Em Belo Horizonte, professores e estudantes da Escola Estadual Três Poderes se reuniram, nessa segunda-feira (12), em manifestação para denunciar a escalada de violência no ambiente escolar, na capital mineira e na região metropolitana.
A mobilização se deve a duas ocorrências recentes, uma na referida escola, localizada na Pampulha, e outra na Escola Estadual Paula Rocha, em Sabará. O ato denunciou também uma tentativa da Secretaria de Estado da Educação (SEE) de impedir a realização de manifestações na semana passada. A atitude repressiva foi tomada, segundo os docentes, sob a alegação de não prejudicar a imagem da escola.

A coordenadora geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), Denise de Paula Romano, que participou da ação, afirma que o desafio ultrapassa as barreiras nacionais.
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“Os casos recentes em Minas Gerais e no Brasil refletem uma tendência que também se verifica em vários outros países, independentemente do nível de educação do povo ou de desenvolvimento econômico”, alerta.
O número de vítimas de violência escolar no Brasil cresceu 254% no período de 2013 a 2023, segundo levantamento feito pela Revista Pesquisa Fapesp, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Dados do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) indicam que em 2013 foram registradas 3,7 mil vítimas de violência nas escolas, número que subiu para 13,1 mil, em 2023.
“A violência escolar está muito associada a questões psicológicas, mas agora tornou-se um amplo problema social, motivado pela rápida evolução das comunicações por meio das redes sociais. Não à toa torna-se tema de filmes, séries e documentários, como o recente ‘Adolescência’, ‘Vida Depois’, ‘Precisamos falar sobre o Kevin’ ou ‘Tiros em Columbine’”, recorda Romano.
Para ela, a violência, de forma geral, e no ambiente escolar, em particular, é em grande parte estimulada por discursos de ódio nas redes sociais; por transtornos psicológicos não tratados de alunos, como é um dos casos ocorrido em BH; por conivência de pais e responsáveis com atos de desrespeito às regras de convivência na escola e na sociedade; e em face da desvalorização das trabalhadoras em educação pelo governo.
Governo Zema é ineficiente
Romano critica a tentativa da SEE de abafar os casos de violência em ambiente escolar. A intimidação de forma velada da SEE teria ocorrido em reunião realizada na quarta-feira (7), quando um representante da secretaria teria determinado que os professores não organizassem passeatas ou protestos, com o objetivo de não chamar a atenção da mídia. A direção da unidade de ensino também foi orientada a não conceder entrevistas à imprensa, conforme a denúncia feita pelos professores.
Para a sindicalista, o governo de Romeu Zema (Novo), no entanto, deveria agir de forma contrária.
“É absolutamente necessário que o governo Zema informe sobre essas estatísticas e, principalmente, adote medidas para dar fim a esse ciclo de violência. Outro ponto central é o respeito e a valorização do professor e da professora como educadores e isso não quer dizer apenas a valorização do ponto de vista econômico, mas de respeito mesmo. Quando não há respeito nos níveis mais altos das relações, a tendência é que outros setores da sociedade também se norteiem por essas más diretrizes”, acrescenta.
Para ela, é necessário aderir a programas como o Escola que Protege, do governo federal, que tem como objetivo fortalecer a capacidade das redes de ensino para prevenir e enfrentar a violência nas escolas.
“Ele visa promover a formação continuada de profissionais da educação, fomentar a construção de planos de enfrentamento à violência e dar respostas a emergências, além de assessorar as redes de ensino em casos de ataques de violência extrema”, explica.
Relembre os casos
Na segunda-feira (5), uma professora foi agredida em sala de aula por um aluno de 15 anos na Escola Estadual Três Poderes, localizada na Avenida Portugal, no Bairro Itapoã. A agressão aconteceu após a docente chamar a atenção do estudante pelo uso de celular em sala de aula, que é proibido por lei.
O outro caso aconteceu na terça-feira (6), na Escola Estadual Paula Rocha, em Sabará, na qual uma supervisora de 61 anos denunciou agressão e ameaça de um aluno de 16 anos. Segundo o relato, o estudante entrou na sala de forma agressiva para tirar satisfações com a educadora acerca de questões pessoais, e começou a empurrá-la, tentando jogá-la no chão.
A violência persiste?
Denise Romano conta que a violência em ambiente escolar em suas formas mais extremas é observada com mais frequência a partir dos anos 1990, com a evolução da comunicação digital e das redes sociais.
“Antes desse período, eram mais comuns os trotes, os bulyings e outros comportamentos igualmente inaceitáveis, mas cujos efeitos eram menos danosos ou trágicos. Hoje, o que se vê é uma tentativa de negação da autoridade, da escola e até do conteúdo. São ideias que vão se difundindo na sociedade na medida em que crescem os conceitos e pré-conceitos da extrema direita que embutem o negacionismo do professor, da escola, da história”, analisa.
Os dados mais recentes, complementa Romano, mostram que o Brasil registrou 24 ataques a escolas em 22 anos, sendo que mais da metade deles ocorreu nos últimos quatro anos.
“Esse período foi marcado pela ascensão da extrema direita, por constantes ataques à educação e ameaças às universidades e instituições de ensino superior, em especial as públicas, atingidas, entre outras coisas, por dezenas de cortes orçamentários”, sinaliza.
O outro lado
A reportagem entrou em contato com o governo e aguarda respostas. O conteúdo será atualizado quando houver posicionamento.