A corrida pela presidência nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) tem ganhado destaque na cena política, refletindo mais do que uma simples disputa interna. Para o cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Paulo Niccoli Ramirez, o processo eleitoral dentro da legenda marca um ponto de inflexão crucial: a preparação para o cenário político da esquerda brasileira sem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como candidato.
“Essa será a eleição mais importante da história do PT”, afirma Ramirez em entrevista ao programa Conexão BdF, do Brasil de Fato. Segundo ele, a escolha do novo presidente do partido está diretamente ligada à sucessão de Lula e à manutenção da principal força política da esquerda no Brasil. “A sobrevivência do PT e, consequentemente, da esquerda brasileira passa por essa eleição”, diz.
“O próximo ano certamente será a última candidatura de Lula à presidência. Consequentemente, isso cria um vácuo político dentro do PT a respeito de quem vai ser o seu sucessor. Quem é a figura que terá a mesma capacidade de articular diferentes camadas da sociedade brasileira, diferentes segmentos, e inclusive, que tem um carisma, um poder de diálogo com diferentes grupos da sociedade, inclusive a oposição?”, questiona.
Mesmo com rusgas entre alas internas, Ramirez enxerga esse debate como parte da vitalidade do partido. “O PT faz isso muito bem: mantém um forte diálogo interno”. Mas agora, ele afirma que “é preciso que o PT não pense apenas na eleição do próximo ano e no próximo presidente do seu partido, mas também no futuro da esquerda no país”.
Citado como favorito, o ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva tem defendido esse mesmo diagnóstico: é preciso preparar o terreno para a próxima geração de lideranças. “O Brasil, assim como o mundo, carece de renovação política. A força do PT depende disso”, completa o professor.
A corrida interna conta com quatro candidaturas: Rui Falcão, Romênio Pereira, Valter Pomar e Edinho Silva. O atual vice-presidente da legenda, Washington Quaquá, prefeito de Maricá (RJ), havia se lançado como pré-candidato, mas acabou desistindo. A eleição para a presidência nacional do PT está marcada para o dia 6 de julho e deve mobilizar cerca de 1,3 milhão de filiados.
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