Imagens de câmeras corporais divulgadas nesta sexta-feira (23) revelam que policiais militares de São Paulo apontaram o equipamento para uma parede para plantar uma arma ao lado de um jovem de 18 anos morto por eles na zona leste da capital. Os registros provam que os agentes mentiram no boletim de ocorrência (BO).
O assassinato de Gabriel Ferreira Messias da Silva – que, baleado e desarmado no chão, implora por sua vida – aconteceu em novembro de 2024. Os dois PMs estão afastados temporariamente do cargo.
O vídeo da câmera corporal do sargento Ivo Florentino dos Santos mostra que o disparo contra Gabriel, que andava de moto na esquina das ruas Belém Santos e Colônia Leopoldina, na Vila Císper, é feito de dentro da viatura.
No BO, os policiais dizem que “após cair [da moto], o indivíduo levantou e sacou uma arma de fogo”. As imagens mostram que não. Caído, Gabriel responde que a moto não é roubada e afirma: “Sou trabalhador, senhor. Para que fazer isso comigo, meu Deus? Me ajuda, por favor”.
Em seguida, um dos policiais orienta o outro: “Vira, vira, vira”. A câmera é, então, apontada para uma parede. Em relatório, a Defensoria Pública alega que houve uma tentativa de desviar a captação das imagens. Elas flagram, no entanto, um dos policiais chutando uma arma no chão, para que fique próxima ao corpo de Gabriel. Os vídeos foram exibidos no jornal SP1, da TV Globo.
No documento encaminhado ao Ministério Público, a Defensoria ressalta que nenhuma arma além da dos próprios policiais aparece nos vídeos e pede um afastamento cautelar dos agentes. Ainda segundo o órgão, em 68% das ocorrências gravadas por câmeras corporais da polícia paulista há obstáculos para constatar o que de fato aconteceu.
A mãe de Gabriel, jovem que trabalhava como entregador de aplicativo, é recepcionista do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil. É ali que, agora, a morte investigada é a do seu filho.
O caso de Gabriel, junto a outras execuções cometidas por PMs em São Paulo, vêm à tona pouco depois de o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) vencer uma das disputas judiciais envolvendo as câmeras corporais. Em 8 de maio, o Supremo Tribunal Federal (STF) homologou um acordo que permite que as câmeras da Polícia Militar de São Paulo não façam gravação ininterrupta.
A Polícia Civil investiga a morte de Gabriel sob sigilo.