
Por mais que Feira de Santana já esteja acostumada com a “sugesta”, a edição do programa Acorda Cidade desta segunda-feira (13), foi uma verdadeira tempestade de vozes impacientes, críticas afiadas e desabafos carregados de frustração. A pauta inicial era a micareta — sim, a tradicional festa popular que neste ano aconteceu em maio.
O prefeito José Ronaldo, durante uma coletiva de balanço da Micareta, pediu à população sugestões para uma nova data, além de falar sobre uma possível realização no mês de novembro. Mas o que era pra ser uma conversa com propostas virou palco de impaciências e incoerências.
Micareta: Quando fala, reclamam. Quando não fala, também
A ironia é escancarada, já que por anos, uma das críticas recorrentes era de que as discussões sobre a Micareta aconteciam em cima da hora. Pois bem, dessa vez, após a realização da festa o prefeito resolveu abrir o debate. A imprensa entrou na jogada, o radialista Dilton Coutinho deu espaço ao tema, mas um ouvinte, indignado, disparou: “A cidade cheia de problema e vocês falando de micareta!”
Ué, mas não era exatamente essa a reclamação? Que só se fala de festa em cima da hora? Pois agora que se fala com antecedência, ainda assim o povo chia. Parece que, em Feira, a reclamação tem vida própria, ela respira, se alimenta da pauta do dia e se manifesta com ou sem lógica.
Pesquisa de aprovação: o povo não perdoa
Outro ponto que acendeu os ânimos foi a recente pesquisa que deu ao prefeito José Ronaldo mais de 80% de aprovação nos primeiros 100 dias de governo. Um número expressivo que, para muitos, soa como um mistério digno de investigação científica. Um ouvinte não deixou passar: “Eu não sei de onde vem essa aprovação. A cidade tá cheia de buraco, falta remédio, professor, escola sem estrutura, e essa aprovação de 80%?”
Confiança nos dados? Baixa. Tolerância com a situação? Menor ainda.
Buracos, buracos e… mais buracos
Aí veio a cereja no bolo: os buracos. Um dos temas mais recorrentes e desgastantes de Feira de Santana. Durante o programa, Dilton mencionou que a Fraga Maia apresentava buracos. Um ouvinte prontamente reagiu: “Fraga Maia é um tapete! Vai na estrada do Papagaio ou do Francês pra ver o que é destruição.”
O caos é potencializado com a chegada da chuva nos pisos irregulares, onde basta chover para que crateras se abram como se a cidade fosse engolida por suas próprias falhas.
Outro ouvinte, disse que pensou em desistir de trabalhar com aplicativo por conta da buraqueira. E ainda mandou um recado direto: “Dilton você me pede paciência, mas como ter paciência com a mesma ladainha há 20 anos?”
A “sugesta” como patrimônio imaterial da cidade
No fim das contas, o que ficou claro no programa foi que a “sugesta”, essa mistura de ansiedade, impaciência e indignação, já se tornou parte do DNA do feirense. É quase um patrimônio imaterial da cidade. Ontem, o “Dia da Sugesta” se consolidou oficialmente, com cada ouvinte se revezando entre questionamentos, ironias e desabafos legítimos.
E, convenhamos, a incoerência também tem seu charme: pedem discussão com antecedência, mas não gostam quando ela chega cedo demais. Questionam pesquisas, mas se esquecem de como funciona sua metodologia. Pedem paciência, mas já esperam há duas décadas.
Entre a parada do trio e o estrago do buraco
Entre a parada dos trios da Micareta e o som seco dos pneus nos buracos da cidade, Feira de Santana segue seu curso: uma cidade que celebra, mas também cobra. Que dança, mas também reclama. Que quer festa, mas exige infraestrutura. E, acima de tudo, uma cidade onde a “sugesta” é talvez o maior símbolo de participação popular — ruidosa, intensa, e, por que não, necessária.
Porque se o povo não falar (nem reclamar), aí sim é que a cidade para.
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