Entre o ring light e a realidade: o que o Web Summit revela sobre o futuro da educação

Foto: Web Summit Rio 2025/Divulgação

No Web Summit Rio 2025, a maior conferência de inovação da América Latina, um tema se insinuava em quase todos os palcos, mesmo quando não era o foco declarado: a formação dos jovens para um futuro onde influência, inteligência artificial, saúde mental e identidade se entrelaçam.

Hoje, o sonho de carreira de milhões de adolescentes é ser criador de conteúdo. A lógica da influência virou modelo aspiracional.

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Plataformas como o TikTok já não são apenas redes sociais: são motores de busca, espaços de descoberta, e – mais do que nunca – arenas de comparação.

Mas o que isso significa para quem educa?

Significa que não estamos mais formando alunos apenas para serem empregados ou empreendedores, mas para serem marcas, vozes, presenças. E isso cobra um preço.

Em um painel sobre construção de reputação digital, Jade Picon, com apenas 23 anos, falou sobre o impacto da exposição precoce e da pressão por performance constante. “Existe um momento em que os seus ‘nãos’ vão te levar mais longe que os seus ‘sim’.”

Uma fala simples que escancara a urgência de trabalhar limites, autoconsciência e saúde mental como parte da jornada formativa.

Não por acaso, a saúde mental apareceu também nos debates mais “técnicos”. Em uma das palestras, as líderes do painel Women in Tech apontaram que a IA precisa ser liderada por quem a entende — e que tecnologia sem empatia só escala a desorganização emocional e operacional.

Essa é uma mensagem vital para escolas e universidades: ensinar a usar IA é importante. Mas mais ainda é ensinar para quê usá-la — e com qual consciência.

E o consumidor do futuro?

Segundo Carla Buzasi, CEO da WGSN, não existe um único perfil. Mas sim uma convivência entre comportamentos aparentemente contraditórios — como buscar conexão digital ao mesmo tempo em que se deseja desconectar para preservar a saúde mental.

Ela apresentou quatro perfis psicográficos que desafiarão as marcas (e, por extensão, os educadores) a compreender e respeitar a complexidade emocional das novas gerações:

  • Os guardas de privacidade, que querem menos estímulo e mais controle sobre seu ambiente digital.
  • Os convencionalistas, que rejeitam a hiperprodutividade e buscam o retorno emocional de suas ações (o tal do ROE: retorno de energia).
  • Os novos independentes, que confiam mais em microinfluenciadores do que em instituições.
  • E os energizadores, que buscam experiências que tragam pequenas alegrias no cotidiano.

Em vez de simplificar essas tendências, Buzasi propôs o oposto: ensinar e se comunicar a partir da aceitação das polaridades.

Vivemos, segundo ela, num tempo em que será preciso estar confortável em sentir alegria e raiva, conexão e cansaço — tudo ao mesmo tempo. Isso muda como educamos, como vendemos, como ouvimos e como formamos cidadãos e profissionais.

A pluralidade, inclusive, foi tema central no painel da L’Oréal Brasil. Com dados que doem: 56% dos brasileiros se declaram pretos ou pardos, mas 98% não se sentem representados nas marcas que consomem.

A resposta da empresa foi clara: capacitar creators negros e contratá-los como protagonistas da narrativa. Representatividade, ali, foi tratada não como gentileza — mas como estratégia de negócio.

Como isso tudo se conecta com educação?

De forma profunda.

Porque educar hoje é preparar para um mundo onde os jovens serão, ao mesmo tempo, criadores e consumidores de conteúdo, profissionais e marcas pessoais, alvos e autores de narrativas. E onde autenticidade será o principal critério de permanência.

A escola que entende isso não forma apenas para o mercado. Forma para o futuro — com visão, cuidado e coragem.

E há outro dado que não pode ser ignorado: o Brasil está se destacando como exportador de talento, soluções tecnológicas e criatividade.

Desenvolvedores brasileiros são cada vez mais requisitados por empresas globais, startups daqui conquistam prêmios internacionais, e nossa habilidade em improvisar, adaptar e se conectar com pessoas nos coloca em vantagem em um mundo em constante mudança.

Isso reforça o que deveríamos estar ensinando desde já: habilidades como pensamento crítico, empatia, curiosidade, experimentação e comunicação clara não são acessórios — são essenciais.

Elas não só moldam futuros profissionais mais completos, mas preparam nossos jovens para protagonizarem, e não apenas seguirem, os próximos movimentos do mercado e da sociedade.

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