Poeira e adoecimento: comunidade de Barão de Cocais (MG) denuncia impactos da mineração

Moradores da comunidade do Castro, na zona rural de Barão de Cocais, município da região central de Minas Gerais, denunciaram, na segunda-feira (12), os impactos da atividade minerária em seu território. 

O debate aconteceu em uma audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que reuniu representantes da população, parlamentares, órgãos ambientais e empresas do setor.

Segundo os relatos, os problemas se intensificaram com a instalação do Centro de Distribuição de Barão (CDB), construído há cerca de dois anos em uma área pertencente à mineradora Vale, mas usado também por outras empresas. Vagões, trens e caminhões carregados com minério passam diariamente pela comunidade, que é atravessada pela chamada “Via do Minério”.

A presidente da Associação do Castro, Iderlane Cristina da Conceição, contou que os moradores convivem com rachaduras em suas casas, barulho constante, poeira, restrição à circulação de animais e até escassez de água, com nascentes secando. 

“Nossas casas estão danificadas e perto de cair. Há laudos interditando moradias. Os animais são atropelados, as crianças adoecem por causa da poeira. Minha neta teve tantas infecções que precisei me mudar para Belo Horizonte”, desabafou.

A vice-presidente da associação, Glace Oliveira, vive no local há 22 anos. Ela afirmou que os transtornos antecedem a construção do CDB, mas se agravaram desde então. 

“Algumas casas ficam a menos de 200 metros do centro de distribuição. Não é possível dormir”, disse.

Comunidade quer medidas reparatórias

Moradores apresentaram uma série de demandas e cobraram contrapartidas. Entre os pedidos estão a criação de um centro comunitário com área de lazer, viaduto para atravessar com segurança a Via do Minério, espaço verde, acompanhamento psicológico, reforço escolar e capacitação profissional.

“Não somos contra a mineração. Mas queremos um equilíbrio para que a gente não tenha só perdas com a atividade”, afirmou Kátia Ferreira, tesoureira suplente da associação.

O operador de equipamentos da Vale e morador do Castro, Juliano do Nascimento, cobrou respeito e responsabilidade das empresas. 

“Precisamos de uma mineração sustentável. Uma mineração que não respeita as pessoas e o meio ambiente não é sustentável”, afirmou.

Todas as casas têm danos estruturais, diz Defesa Civil

A coordenadora da Defesa Civil Municipal de Barão de Cocais, Helena Batista, relatou que todas as casas da comunidade, novas ou antigas, apresentam rachaduras, trincas e problemas em tetos. Ela atribui os danos à passagem de máquinas pesadas durante as obras do CDB e ao tráfego constante de caminhões, cujos motoristas desrespeitam os limites de velocidade.

O deputado Lucas Lasmar (Rede), que solicitou a audiência, defendeu uma resposta coletiva envolvendo poder público, comunidade e mineradoras. Ele também sugeriu que parte da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem) recebida pelo município seja direcionada à comunidade.

Oito dos 11 vereadores da cidade participaram da audiência e manifestaram apoio aos moradores.

Empresas e órgãos ambientais dizem estar atuando

A chefe da Unidade Regional de Regularização Ambiental do Leste Mineiro, Lirriet de Freitas, informou, durante a audiência, que o licenciamento do CDB está em andamento e que o órgão ambiental impôs 18 condicionantes ao empreendimento, incluindo medidas de controle de ruído, poeira e trânsito.

A superintendente da Subsecretaria de Fiscalização Ambiental da Semad, Elisangela de Oliveira, disse que a secretaria responde a todas as denúncias recebidas. Já o coordenador do CDB Logística, Gustavo de Almeida, declarou que a empresa faz o monitoramento ambiental desde a fase de obras e está aberta ao diálogo.

Representando a Flapa Mineração, uma das empresas que atuam na região, o gerente jurídico Eduardo Pinheiro afirmou que a mineradora acompanhará as demandas da comunidade.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.