Com greve marcada, petroleiros reivindicam fim dos dividendos da Petrobras: ‘Precisa servir à sociedade’

A Petrobras aprovou recentemente a distribuição de R$ 11 bilhões em dividendos a seus acionistas. Para Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), esse montante é reflexo de uma política que precisa ser urgentemente revista. “Não iremos aceitar isso. A Petrobras não foi feita para distribuir dividendos para os seus acionistas. É uma empresa pública, controlada pela União e que precisa servir à sociedade brasileira cada vez mais”, afirmou, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta segunda-feira (19).

Bacelar reconhece avanços sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como a redução dos preços dos combustíveis e o aumento de investimentos, inclusive socioambientais. Mas critica a manutenção de uma lógica financeira que, segundo ele, prioriza acionistas, principalmente privados e estrangeiros, em detrimento de investimentos estruturantes e valorização dos trabalhadores. “Nós temos, nesse período de quase um ano, uma distribuição de dividendos de 153% do lucro líquido da empresa. Já fazíamos essa crítica no governo anterior, com dividendos de 104%. Agora é ainda pior”, apontou.

Segundo ele, a média internacional de distribuição de lucros entre petrolíferas é de 40%, o que torna os percentuais praticados pela Petrobras , acima do lucro líquido total, algo “inconcebível”. “Em vez desse valor estar indo para os acionistas da companhia, esse valor deveria ser revertido em investimentos ainda maiores aqui no Brasil”, defende.

Greve de advertência nos dias 29 e 30 de maio

A insatisfação dos petroleiros não se limita à política de dividendos. A FUP tem convocado assembleias em todo o país com indicativo de paralisação de dois dias, marcada para 29 e 30 de maio. O objetivo é pressionar a empresa a negociar pautas represadas com os trabalhadores.

“É uma greve de advertência para que a gestão da Petrobras possa se sentar à mesa e avançar nas negociações que estão travadas”, explicou Bacelar. Entre os pontos de reivindicação estão a revisão das regras de teletrabalho, a recomposição da remuneração variável, reduzida mesmo com os lucros bilionários da companhia, e a adoção de medidas urgentes para garantir a segurança nas operações da empresa.

“Não é admissível que a Petrobras, que teve o lucro líquido de R$ 35 bilhões somente nesse primeiro trimestre, e distribuiu R$ 11 bilhões para os acionistas, venha agora com a política de corte de custos, uma política de austeridade financeira, principalmente em cima dos trabalhadores e trabalhadores”, critica.

O dirigente destacou o caso recente de um acidente na plataforma Cherne 1, no Rio de Janeiro, onde, por pouco, não houve mortes. “Não podemos admitir que haja essa insegurança. […] Precisamos de mais gente trabalhando”, reivindicou. Segundo ele, o efetivo está defasado e há um concurso com cadastro de reserva ainda não utilizado.

Apesar do apoio ao governo Lula e à presidente da Petrobras Magda Chambriard, Bacelar ressalta a independência do sindicato: “Sindicato é sindicato, partido é partido e governo é governo”, pontuou. A FUP segue pressionando por mudanças que, segundo ele, colocariam a estatal a serviço do povo brasileiro. “Bom seria que ela fosse 100% pública e estatal, que todo dividendo fosse para a União, ou seja, para o povo brasileiro”, concluiu.

Retomar distribuidoras e rever privatizações

Bacelar também defende que a Petrobras retome sua atuação no setor de distribuição de combustíveis. Com a privatização da BR Distribuidora, hoje Vibra, em meio aos desmontes do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a estatal perdeu o controle da comercialização, o que, segundo ele, enfraquece o impacto das reduções dos preços feitas pela Petrobras nas refinarias.

“O consumidor não sente a redução porque as distribuidoras e redes de postos ampliam sua margem de lucro. A Petrobras já não utiliza o PPI [Preço de Paridade Internacional] desde maio de 2023, e mesmo assim a população continua pagando caro”, diz.

De acordo com Bacelar, a falta de uma empresa pública de distribuição e a ausência de fiscalização efetiva por parte da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) explicam por que os preços continuam altos nas bombas, mesmo com quedas no valor do barril de petróleo e nos preços repassados pela estatal.

Mudança na política de dividendos e recompra de ativos

A FUP pede que o governo, majoritário no Conselho de Administração da Petrobras, atue para mudar a política de distribuição de lucros. “Essa política foi mantida e ampliada. Não faz nenhum sentido ao nosso ver”, afirma Bacelar. Para ele, reduzir os percentuais pagos aos acionistas abriria margem para novos investimentos, inclusive para a recompra de ativos privatizados.

“A Petrobras precisa recomprar refinarias. Estou na Bahia agora e aqui pagamos o segundo combustível mais caro do país. Está mais do que na hora da Petrobras recomprar a refinaria Landulpho Alves. Isso ajudaria a reduzir preços, combater a inflação e fortalecer a indústria local”, defendeu.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

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