Movimento negro conquista mecanismo próprio para discussão racial na ONU

Após uma intensa articulação liderada pelo Geledés – Instituto da Mulher Negra, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a criação do Stakeholder Group de Afrodescendentes, um mecanismo inédito de participação da sociedade civil negra nos espaços multilaterais. A conquista histórica amplia o reconhecimento global da agenda racial como tema central para o desenvolvimento sustentável.

O novo grupo foi anunciado pelo Mecanismo de Coordenação dos Grandes Grupos e Demais Partes Interessadas da ONU (MGOS CM) e irá integrar os chamados Major Groups and other stakeholders, espaços oficiais de interlocução entre a sociedade civil e os organismos internacionais, estabelecidos desde a Rio-92. Com isso, a pauta racial passa a ter um canal próprio nas discussões de alto nível da ONU, como o Fórum Político de Alto Nível (HLPF) e a Assembleia Geral.

A aprovação do mecanismo é resultado de uma mobilização iniciada publicamente em setembro de 2023, durante o evento Não há desenvolvimento sustentável sem enfrentar o racismo, em Nova York, nos Estados Unidos. Desde então, o Geledés articulou organizações negras de diversas regiões do mundo para pressionar pela criação do grupo.

“A conquista desse mecanismo de participação da sociedade civil é um marco histórico. A agenda de desenvolvimento sustentável nunca contemplou de forma efetiva a questão racial. Garantir esse espaço agora é ampliar a participação da população afrodescendente e reconhecer o racismo como um entrave global ao desenvolvimento e à justiça climática”, afirma a socióloga Letícia Leobet, assessora internacional de Geledés.

A aprovação também contou com o apoio do Itamaraty, por meio da Coordenação de Desenvolvimento Sustentável, e com manifestações públicas do Ministério da Igualdade Racial, reconhecendo a importância do mecanismo.

O grupo de afrodescendentes se soma agora aos outros, oficialmente reconhecidos pela ONU, como mulheres, povos indígenas, juventude, LGBTQIA+, pessoas com deficiência e migrantes. A expectativa é que ele contribua com propostas, monitoramento e participação ativa na formulação de políticas públicas globais, fortalecendo a luta contra o racismo em escala planetária.

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