Reparação e memória. Hoje, venho celebrar a recente aprovação pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) do meu projeto de lei que inscreve o nome de Edson Luís no Livro dos Heróis e Heroínas do Estado, que é mais do que um gesto simbólico, é um ato de justiça histórica. Como presidenta da Comissão da Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj (CDDHC) e mulher forjada no movimento estudantil, é impossível para mim separar essa conquista do chão que me formou. Escrevo essa coluna porque a história de Edson me atravessa.
Primeiramente, devo apresentá-lo a quem não conhece sua história e importância. Edson era um jovem de 18 anos, estudante secundarista vindo do Pará, que chegou ao Rio com o sonho de estudar e construir uma vida melhor. Em 28 de março de 1968, ele foi assassinado por policiais militares no restaurante Calabouço, em um protesto pacífico por comida digna e respeito. Um tiro no peito silenciou sua voz, mas não sua luta. Sua morte marcou uma geração, provocou a indignação do país e se tornou símbolo da resistência estudantil à repressão do regime militar.
Eu ainda não havia nascido quando Edson foi morto. Mas me identifico muito com a história de Edson Luís e, não apenas como parlamentar, mas como alguém que acredita no poder da educação como instrumento de transformação. Quando li sobre ele, senti como se estivesse lendo sobre um de nós. Ele era como tantos jovens da favela, do subúrbio, de longe do Sudeste: cheio de esperança, querendo estudar, viver, ser respeitado, buscando oportunidade longe de casa. Mas o Estado o negou esse direito. E negando, escancarou o quanto a violência é seletiva e cruel com quem tem cor, origem e classe social bem definidas desde que o Brasil tomou este nome.
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É com essa movimentação ancestral que me movo na política: a que entende a educação como resistência, como herança e como direito. Eu também fui a primeira da minha família a acessar a universidade. Também fui estudante em marcha, também ouvi bombas e gritos. Hoje sou deputada estadual, mas continuo com os pés no mesmo chão de luta. Afinal, a cabeça pensa onde os pés pisam. Quando a gente reconhece Edson como herói do povo fluminense, fazemos também um resgate democrático e histórico de jovens quase anônimos, que deram a vida na tentativa de ter mais dignidade no seu dia-a-dia.
Agora, aguardamos a sanção do governador para transformar esse reconhecimento em lei. E esperamos, de verdade, que o excelentíssimo governador do Rio compreenda o que isso representa. Inscrever o nome de Edson Luís no Livro dos Heróis e Heroínas do Estado do Rio é dizer ao Brasil que nossa memória importa. Que a democracia importa. Que não esqueçamos os que vieram antes de nós. Que um jovem, de tão longe que veio estudar no Rio, e morreu por isso, merece estar ao lado dos grandes nomes da nossa história.
Como presidenta da CDDHC, sei o quanto é urgente recontar a história a partir dos nossos. Edson Luís não se foi em vão. Meus bravos decanos Luiz Paulo e Carlos Minc, que assinam a coautoria (e digo com muita honra!), contaram em plenário um pouco da história do nosso herói, como que seu corpo foi levado pelos colegas até a Assembleia, num ato de coragem e denúncia. E hoje, quase seis décadas depois, é também ali que seu nome será eternizado. Isso não é apenas homenagem; é justiça! É memória viva, que nos ajuda a não repetir os erros do passado e nos guia na construção de um presente mais justo, onde nenhum estudante precise morrer para ser ouvido.
Edson Luís vive. Vive em cada sala de aula que resiste, nos corações de jovens que lutam por melhorias, por moradia e comida. Vive na ideologia e também como instrumento de transformação.
Edson Luís, presente! Por justiça, memória e verdade!
*Dani Monteiro é deputada estadual (Psol/RJ) e presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.