O acordo entre os governos do estado de São Paulo e federal, fechado nesta quinta-feira (15), finalmente permitiu um pouco de tranquilidade aos moradores da favela do Moinho, no centro da capital paulista, após dias de forte repressão policial. “Essa semana estava parecendo a Faixa de Gaza aqui. Polícia de todos os lados, bombas, balas de borracha… Tudo o que vocês imaginarem”, relata Alessandra Moja Cunha, representante da Associação dos Moradores do Moinho, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
“Hoje eu vou poder dormir sabendo que não vou acordar com polícia na minha porta”, comemora Cunha, aliviada. Ela conta que, apesar das tentativas de diálogo com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) e o governo estadual, apenas com a intervenção do governo federal os moradores conseguiram abrir um canal de negociação. “Em meio aos ataques, tentamos um diálogo o tempo todo, sem sucesso. Acionamos o governo federal, foi aí que conseguimos”, afirma.
A comunidade se mobiliza agora para garantir a segurança das famílias cujas moradias foram impactadas por demolições promovidas pela gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) nos últimos dias. Muitas casas na favela são sobrepostas, e a derrubada de construções desocupadas acabou comprometendo estruturas vizinhas, onde ainda havia moradores.
“Eles estavam querendo derrubar a casa de baixo, com morador em cima. Isso abalou a estrutura dessas moradias”, alerta Cunha. Ela anunciou que uma reunião entre a associação e os moradores será realizada nesta sexta-feira (16) para discutir estratégias de proteção às famílias e às habitações que permanecem no local.
Segundo a liderança, o diálogo deve continuar com representantes tanto do governo federal quanto estadual. “Continuamos na luta”, conclui. Os moradores agora esperam que não haja mais operações repressivas até a garantia de moradia digna para todas as famílias, que estão sendo desalojadas para que o terreno da União passe para o governo de São Paulo.
Entenda o acordo
O acordo entre a administrações federal e de São Paulo trata da destinação do terreno da favela do Moinho e o reassentamento das mais de 800 famílias que vivem na comunidade. O plano prevê um subsídio de R$ 250 mil por família (R$ 180 mil provenientes do Minha Casa Minha Vida, R$ 70 mil do programa estadual Casa Paulista) para a compra de imóveis em qualquer cidade do estado. Também foi ampliado o valor do auxílio-aluguel de R$ 800 para R$ 1.200.
O anúncio ocorre após dias de tensão e denúncias de violência policial contra os moradores, que relataram agressões, despejos forçados e demolições de casas habitadas. Segundo o ministro das Cidades, Jader Filho (MDB), o acordo pode ser suspenso caso o governo estadual mantenha ações repressivas na área. A tratativa ocorreu após as recentes mobilizações dos moradores, que culminaram na presença do governo federal para garantir um diálogo e avanços no processo de regularização da operação de despejo da área por parte do estado.
Para ouvir e assistir
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