Grupo curdo PKK anuncia sua dissolução e encerra mais de 40 anos de luta armada contra Turquia

O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) anunciou na segunda-feira, 12 de maio, que decidiu se dissolver e encerrar sua luta armada contra o Estado turco, que durou mais de 40 anos. O anúncio foi feito alguns meses depois que o líder do PKK, Abdullah Öcalan, que está preso, emitiu uma declaração da prisão intitulada “Apelo à paz e a uma sociedade democrática”, na qual pediu que o grupo depusesse as armas e se dissolvesse.

De acordo com a The Firat News Agency (ANF), afiliada ao PKK, Öcalan, de 77 anos, deu um “passo histórico” com seu apelo, pois “colocou a mudança e a transformação” na vanguarda da agenda do grupo.

O PKK foi fundado por Abdullah Öcalan na Turquia em 1978, com a missão de criar um estado independente para a população curda. Posteriormente, o objetivo do partido mudou para a busca de autonomia e maiores direitos para os curdos na Turquia. Os curdos, cuja população é estimada entre 30 e 45 milhões, habitam, há séculos, grande parte de diferentes países da Ásia Ocidental, incluindo o leste da Turquia, o norte do Iraque e o oeste do Irã, além de partes menores do norte da Síria e da Armênia e são considerados a maior nação sem país do mundo.

Entretanto, suas aspirações de autodeterminação esbarraram na perseguição dos governos de seus países, que os pressionaram a aceitar a integração.

Em 1984, o PKK iniciou a luta armada contra o Estado turco, que continuou por quatro décadas e custou estimadas 40 mil vidas. O grupo, designado como “organização terrorista” pela Turquia, pela União Europeia (UE) e pelos EUA, operava na Turquia e no norte do Iraque, com aliados operando em áreas habitadas por curdos na Síria e no Irã.

Abdullah Öcalan: da luta armada à reconciliação

Abdullah Öcalan fugiu para a Síria em 1979, juntamente com vários membros do PKK, na esteira da agitação política na Turquia, um ano após a fundação do partido. Durante as décadas de 1980 e 1990, o então presidente da Síria, Hafez al-Assad, permitiu que o PKK estabelecesse bases e campos de treinamento na Síria e no Vale de Bekaa, no Líbano, que estava sob o controle da Síria na época.

Devido a pressões geopolíticas, Hafez al-Assad pediu a Öcalan que deixasse a Síria em 1998. Um ano depois, o líder do PKK foi preso por um agente das forças de segurança turcas no Quênia. Öcalan foi inicialmente condenado à morte sob a acusação de “traição e separatismo”, mas a sentença foi alterada para prisão perpétua depois que a Turquia aboliu a pena capital em 2004, na tentativa de se tornar membro da União Europeia.

Apesar de sua prisão, Öcalan continuou a exercer considerável influência sobre seu partido e ainda é visto pelos curdos como uma figura popular e influente.

Fatores regionais que levaram à decisão de dissolução

Os analistas sugerem que os recentes acontecimentos geopolíticos contribuíram para a decisão do PKK de se dissolver e se desarmar. Depois que o ex-presidente sírio Bashar al-Assad foi derrubado em dezembro de 2024, o Hay’at Tahrir al-Sham (HTS), que é apoiado pela Turquia, assumiu o controle do país. Isso, por sua vez, tornou o PKK mais vulnerável aos ataques das forças turcas e de seus aliados na Síria.

A situação ficou mais difícil para o partido depois que as Forças Democráticas da Síria (SDF), lideradas pelos curdos, assinaram um acordo com o governo interino da Síria, liderado pelo HTS, para se integrarem às instituições do Estado. A SDF afirma que é independente do PKK, apesar de ser dominada pelas Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG), que a Turquia vê como uma ramificação do PKK.

Nos últimos meses, também houve avanço nas relações entre a Turquia e o Iraque, especialmente em termos de cooperação de segurança. Em reunião entre o presidente turco Recep Tayyip Erdoğan e o primeiro-ministro iraquiano Mohammed Shia al-Sudani na capital da Turquia, Ancara, no início de maio, Al-Sudani reiterou “a posição firme do Iraque” contra a permissão do uso de seu território no conflito entre a Turquia e o PKK.

Em outubro de 2024, o líder do Partido do Movimento Nacionalista (MHP) de extrema direita da Turquia, Devlet Bahçeli, sugeriu em declaração que Öcalan poderia receber liberdade condicional se “renunciasse à violência” e dissolvesse o grupo.

O MHP é visto como aliado de Erdoğan, que buscaria apoio do partido político pró-curdo da Turquia no parlamento para promulgar uma nova constituição que poderia permitir que ele concorresse a outro mandato presidencial.

A obtenção desse apoio tornou-se mais possível com a decisão de dissolução do PKK, que Erdoğan saudou na segunda-feira, chamando-a de “uma decisão importante para garantir a paz e a fraternidade” na Turquia.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.