucionais.

A ficção de George Orwell parece ter se tornado uma profecia sombria. Em poucos anos, entre duas eleições e uma pandemia, acordamos para um mundo onde a censura se tornou onipresente. Palavras como “desinformação” e “fake news” ganharam definições subjetivas, servindo como ferramentas para silenciar vozes dissidentes. Instituições que mais se assemelham a um “Ministério da Verdade” julgam, punem e até destroem reputações com o simples toque de uma caneta.

A liberdade de expressão, antes um direito inalienável, é agora cercada por ameaças que vão do bloqueio em redes sociais ao banimento de plataformas globais, até punições mais severas. O que deveria ser uma prerrogativa básica foi substituído por uma cultura de censura silenciosa e generalizada, muitas vezes encapadas por membros das mais altas cortes dos poderes, que deveriam ser os primeiros a salvaguardar a liberdade de expressão prevista no artigo 5º, parágrafo IV da Constituição Federal.

O que se vê, portanto, é, mais uma vez, o ciclo da história buscando cassar liberdades individuais, o que já aconteceu desde o Egito Antigo, passando pelos tempos da idade e, ciclicamente ser requentada pela histórica contemporânea, sempre que a liberdade de comunicação e livre expressão escorre das mãos do Estado, seja com o radiodifusor, com televisão ou, mais recentemente, com a internet. 

Assim, o que temos na atualidade é a substituição da liberdade de expressão por um ambiente de medo, onde o silêncio é frequentemente mais seguro do que o discurso, deixando claro que somos punidos ao mero de se manifestar contrariamente à classe dominante ou, melhor dizendo, aos poderes dominantes. 

Se aceitarmos as limitações impostas por aqueles que se autointitulam fiscais do pensamento, estaremos permitindo que a censura nos empurre de volta à escuridão. É nossa missão garantir que a liberdade de se expressar permaneça inegociável, um princípio fundamental para o progresso humano e a democracia.

Dessa forma, busca por uma sociedade verdadeiramente próspera passa pela defesa intransigente da liberdade de expressão. Sem ela, não há espaço para o contraditório, para a criatividade ou para a evolução. E o preço de sua perda não será apenas a restrição do discurso, mas a regressão da própria civilização, a ponto de pensarmos que aqueles que fizeram os primeiros rabiscos nas cavernas para contar suas histórias, possuíam, em comparação a nós, mais liberdade de expressão do que temos hoje, em plena a era da informação.

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